• Maria Laura Neves
Atualizado em
Show de rock (Foto: Thinkstock)

Eu, leitora: “Vivi um romance com um roqueiro famoso” (Foto: Thinkstock)

"No mês de setembro de 2009, uma banda escocesa de que gosto muito veio fazer um show para convidados em São Paulo. Minha irmã, que mora em Londres há cinco anos, conhece todas as bandas do Reino Unido. Ela conseguiu uma entrada para esse show exclusivo, em uma casa noturna badalada da capital. Adorei tudo. Tinha muita gente bonita e interessante no lugar e o show foi incrível, energizante. Quando acabou, minha irmã foi conversar com um amigo da equipe técnica da banda. Ele disse para esperarmos um pouco que queria levar a gente para uma festa que estava rolando no backstage com todo o pessoal da produção e os músicos, claro.

Fiquei empolgada. Dali alguns minutos, ele apareceu e nos levou para trás do palco. Lá estavam todos os integrantes da banda, muitos homens, poucas mulheres e bastante bebida. Logo nos primeiros minutos que eu estava lá, um cara bem bonito e com toda pinta de inglês começou a me olhar. Ele era alto, tinha a pele clarinha, os olhos azuis e o cabelo castanho claro. Apesar de o ter achado interessante, estava um pouco tímida e não tive coragem de retribuir os olhares. Dali a alguns minutos, aquele amigo que nos tinha convidado para essa festinha apareceu nos chamando para outra balada depois dali. O cara que estava me olhando chegou perto de mim e disse: ‘Vocês vão, né?’. Eu não sabia quem ele era. Assenti com a cabeça. Quando ele se afastou, minha irmã falou que era um dos músicos da banda. Não conseguia acreditar que estava sendo xavecada por um astro do rock.

A festa era no apartamento de uma amiga brasileira, na região dos Jardins. Quando entramos no prédio e ficamos esperando no hall do elevador, o músico me abraçou pelas costas. Levei um susto. Achei esquisito, mas não reagi. Eu tinha achado ele fofo e estava a fim de dar uns beijos nele. Dentro do elevador cheio, ele começou a pegar na minha mão. Já na festa, propus fazer uns drinques para os músicos. Quando perguntei ao músico de olhos azuis o que queria beber, ele respondeu: ‘O mesmo que você’. Voltei com um copo de energético com vodca e começamos a conversar. Ele perguntou o que eu fazia, disse que era jornalista e ele brincou que eu estava muito bem-vestida para uma jornalista. Depois de alguns minutos de conversa, falou para irmos para a varanda. Respondi que lá estava muito cheio e sugeri que fôssemos dar uma volta na rua. Ele topou.

Quando entramos no elevador, fui para um canto e ele para outro. A distância durou frações de segundos. Ele me agarrou ali mesmo e apertou o botão do último andar. Fomos para a escada do prédio. Estávamos os dois eufóricos. Começamos a nos beijar com energia e acabamos transando ali mesmo. Ele gozou umas quatro vezes e eu também tive mais de um orgasmo. O sexo foi incrível. Quando entramos no elevador, eram 1h58 da manhã. Saímos de lá às 7 h. Estávamos felizes, parecíamos apaixonados. Pegamos um táxi que me levaria para casa e o deixaria no hotel.

No caminho, liguei para minha irmã que estava preocupada com o meu sumiço. Ela sabia que eu tinha saído acompanhada de um músico, mas não sabia para onde. Quando atendeu o telefone, falou de cara: ‘Nati, você sabia que ele é casado e a mulher dele está esperando no hotel?’. Eu não conseguia acreditar. Olhava para ele boquiaberta, não podia ser verdade. Até que vi a aliança na mão esquerda. Fiquei triste, é claro. Mas a excitação do momento era maior do que aquela frustração. Desde o início, eu sabia que aquilo não passaria de uma grande aventura. Nos despedimos dizendo que precisávamos descansar.

Tomei um banho e fui direto para o trabalho. Estava em êxtase. A primeira coisa que fiz quando cheguei ao escritório foi “googlar” o nome dele. Não parecia real. Eu tinha passado a melhor noite da minha vida com um popstar muito gatinho. Ele pareceu ter adorado também. Naquela noite, a banda teria outra apresentação em uma festa da MTV, que assisti pela televisão. Ele estava bem-disposto e sem nenhum sinal de cansaço.

A vinda deles para o Brasil também foi para anunciar uma turnê sul-americana em março do ano seguinte. Nesse meio tempo, fiz uma busca profunda na vida dele. Descobri que era mesmo casado com uma amiga de infância. Ela não é muito benquista pelos fãs por causa da fama de antipática. Comecei a sentir ciúme quando entrava em listas de discussão e lia comentários das fãs dizendo que ele era lindo, que seu bumbum era uma delícia. Seis meses passaram rapidinho e logo era março, o mês em que a banda voltaria para o Brasil.

Pedi uma folga no trabalho, comprei passagens para shows da turnê de março, em Porto Alegre e no Rio. Saí supercedo de São Paulo, peguei o primeiro voo para Porto Alegre, cheguei à fila dos ingressos com a minha mala de viagem. Fazia um calor escaldante. Estava ansiosa: será que ele se lembraria de mim? Fiquei mais de 12 horas na fila e consegui pegar um lugar na grade, na frente dele. Quando a banda entrou no palco, ele me viu e me reconheceu. Deu um sorriso lindo e fez alguns gestos com a guitarra para mim. Fiquei louca! O show acabou e encontrei aquele amigo que me levou ao backstage no show de São Paulo. Gentilmente, ele me convidou para ir a uma festa nos bastidores novamente.

Assim que entrei no espaço reservado, vi o meu músico escocês vestido em um terno, lindo. Os outros integrantes da banda já tinham ido embora, ele estava sozinho, arrumando as coisas para partir. Quando me viu, abriu um sorriso e se aproximou. Fiquei com vergonha. Comecei a pensar o quanto eu era maluca de estar ali. Fiquei com medo de ele achar que eu era uma obcecada, uma perseguidora, e ficasse com bode de mim. Mas foi supersimpático. Até mais do que isso. Pedi para tirarmos uma foto juntos. Ele me abraçou com força e colocou a boca pertinho da minha. Na sequência, falou que estava a caminho do hotel, pois viajaria cedo para o Rio Janeiro.

Quase não dormi de tanta ansiedade e na madrugada fui para o aeroporto rumo ao Rio. O show era naquele mesmo dia. Consegui novamente pegar um lugar na grade, bem na frente do palco. Quando ele entrou, me viu e começou a dar risada. Reparei que estava sem aliança. O show foi maravilhoso, era aniversário do vocalista, os fãs tinham levado bexigas, a energia era contagiante. Meu ingresso dava direito à festinha privativa depois do show. Quando chegamos nessa baladinha, quase não havia fãs. As luzes se apagaram e cantamos parabéns para o vocalista. Quando se acenderam, não vi meu músico por lá. Fiquei tensa, embora eu gostasse da banda, minha maior motivação era vê-lo. Mas a agonia durou minutos, até ele aparecer de banho tomado, todo cheiroso. Assim que me viu, caminhou na minha direção. De novo, senti vergonha de ser tiete.

O vocalista disse que queria ir para uma balada ‘bem suja’ quando saíssemos dali. Fiz uma pesquisa com minhas amigas cariocas e sugeri um lugar que toca rock’n’roll na Lapa. Saímos na van deles. Ele segurou minha mão durante todo o percurso. Quando chegamos à discoteca, os frequentadores ficaram enlouquecidos. Ninguém esperava a presença deles lá. Os donos da balada abriram um espaço reservado para que a banda pudesse curtir a noite sem o assédio dos fãs. Como eu estava com eles, subimos todos a esse lugar privativo. A pista lá embaixo estava mais animada, então eu e meu escocês decidimos descer para dançar.

Lá embaixo, fomos para o meio da pista e ele me deu um superbeijo na frente de todo mundo. Enquanto nos beijávamos pude perceber que os fãs tiravam fotos pela luz dos flashes. Imaginei que ele estava solteiro porque não estava se importando nem um pouco com o público. Nos abraçamos, nos beijamos, ficamos conversando de mãos dadas. Pela nossa intimidade, acharam que eu era namorada dele. Foi lindo. Mágico. Incrível. O momento durou alguns minutos, porque logo as fãs começaram a pedir autógrafos e uma delas até tentou beijá-lo na boca. Ele se esquivou e eu fiquei possessa, mas ele logo veio ao meu encontro.

Nunca tínhamos trocado uma palavra sobre o fato de ele ser casado. Quando me dei conta do assédio, chamei-o a um canto e perguntei se não tinha problema ficarmos em público. Ele fez uma careta e respondeu que sim, infelizmente havia problema sim. Sugeri que fôssemos dançar em outro lugar. Ele disse que queria ir para o hotel, onde se hospedara sozinho. Convenci ele a ir para outra balada. Fomos caminhando pela Lapa, às 4 h da manhã. As ruas estavam cheias, fazia calor, o clima estava incrível. Parávamos o tempo todo para nos beijar. Ele me beijava inteira. Parecia um sonho. Até que comecei a ficar preocupada. Sou paulista, não conheço bem o Rio e ele era gringo. Não sabia se estávamos correndo risco de ser assaltados e sugeri que fossemos dançar no hotel. Ele aceitou na hora, claro. E disse coisas muito gostosas nesse passeio. Falou que gostava de mim, que queria estar ali, que queria ficar comigo e que tudo estava muito bom. E me abraçou várias vezes com força. Pegamos um táxi para o hotel no Leblon. No caminho, ele falou que lembrava daquela noite em São Paulo e que, de tempos em tempos, as cenas voltavam a sua memória. Fiquei maravilhada. A noite não tinha sido especial apenas para mim.

Chegamos ao hotel por volta das cinco da madrugada. Fiquei envergonhada na recepção. Entrei com os cabelos cobrindo o rosto, mexendo no celular para não ser reconhecida. A vista do quarto era sensacional. Fiquei paralisada vendo o mar. Coloquei uma música do espanhol Paco de Lucía que ele não conhecia e tomamos banho juntos. Transamos várias vezes, com muito tesão e ousadia. Dessa vez com camisinha. Ficamos juntos até as 5 h da tarde. A banda já tinha saído para o aniversário do vocalista e ele estava atrasado. Havia fãs na porta do hotel esperando para pedir um autógrafo para ele. Combinamos de descer separados. Ele pediu meu telefone. Guardou na agenda do celular e ligou para confirmar se tinha anotado certo. Anotei o celular dele também. Ele saiu e, depois de alguns minutos, eu desci. Enquanto fiquei sozinha no quarto dele, arrumei as roupas e a mala dele. Queria fazer um agradinho.

A turnê terminava em São Paulo, onde moro. Eu já tinha meu ingresso para o show, claro. Um pouco antes de começar, encontrei um amigo da equipe técnica da banda, que garantiu me colocar na festinha privativa de novo. Quando cheguei lá, meu músico escocês estava quietinho, em um canto. Falou que tinha pegado uma virose em Brasília e estava cansado. Não ia para nenhuma festa aquela noite porque precisava descansar. Também foi a primeira vez que falou que era casado. ‘Hoje está mais complicado’, completou. ‘Mas tenho seu telefone’. Entendi o recado e fui embora. Não fiquei arrasada, apenas um pouquinho triste. Desde o começo, eu sabia que aquele seria o desfecho do nosso romance.

Mandei uma mensagem de texto no dia seguinte dizendo que tinha adorado a estada da banda no Brasil e pedi ‘desculpas por qualquer coisa’. Ele respondeu que também tinha adorado a passagem por aqui, pediu desculpas por estar doente naquela noite e escreveu que eu não tinha de pedir desculpas por nada. Fiquei feliz. Nas fotos que tiraram dele depois da turnê, vi que ele voltou a usar aliança. Outro dia, entrei no canal de músicas dele no YouTube e vi que a única música que ele tinha ‘curtido’ era aquela do Paco de Lucía que eu apresentei no hotel no Rio. Não sei se é uma mensagem para mim. Minhas amigas dizem que é. Estou namorando um argentino há três meses, por quem sou apaixonada. Mas não vou negar que sinto algo muito forte por esse roqueiro. Gostaria que ele soubesse que captei a mensagem virtual e guardo com muito carinho as lembranças dessa paixão impossível.”

Relato dado à Marie Claire em 2011