Eu, Leitora

Por Kizzy Bortolo, Colaboração para Marie Claire

“Marcel e eu sempre tivemos uma família padrão. Casados havia 15 anos, frequentávamos a igreja com nossas filhas, Sara e Isabela -- hoje com 15 e 10 anos --, tudo dentro do que a sociedade acredita ser o ideal. Fazer ménage, troca de casal ou qualquer atividade do tipo nem passava pela nossa cabeça. Marcel era o primeiro e único relacionamento da minha vida e isso não me incomodava em nada. Pelo contrário, vivíamos muito bem.

Eu trabalhava no terceiro setor e estava procurando uma assistente social para contratar, quando conheci Regiane. Na entrevista para o emprego, me contou que tinha perdido o pai havia pouco e que a mãe estava internada em outra cidade, muito doente. Divorciada, vivia então com o irmão mais novo, Reginaldo, que criava como filho. Articulada e esperta, me pareceu a melhor opção para o trabalho. A vaga era dela.

Mal começou na empresa, pegamos intimidade. Para além do trabalho, gostávamos de conversar, saíamos juntas. Apesar de eu ser sua chefe, viramos amigas. A relação se fortaleceu ainda mais quando, seis meses depois de nos conhecermos, ela perdeu a mãe. Vivi todos os momentos do luto, de tristeza e desamparo, a seu lado. Cada vez mais da família, seu irmão adorava estar em nossa casa e minhas filhas logo a adotaram como tia. Como meu marido estava sempre fora, no início os dois não eram muito ligados. Se tratavam com respeito, claro, sem intimidade porém.

Como passávamos os dias grudadas, quando não estava a seu lado sentia saudade. E, aos poucos, fui me dando conta que o que sentia por ela era mais do que amizade. Era difícil de admitir, mas estava me apaixonando por Regiane. O sentimento foi crescendo e me corroendo. Era muito bem casada, evangélica – religião que considera pecado o sexo entre duas mulheres – e, até onde sabia, Regiane era heterossexual. Além disso, pensava em como seria para as minhas filhas verem a mãe em um relacionamento lésbico.

Durante um ano lutei contra essa situação. Sofria calada, tentando me livrar da paixão que não parava de crescer. Cheguei a pensar que estava possuída por algum espírito maligno. Pedia muito a Deus que tirasse de mim e do meu coração aquele sentimento. Só que, a cada dia que passava, me sentia mais e mais envolvida. Não conseguia pensar em outra coisa. Dormia e acordava me imaginando beijando Regiane e perguntando como resolveria esse turbilhão que havia dentro de mim. No meio dessa confusão, ainda havia outra coisa que não conseguia entender: em nem um minuto eu havia deixado de amar e desejar Marcel. Só podia estar enlouquecendo.

Depois de tanto tempo lutando sozinha contra esse sentimento, passei a ter crises de ansiedade cada vez mais fortes. Resolvi então parar de lutar contra o que sentia e comecei a lançar indiretas para Regiane. Mas ela se fazia de desentendida e logo entendi que não conseguiria nada. Estava tão obcecada que, no meu aniversário de casamento daquele ano, tomei coragem e sugeri a Marcel que comemorássemos com um ménage. Achava que, quando experimentasse fazer sexo com uma mulher, perceberia que aquilo realmente não era a minha. E mais: quando visse meu marido com outra, o ciúme me afastaria dessa ideia louca que eu achava ser amor.

Marcelo topou de cara. Só não sabíamos onde, naquela cidade do interior paulista, encontraríamos uma festinha liberal para transar a três. Aquela era a minha chance de incluir Regiane na história. Como estava divorciada havia algum tempo, perguntei se ela conhecia um local para realizar nosso desejo.

Ela ficou indignada. Disse que achava muito perigoso e que, dependendo da pessoa que entrasse na relação, poderia destruir não só meu casamento, mas nossa amizade. Botou tantos empecilhos que acabei desistindo da ideia.

Um mês depois, seu irmão convidou Marcel e eu para a sua formatura. Não me esqueço dessa data: 14 de dezembro de 2018. Acabada a cerimônia, Regiane, Marcel, uma amiga em comum e eu resolvemos esticar o programa em uma balada conhecida na cidade vizinha. Foi ali, com a música alta, entre uma bebida e outra, que a euforia bateu e, no banheiro feminino, saiu o primeiro beijo -- e que beijo!

Cheia de culpa, saí correndo em direção ao meu marido e contei tudo de uma vez. Surpreso, ele disse que tínhamos bebido demais – o que era verdade -- e que era melhor irmos todos embora. O combinado era deixar Regiane em casa, mas concordamos que, depois de tanta bebida, era mais seguro que ela dormisse com a gente. A acomodamos então no quarto ao lado do nosso e Marcel, no meio da noite, sugeriu que a chamássemos para deitar em nossa cama.

A noite foi linda, intensa, mágica. E o que era para ser uma simples aventura, começou a tomar forma. Entre viagens e saídas escondidas a três, nosso amor começou a nascer e, quando menos esperávamos, estávamos completamente apaixonados por nosso trio. No início, Marcel e eu tínhamos dificuldade de entender esse sentimento compartilhado. Mas, após alguns meses, quando percebemos que realmente existia uma enorme conexão entre nós e um amor havia surgido, resolvemos assumir nossa relação publicamente.

Claro que nem tudo foram flores, nunca será. Nem todos compreenderam e respeitaram nossos sentimentos. Mas muitos nos apoiaram e torceram pela nossa felicidade.

Contamos também para as nossas filhas e para o irmão da Re, que era a nossa maior preocupação. Eles não só aceitaram como ficaram felizes em imaginar que tinham duas mães e um pai. Nos mudamos então para Bragança Paulista, no estado de São Paulo, e um ano depois decidimos ter mais um filho juntos. Os três.

Como Marcel havia feito vasectomia e Regiane sonhava engravidar, fizemos uma fertilização com o material genético dos dois que deu certo na primeira tentativa. Marcel e eu decidimos então assinar nosso divórcio. Por dois motivos: o primeiro era que queríamos que todos ficássemos iguais na relação para não parecer que a Re era nossa amante, já que Marcel e eu éramos casados no civil. Depois, porque um homem só pode doar material genético para a esposa ou estando em uma união estável -- o que também foi resolvido.

Muitos perguntam o que senti quando tive que me divorciar para que Regiane pudesse realizar o sonho de ser mãe. Minha resposta é sempre a mesma: 'Para mim, o que importa é a vida real, nosso dia a dia. União civil é só um papel'.

Acompanhamos juntos todos os passos da gestação de nosso filho. Fizemos, os três, ensaios de fotos, chá de bebê e fomos juntos a todas as consultas de pré-natal. Conseguimos também que a Santa Casa da nossa cidade permitisse a presença de dois acompanhantes na sala de parto.

Nosso filho, Pierre, nasceu em 16 de abril de 2022, enchendo a nossa casa de alegria.

Há quatro anos moramos juntos e vivemos uma relação linda, de muito amor e respeito. Dividimos o mesmo teto, a mesma cama, as despesas da casa e a educação de nossos quatro filhos. Regiane, Marcel e eu dormimos em um quarto com nosso bebê; nossas filhas, em um segundo; e Reginaldo, em outro. Em breve, vamos para um imóvel de quatro quartos para acomodar melhor nossa família.

Muitos tem curiosidade de saber como é nossa cama. Para essa pergunta, também tenho resposta: 'Ela mede 2 x 2 metros. É enorme, como nosso amor'.”

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