Ponto de vista

Por Mika Lins

Quando ouvi o termo ageless e seu significado original pela primeira vez, há cerca de 15 anos, achei tão bacana. Ageless, me explicaram, quer dizer que você não tem idade, é atemporal. Uma maneira bonita de pararmos de catalogar as pessoas pela idade, sobretudo as mulheres , as maiores vítimas do medo do envelhecimento e do etarismo.

Recentemente, venho percebendo que o termo, agora apropriado pela indústria de cosméticos, da moda , do lifestyle e pela publicidade, vem sendo totalmente deturpado. Estamos nós, mulheres, mais uma vez, sendo enquadradas. Determinadas por regras dessas indústrias devemos ser ageless, magras, com músculos, com rugas inaparentes, ativas, usando não sei quantos cremes . Ou seja, com cara de jovem, nunca aparentando a idade que temos, o famoso "você tá bem para sua idade".

Fenômeno parecido ocorre com mulheres que têm que estar de barriga chapada três meses depois de terem filhos ou, pior ainda, grávida com uma minibarriga.

É sabido que, nos dias de hoje, nós, mulheres e homens economicamente privilegiados, viveremos mais, seremos por mais tempo produtivos. Como queremos viver essa segunda metade da vida? Numa agonia constante contra os efeitos do amadurecimento da pele?

Fazer exercícios é fundamental para manter corpo e a cognição ativos, mas essa loucura com o rosto e essa obsessão são horríveis e angustiantes para qualquer um.

Foi pensando nisso que propus despretensiosamente uma brincadeira no meu Instagram (@mikalinz). Depois de fazer uma foto minha PB, não me achar bonita e me deparar mais uma vez com as mudanças no meu rosto, pensei: "Cara, eu envelheço. E eu não sou nem quero ser ageless".

Eu tenho 57 anos, meus cabelos estão ficando brancos e acho bem bonito. Com o rosto a mudança é mais impactante. Você perde a simetria do olhar, as pálpebras caem, nasce uma papadinha, e o contorno do rosto fica menos marcado. Antes, fazer uma fotografia era simples. Agora, para me achar bonita, são várias tentativas até gostar de uma.

Mas o que é se gostar em uma foto? É se achar jovem.

Como é então que se descobre beleza nessa mudança? Tentar desenvolver uma postura wabi -sabi, o conceito japonês que valora a imperfeição e as marcas do tempo nos objetos, em relação ao nosso próprio corpo?

O caminho é descobrir uma outra camada de beleza que aparece com o envelhecer. Aparece, e eu vou descobrindo todo dia em mim, no Sergio Glasberg , meu marido, nas minhas amigas de geração. Sempre ser curioso em relação ao mundo que dividimos agora com gente de todas as idades por um bom tempo --se tudo der certo, e a gente ficar por aqui um bom tempo mais.

A dubladora Tania Viana, 57 anos, também entrou na brincadeira — Foto: Reprodução/Instagram
A dubladora Tania Viana, 57 anos, também entrou na brincadeira — Foto: Reprodução/Instagram

Quero receber a maturidade com espanto e alegria, não quero viver o sofrimento de me olhar no espelho diariamente me armando para lutar contra a inexorabilidade do envelhecimento.

Acompanho perplexa como algumas mulheres e alguns homens ficam destruídos por harmonizações faciais, excessos de botox e preenchimentos em busca de uma aparência de juventude, ficando irreconhecíveis e, ironia do destino, parecendo até mais velhos do que de verdade são. Não sou contra procedimentos estéticos, a gente é livre para fazer o que quer --sabe-se lá até se um dia também não vou fazer algum. A minha questão é essa corrida perdida já na saída contra as marcas deixadas pelo passar dos anos, a dificuldade de viver, aceitar e desfrutar o tempo presente.

Depois de postar minha foto PB , sem filtro de embelezamento e com a minha idade na legenda, um mundo de gente topou o jogo. Durante três dias, repostei as fotos no meu Instagram, que ficou coberto de retratos em preto e branco de rostos de gente que conheço pessoalmente e outros que não, de pessoas famosas e anônimas, das mais variadas profissões, todas querendo se orgulhar de ter a idade que têm.

* Mika Lins , 57 anos e 51 dias, é atriz e encenadora teatral . Entre seus trabalhos recentes estão "Pos F", de Fernanda Young, e "Playbecket", pelo qual é idicada ao APCA. Desde a pandemia, tem dado o curso "Ler em Voz Alta", nos intervalos de direções teatrais. Aprontando desde 2010 no Instagram.

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