• Redação Marie Claire
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Tiffany Dufu, autora do livro “Drop de Ball”  (Foto: Divulgação)

Tiffany Dufu, autora do livro “Drop de Ball” (Foto: Divulgação)

“O dia em que eu voltei a trabalhar depois de ter me tornado mãe foi o mesmo em que eu me dei conta de que questões políticas eram também pessoais, e que as regras da minha vida doméstica precisavam mudar. Naquela manhã, eu estava animada. Tinha um casamento feliz, consegui meu emprego dos sonhos, encontrei uma creche confiável e ainda negociei um espaço no escritório onde poderia tirar o meu leite de tempos em tempos. Não seria fácil coordenar maternidade, carreira e casamento, mas era possível, e eu estava pronta.

Seis horas depois, me vi ajoelhada no chão do banheiro feminino, aos prantos, deixando escorrer o meu leite dentro do vaso sanitário. Presa nas exigências do meu trabalho, esqueci completamente dos meus seios, até que eles ficaram tão cheios, que não conseguia mais fazê-los caber no aparelho de sucção. A solução era correr para a privada. De repente, tudo parecia muito mais assustador.

Eu pensava que se eu não conseguia nem me lembrar de tirar meu leite, quais outras bolas deixaria cair? Como faria as compras? Como iria preparar as refeições? Como lavaria as roupas? Como faria para manter meu relacionamento? E como encontraria tempo para fazer coisas que realmente me importam, como ler um bom livro?

Naquela noite, depois de amamentar meu bebê e colocá-lo para dormir, enquanto eu soluçava com o rosto afundado no travesseiro, ouvi meu marido chegar em casa do escritório. O escutei trombando com cesto de roupas limpas que eu havia coletado, deixando os sapatos no corredor, abrindo a geladeira, pegando a refeição que eu tinha deixado pronta pra ele e deixando pratos e talheres na pia depois de comer. Logo em seguida, ele afundou no sofá e ligou a TV.

Naquele momento, percebi que para conseguir dar conta do malabarismo que o trabalho e a maternidade exigia, teria que soltar uma das bolinhas – e ele precisaria pegá-la. Eu e Kojo estávamos casados há oito anos. Eu fazia tudo que minha mãe fizera em casa, e também trabalhava. Mas chegou um momento em que já não era mais possível – eu sentia um certo ressentimento, porque nós dois tínhamos tido um bebê, mas isso só afetava uma das carreiras, a minha. Estávamos seguindo pela mesma estrada, mas de alguma forma ele conseguiu contornar o acidente de carro no qual agora eu estava me envolvendo.

Quando parei para pensar em tudo isso, percebi que estava apenas cumprindo os papeis que eram esperados de mim. Por conta da maneira como fui criada – em uma casa tradicional em Seattle, com uma mãe do lar e um pai que trabalhava fora -, eu tinha ideias profundamente arraigadas sobre o que constituía ser uma ‘boa’ mãe – isso para não mencionar uma boa esposa e uma boa funcionária. Agora, era hora de repensar essas definições todas.

Era uma pílula amarga de engolir, porque eu era uma mulher autoconfiante, empoderada e estava admitindo que grande parte do meu comportamento havia sido condicionada por outras pessoas. Eu não estava no controle da minha própria vida: em público, eu era uma feminista firme, mas na vida particular, eu era uma esposa ligada no piloto automático.

Decidi então olhar de maneira longa e dura para mim mesma e descobrir quais eram as minhas prioridades. Muitas dizem que são seus filhos, seu casamento e sua carreira – mas é necessário ser mais precisa do que isso.

Descobri que as coisas que realmente me importavam eram criar uma parceria saudável com o meu marido, criar meus filhos para serem cidadãos responsáveis e melhorar a vida de mulheres e meninas [parte de seu trabalho como escritora].

A partir de então, minha vida se tornou mais fácil. Fui capaz de olhar para o meu tempo e minhas tarefas, e identificar o que realmente importava e o que podia seguir sendo feito. Meu momento de luz foi compreender que tudo aquilo que ela não conseguia fazer poderia ser descartado – que meu marido ou qualquer outra pessoa da minha família ou comunidade poderia pegar as bolinhas que eu fosse deixando de lado ou então que a tarefa poderia de fato ser negligenciada.

Eu redefini as regras sobre o que ser uma boa mãe realmente significava. E dessa forma, me senti mais confiante para identificar o que realmente importa e o que definitivamente não tem importância.

Uma das grandes lições que aprendi agindo assim foi que quando eu largava uma bolinha e meu companheiro a pegava, eu precisava deixá-lo pegá-la da maneira como ele achasse melhor. Ou seja, quando eu declinava de uma tarefa e ele a assumia, eu precisava deixá-lo executá-la a sua maneira. Quando ele juntava roupas para levar à lavanderia, optava pelo serviço de delivery. E eu só conseguia pensar no por que nunca me dei conta de que eles retiravam as roupas em casa. Quando ele cozinhava, comíamos frango todas as noites, por uma semana.

Enquanto estava em Londres, lançando meu livro, ele ficou responsável por levar as crianças, um menino de 10 anos e uma menina de 8, à escola todas as manhãs. E sabe o que ele fazia? Acordava os dois e dizia que ambos tinham 45 minutos para estar prontos na porta de casa, de café tomado e com o lanche pronto na lancheira. Isso nunca me aconteceu. Eu jamais percebi que nossos filhos poderiam preparar sua própria comida – eu fazia isso pra eles todos os dias.

Por isso, reforço no meu livro que as mães deveriam esperar muito menos de si mesmas, e mais de seus companheiros. Eu estava sofrendo da ‘síndrome do controle domiciliar’ – enquanto desprezava a ideia de que lugar de mulher era em casa, me concentrava obsessivamente em administrá-la e organizá-la da maneira como eu achava que as coisas deveriam ser feitas. E o que eu percebo hoje é que isso se tornou uma barreira para o meu marido se envolver nas tarefas – e assim melhorar não só a vida familiar, como também a ideia das crianças sobre o que cada um deveria fazer dentro de casa.

Entre as minhas estratégicas estavam transferir as táticas aprendidas no escritório para a vida doméstica: algumas mulheres são boas em fazer apenas o contrário, transferir suas habilidades de organização da casa para o local de trabalho. Por isso, criei uma planilha e coloquei nela todas as tarefas familiares. Ao lado de cada uma, inclui três colunas: ‘Tiffany’, ‘Kojo’ e ‘ninguém’. Quando ele viu a lista, acrescentou uma séria de coisas que eu havia esquecido, como organizar as férias da família, resolver problemas de tecnologia e regar o jardim – todas realizadas exclusivamente por ele, das quais eu nem lembrava.

Isso contribuiu significativamente para reduzir o risco de ressentimento, assim como conseguir que meu marido fizesse mais. E assim eu consegui mais tempo estratégico para dedicar à minha carreira. Resultado? Desde que comecei a passar a bola adiante, fui promovida no trabalho e escrevi um livro. Agora, acredito que qualquer pessoas conseguirá fazer mais da sua vida se primeiro descobrir o que realmente importa para ela e depois esperar mais das outras ao seu redor.”