Marcela Mc Gowan

Sempre me sinto em conflito quando alguém me pede para definir um orgasmo. Eu conheço de cor a definição médica : um pico transitório de prazer sexual intenso acompanhado de contrações rítmicas e involuntárias da musculatura do aparelho genital.

Mas, sinceramente, ela é muito simplista para resumir esse fenômeno tão intenso e almejado. Orgasmos são sempre uma experiência vivida de maneira muito única e peculiar por cada pessoa.

Eu já vi descrições como : “uma explosão de cores” , “estar em uma montanha-russa em alta velocidade”, “meu corpo derretendo lentamente”, entre outras.

Em resumo, o orgasmo é uma liberação súbita e involuntária de uma tensão sexual que vamos acumulando durante a excitação. Ou seja, os estímulos que recebemos fazem com que o prazer vá crescendo, crescendo e se acumulando até chegar a um pico máximo, quando uma onda de bem-estar se espalha pelo corpo. Isso pode acontecer em intensidades diferentes, dependendo de vários fatores, e pode ser um orgasmo curto e rápido, ou mais intenso e prolongado. Todos são válidos, o que importa é o resultado final ser prazeroso.

Como tudo o que diz respeito à sexualidade, o orgasmo também é um assunto tabu, sobre o qual pouco se fala, o que acaba deixando muitas mulheres na dúvida se chegaram lá, como fazer para chegar, além da perpetuação de muita desinformação e mitos sobre o tema. Hoje, vamos quebrar alguns deles e desmitificar de vez, o tal do orgasmo!

Mito 1 - ORGASMO E PRAZER SÃO A MESMA COISA

O prazer é uma percepção pessoal de uma sensação agradável e positiva mediada por hormônios que atuam no cérebro promovendo bem-estar. É também algo subjetivo: o que pode ser prazeroso para você pode não ser para mim , assim como um estímulo pode ser prazeroso em uma situação e desconfortável em outra.

Já o orgasmo tem um conceito mais objetivo. Ele é uma reação fisiológica dos nossos corpos. Mesmo que a percepção dele seja diferente para cada pessoa, o que acontece no corpo não muda.

É muito comum confundir os dois, no entanto, é importante distingui-los por dois motivos:

1. É possível ter prazer sem ter orgasmos: uma relação sexual pode ser extremamente prazeirosa e desencadear muitas sensações agradáveis e de realização, mesmo quando não termina em orgasmo.

2. É possível ter orgasmos sem prazer: existem orgasmos em situações não sexuais —como durante o sono ou ao realizar atividades físicas— e, em alguns casos, até mesmo em situações desagradáveis, como nas ocorrências de abuso sexual. Isso acontece porque, às vezes, apenas a estimulação física é suficiente para provocar uma resposta fisiológica involuntária de orgasmo, mesmo em situações em que não há excitação nem desejo físico ou psicológico.

Se você já passou por algo parecido, uma situação de orgasmo indesejado, não se culpe! Nosso corpo recebe estímulos voluntários e involuntários de muitos tipos, e, por vezes, há reações sobre as quais não temos controle. Isso não significa que você gostou da situação.

Mito 2- TODA RELAÇÃO TEM QUE SER ORGÁSTICA

É claro que orgasmo é bom, mas ele não precisa ser o único objetivo de uma relação sexual. Muitas vezes, o sexo pode ser extremamente prazeroso sem necessariamente acabar em orgasmo. Intimidade, conexão com a parceira ou o parceiro —ou com mais de uma ou um— e troca de afetos podem ser outros ganhos muito positivos de uma relação sexual.

Tudo vai depender do que você está buscando naquele momento. Orgasmos não deveriam ser raridade, mas também não precisamos estipular uma obrigatoriedade de acontecer todas as vezes. Até porque uma cobrança assim pode te afastar mais do que te aproximar das chances de gozar.

Mito 3 - EXISTE UM ORGASMO VAGINAL

Outro grande mito acerca de diferentes orgasmos são os chamados “orgasmo clitoriano” e “orgasmo vaginal”. Apesar de bem difundida, essa história não passa de uma invenção masculina moderna que nasceu em 1905 com Sigmund Freud, o famoso pai da psicanálise.

Para Freud, o orgasmo clitoriano era o orgasmo da mulher jovem e imatura. O psicanalista defendia que, assim que se tornasse moça e conhecesse o sexo masculino, o interesse pelo clitóris seria substituído pelo desejo ardente de ser penetrada. De acordo com ele, mulheres de verdade tinham orgasmos vaginais, e não clitorianos. E mais: para ele, mulheres que sentissem prazer ao tocar o clitóris ou não atingissem o orgasmo na penetração, deveriam procurar um terapeuta com urgência porque certamente sofriam de uma condição chamada frigidez.

Freud foi (e ainda é) um homem influente, e sua teoria ganhou muitos adeptos, o que diluiu a importância do clitóris, diminuindo, inclusive, estudos sobre essa preciosa região anatômica e fazendo com que ela fosse esquecida por décadas.

Não há diferença entre 'orgasmo clitoriano' e 'orgasmo vaginal', como acreditava Freud — Foto: Pexels
Não há diferença entre 'orgasmo clitoriano' e 'orgasmo vaginal', como acreditava Freud — Foto: Pexels

Hoje, sabemos que não há diferença entre “orgasmo clitoriano” e “orgasmo vaginal”. Descobertas recentes mostram que o clitóris é um órgão grande, muito maior do que o botãozinho visível do lado externo, e que se distribui internamente, espalhando-se pela vulva, ao redor da uretra e da entrada da vagina. Tais partes internas também podem ser estimuladas indiretamente em pontos da vulva e da vagina.

Existem nervos que conectam o clitóris ao cérebro e que atuam como os principais reguladores do orgasmo feminino. Ao estimular o clitóris de maneira direta ou indireta, esses impulsos nervosos são levados ao cérebro por diferentes vias de acesso. As sensações podem ser experimentadas de maneiras diferentes, justamente por existirem muitos trajetos para os impulsos nervosos do prazer. Ou seja: os chamados orgasmos vaginais são, na verdade, orgasmos por estímulos indiretos do clitóris.

E isso nos leva ao nosso próximo mito, talvez um dos que mais confundem as mulheres.

Mito 4 - PENETRAÇÃO É A CHAVE PARA O ORGASMO

Ainda hoje, séculos depois, Freud nos deixou uma herança: a ideia da “hierarquia de orgasmos”, em que aquele provocado pela penetração vaginal seria o mais especial e importante. É muito comum o relato de mulheres que pensam que têm algo de errado consigo por não conseguirem gozar ao ser penetradas e se sentem mal por precisar da ajuda de dedos ou da língua no processo.

Na realidade, para as mulheres, a penetração é uma maneira bastante incomum de atingir o orgasmo. Estima-se que menos de um terço das mulheres cis goze regularmente com penetração. O canal vaginal tem poucas terminações nervosas (com exceção do comecinho), e isso significa que é uma região pouco sensível. Por isso conseguimos usar absorventes internos e coletores, por exemplo.

Sendo assim, alguns estudiosos acreditam que —mesmo para mulheres que gozam na penetração— o clitóris é o grande protagonista. Nesse caso, o tamanho e a localização fariam diferença. Um clitóris maior e que se aproxime mais da entrada da vagina, por exemplo, facilitaria o orgasmo, porque seria estimulado em suas partes externas e internas pela penetração.

É uma questão básica de anatomia. Encarar o orgasmo com penetração como algo superior não faz o menor sentido e não passa de uma herança de informações erradas baseadas em conceitos machistas, já que os homens dominaram, por muito tempo, as pesquisas sobre a sexualidade feminina e os discursos públicos sobre sexo.

Em vez de continuarmos propagando essa ideia errada, que tal ampliarmos o repertório do sexo incluindo mais práticas além da penetração? Ou, ainda, que tal investirmos no estímulo direto ou indireto do clitóris durante a penetração para aumentar nossas chances de prazer?

Mito 5 - EM UMA RELAÇÃO, AS PESSOAS DEVEM TER ORGASMOS AO MESMO TEMPO

O orgasmo simultâneo é um grande mito reforçado com frequência em filmes e novelas, naquelas cenas em que duas pessoas transando acabam chegando ao ápice juntas em poucos minutos.

Na vida real, sabemos que isso raramente acontece. Esse mito provavelmente se originou do fato de que, geralmente, o orgasmo masculino é considerado o marcador final das transas, e quase nunca vemos retratado um sexo que segue acontecendo após a ejaculação do pênis.

Essa foi a mensagem internalizada e, como as mulheres ainda estão aprendendo sobre seu prazer —e sobre como ele funciona para além da penetração—, criou-se a ideia da sincronicidade e de que haveria algo de muito errado caso ela não acontecesse.

Mas devemos lembrar que cada orgasmo é um processo muito único e particular, e dificilmente será possível sincronizar tempo e estímulos para que ambos gozem juntos. Algumas pessoas precisam de mais tempo do que outras para se excitar e chegar ao clímax. Um estímulo que pode estar funcionando muito bem para um, pode não estar causando o mesmo efeito no outro, e a preocupação com o prazer do outro pode ser um fator de distração na hora de gozar.

Portanto, embora não seja impossível, o orgasmo simultâneo não é tão simples e natural quanto os filmes fazem parecer. Forçar essa ideia acaba gerando uma pressão desnecessária que, às vezes, incentiva as mulheres a fingirem orgasmos. O ideal é respeitar as individualidades, o tempo e as preferências de cada pessoa para que todos os envolvidos saiam satisfeitos da relação.

Mito 6 - É NORMAL FINGIR ORGASMO

Não é normal, mas é bastante comum, e as razões para fingir são variados. O cansaço e o desejo de que a relação acabe logo estão no topo dos motivos, mas também há quem finja somente para aumentar a excitação do(a) parceiro(a). Tem, ainda, quem queira agradar ou não ferir a autoestima da outra pessoa e até quem sinta medo de parecer “ruim de cama” ou carregue a insegurança de que não vai chegar lá.

Acontece que, quando fingimos, estamos tirando nossa chance de realmente chegar ao orgasmo. Estamos deixando o outro acreditar que aquilo é o que nos agrada, diminuindo a chance de acertar nos estímulos —além de prejudicando nossa saúde sexual, pois o sexo pode acabar se tornando uma obrigação e, no futuro, isso pode impactar até o desejo.

Resumindo, fingir mostra que, em geral, estamos mais preocupadas com a nossa performance ou com agradar o outro do que com o nosso prazer.

Mito 7 - MULHERES NÃO TÊM EJACULAÇÃO

A ejaculação feminina, conhecida também como squirting, não é nenhuma novidade. Na verdade, há mais de 2.000 anos já existiam relatos sobre esse fenômeno.

Algumas mulheres liberam um líquido, sim, quando estimuladas. A quantidade pode variar, mas cuidado com as versões distorcidas encontradas nos filmes pornográficos, em que o squirting é representado por mulheres que jorram verdadeiros jatos de líquido da sua vagina. Isso é, na verdade, um truque em que um líquido é introduzido nas partes íntimas para simular um jato superintenso. É nada mais do que uma performance montada para impressionar o espectador. Em geral, a quantidade é menor e pode acontecer em forma de “esguicho”.

Mulheres liberam um líquido quando são estimuladas sexualmente — Foto: Pexels
Mulheres liberam um líquido quando são estimuladas sexualmente — Foto: Pexels

A ciência ainda precisa de mais explicações sobre esse fenômeno, como por exemplo, o que compõe o líquido. O que sabemos é que ele é liberado por um par de glândulas que fica localizado na vulva, bem próximo à uretra, chamado glândulas de Skene. Sabemos que ejaculação não é xixi, uma preocupação muito frequente das mulheres.

Também não é a mesma coisa que lubrificação. São fluidos diferentes, produzidos em locais diferentes e com funções distintas. A lubrificação é produzida nas glândulas de Bartholin, localizadas próximas à entrada da vagina, enquanto a ejaculação feminina é produzida nas glândulas de Skene. O líquido da lubrificação costuma ser mais espesso e ter cheiro mais característico de genital, enquanto o da ejaculação é fluido, transparente e sem cheiro. A lubrificação é produzida durante a excitação e tem como função facilitar as práticas sexuais, enquanto a ejaculação, aparentemente, costuma ocorrer quando há necessidade de relaxamento e resfriamento do corpo.

Não se sabe se todos os corpos com vulva são capazes de ejacular. Conforme alguns estudos, isso dependeria da presença e do tamanho das glândulas.

O importante é saber que ejacular é normal, e não ejacular também é normal. Então, se a ejaculação vier, não há motivo para constrangimento e, se não acontecer, isso não faz de você alguém menos potente sexualmente. Afinal, é possível ter orgasmos inesquecíveis e não ejacular.

E, para finalizar nossa coluna desta semana, vale relembrar que um dos maiores mitos acerca do orgasmo é que ele é responsabilidade do outro. Terceirizar nosso prazer é o caminho mais curto para a frustração.

É claro que é essencial que as pessoas com quem nos envolvemos estejam dispostas a nos estimular e se preocupem com o nosso prazer. Porém, antes de tudo, precisamos ser especialistas em nós mesmas. Conhecer nosso corpo, saber o que nos dá prazer e saber comunicar isso na cama vai multiplicar (muito!) as chances de chegar lá! Sozinha e/ou acompanhada.

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