Violência de Gênero

Por Mariana Gonzalez, em Colaboração Para Marie Claire

Há exatos dez anos, em 8 de março de 2013, Bruno Fernandes de Souza, o goleiro Bruno, foi condenado em júri popular a 22 anos e três meses de prisão por ter sequestrado, matado e ocultado o corpo da ex-namorada e mãe de seu filho, Eliza Samudio. Menos de um ano depois, no entanto, ele assinou contrato com o Montes Claros Futebol Clube, do interior de Minas Gerais, apenas um dos cinco clubes que o contrataram para jogar depois da condenação.

Além do Montes Claros, quando Bruno ainda estava em regime fechado, o goleiro foi contratado após receber um habeas corpus, em 2017, pelo Boa Esporte Clube, o Poços de Caldas, o Rio Branco e o Atlético Carioca. Nenhum dos times fazia parte da primeira divisão, mas em todos eles o atleta fechou bons salários e foi recebido com festa.

Depois da morte de Eliza Samudio, foram denunciados por crimes contra a mulher atletas do primeiro escalão do futebol brasileiro como Jean Paulo, Robinho e Daniel Alves; antes, nomes como Marcelinho Paraíba e o treinador Cuca, condenado por estupro de vulnerável em caso que teria ocorrido na década de 1980.

Embora o caso do goleiro Bruno tenha sido um marco, os desdobramentos do crime pouco ajudaram a remexer o cenário do esporte no que diz respeito à violência de gênero, que dez anos depois segue sendo um terreno fértil para o cometimento de crimes contra mulheres.

“Esse crime mostra que há um total desprezo com relação à dignidade, à integridade e à vida das mulheres. É uma mensagem de desprezo e impunidade – não só penal, porque ele sofreu uma impunidade penal, mas uma impunidade social”, critica a advogada Isabela Del Monde, sócia da Gema Consultoria em Equidade e associada ao MeToo Brasil.

'O futebol detesta as mulheres'

A comentarista de futebol Milly Lacombe, que acompanha o tema há mais de duas décadas e se dedica também a discutir questões de gênero nesse universo, é categórica ao afirmar que o futebol é um esporte que detesta as mulheres.

Para ela, o caso do goleiro Bruno diz muito sobre como a sociedade trata as mulheres, mas especialmente sobre como, no futebol – um “microcosmos de uma heteronormatividade agressiva e dominante” e que “pinta o machismo com cores mais fortes”– esse tratamento é ainda mais violento.

“A investigação foi rápida, não houve dúvidas da participação do Bruno e não havia nenhum tipo de atenuante. Ainda assim, ao sair da prisão, ele é cortejado para jogar de novo. Essa é a realidade da violência contra a mulher no futebol brasileiro”, ela observa.

Milly ainda afirma que, diferente do que entende o senso comum, a torcida do futebol não é mais formada majoritariamente por homens: “Entende-se isso porque a voz que vem das arquibancadas é masculina e homens vão mais ao estádio porque esse é um lugar hostil para as mulheres, mas a gente também torce, também ama, – mas ama um esporte que detesta a gente”, desabafa.

Milly define sua própria relação com o futebol, esporte que “a toma de arrebate", como conflituosa: “Vejo muita beleza em um jogo, na torcida que grita, que canta, que sofre, mas há uma reforma a ser feita e acredito que ela vai acontecer. Se eu achasse que não dá para mudar, já tinha desistido”.

De volta aos holofotes

Mas, se a ideia da sentença e da punição a um criminoso é reformá-lo para que retorne à sociedade, qual é o problema de Bruno retomar suas atividades no futebol?

Essa é uma pergunta comum nas redes sociais ou caixas de comentários de portais de notícias sempre que uma publicação é crítica ao retorno de Bruno a uma posição de destaque em clubes de futebol. A resposta está justamente nesse detalhe: o destaque. Ou melhor, a volta não a uma atividade laboral qualquer, mas aos holofotes de um esporte que serve de inspiração para muitos brasileiros, especialmente crianças.

Tanto Isabela Del Monde quanto Milly Lacombe defendem que todo cidadão tem direito a retornar à sociedade após cumprir pena; a questão, para ambas, é o retorno de Bruno – e outros nomes do futebol acusados de crimes contra mulheres, como Jean, Robinho e Cuca – ao posto de ídolo.

“A gente quer como exemplo um homem que mata mulheres?”, questiona a advogada.

“Não há na sentença do Bruno uma vedação de que ele retorne às atividades futebolísticas, portanto é um direito dele tentar voltar, mas o futebol tem que se perguntar: é ético que esse homem que matou de forma brutal uma mulher tenha notoriedade pública? Retorne para espaço de ídolo, que influencia pessoas, cujas ações influenciam pessoas?”, continua.

Isabela traça um paralelo com outros crimes de grande repercussão, mas que foram cometidos por mulheres, como Suzane von Richthofen, condenada por assassinar os pais em 2002, e Elize Matsunaga, condenada por matar o marido em 2012, ambas em regime aberto.

“São duas mulheres que cumpriram suas penas e não retornaram para um status de vida similar ao que tinham antes de cometer seus crimes, porque foram para postos de trabalho mais precarizados, mas quando sai qualquer notícia sobre elas, são achincalhadas, como se fosse um absurdo estarem trabalhando", fala.

“Enquanto isso, Bruno matou Eliza e depois do cumprimento da pena volta para a mesma profissão, sem sofrer nenhum tipo de consequência entre seus pares. A mensagem que se passa é que mulher não vale nada. Pode matar, sumir com o corpo, que seu lugar quando você voltar está garantido”, acrescenta.

Caso Daniel Alves pode ser divisor de águas

Milly Lacombe não é totalmente pessimista e acredita que, nos últimos dez anos desde a condenação do goleiro Bruno, as denuncias de crimes contra as mulheres no futebol foram se tornando mais frequentes à medida que o movimento feminista se tornava mais robusto. “As coisas não estão mudando com a rapidez que deveriam, mas estão”, diz.

Para ela, o caso Daniel Alves – preso em dezembro após ter sido denunciado por estupro em uma casa noturna de Barcelona – tem potencial para ser um divisor de águas na forma como tratamos crimes contra a mulher no futebol brasileiro.

Primeiro em razão do protocolo “No Callen”, que vigora desde 2018 em Barcelona e assegura que uma série de provas fundamentais de um possível crime sejam preservadas, segundo em razão de a vítima não ter mostrado o rosto e nem solicitado indenização em dinheiro – "embora ela tivesse todo o direito, alguns homens precisam ouvir falar que não quer dinheiro para considerar acreditar”, fala Milly.

E completa: “Um rolo feminista foi passando até o caso Daniel Alves, que tem muitos indícios, não tem como defender e, por isso, será um marco na luta em defesa das mulheres no futebol”.

“Apesar da evolução legislativa e do aumento do debate público sobre discriminação de gênero, a cultura do machismo no mundo do futebol persiste praticamente intacta, nesta década que separa a condenação do goleiro Bruno pelo assassinato de Eliza Samúdio do caso Daniel Alves. Há pouquíssima ou nenhuma mobilização masculina pelo fim da violência contra as mulheres, é como se a questão simplesmente não lhes dissesse respeito”, afirma Silvia Chackian, Promotora de Justiça do MPSP, mestre em direito penal e autora de “A Construção dos Direitos das Mulheres" e “Crimes contra Mulheres”.

O jogador Pedrinho, do São Paulo, é um dos mais recentes atletas do futebol denunciados: no último dia 27, sua namorada Amanda Nunes registrou um boletim de ocorrência contra ele por violência doméstica; segundo contou à polícia, ele a teria agredido com socos e tapas, além de ter feito ameaças.

Pedro segue treinando normalmente no São Paulo, mas após o caso se tornar público o clube emitiu uma nota dizendo que acompanha as investigações e que "jamais compactuará com qualquer tipo de agressão contra mulher".

Há dois anos, o clube argentino Vélez Sarsfield foi o primeiro do mundo a incluir uma cláusula contra a violência doméstica no contrato de trabalho com um jogador: Ricardo Centurión, que à altura de sua contratação tinha histórico de tentativa de suborno a um agente de trânsito e acusações de agressão à ex-namorada, Melissa Tozzi, que o denunciou por violência doméstica em 2017.

O clube foi precursor ao criar um Departamento de Violência de Gênero – a princípio, o grupo foi contra a contratação de Centurión justamente por seu histórico de agressão à mulher, mas encontrou a solução negociando com a diretoria a inclusão do termo, que permite a rescisão do contrato em caso de envolvimento em episódios de violência de gênero, abuso ou discriminação.

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