Comportamento

Por Renata Corrêa, Colaboração para Marie Claire


Éramos 15 mulheres apertadas num apartamento pequeno e abafado na Zona Sul do Rio de Janeiro. Tinha vinho num isopor com gelo e sanduichinhos na mesa.

As vozes se interpunham, o debate esquentava e os filhos, todos entre 6 e 7 anos, corriam colocando em risco qualquer objeto que estivesse no caminho.

Obras da artista Bruna Alcântara  — Foto: Divulgação
Obras da artista Bruna Alcântara — Foto: Divulgação

Depois de intensas negociações, um consenso começou a se desenhar e todas pudemos começar a relaxar: a festinha de formatura da educação infantil não seria mais em uma casa de festas caríssima – como foi sugerido antes por um grupo de pais – e sim feita, colaborativamente, em um play cedido por uma das mães.

Parece bobagem, mas a decisão sobre onde seria a festa e quanto custaria se tornou o ápice de um conflito velado entre as mães daquela escolinha alternativa. Entre quem dava lanche industrializado e quem mandava fruta; entre quem tinha babá e as que tinham largado as carreiras para se dedicar à criação das crianças; entre quem dava Barbie para as meninas e quem deixava os meninos pintarem as unhas. A resolução desse conflito se tornou essencial para que muitas de nós reforçassem a identidade materna como a mais correta.

A maioria de nós, mães daquelas crianças, éramos mulheres de classe média, com alto nível de escolaridade, renda própria e mais ou menos letradas na cartilha feminista. Millennials que viram a ascensão das redes sociais e o poder dessas redes para dar voz a questões silenciadas da experiência feminina no mundo, como assédio, diferença salarial, violência doméstica, divisão sexual do trabalho.

Porém, o mito da maternidade continuava intacto e mais forte do que nunca. Ser uma boa mãe e microgerenciar a vida de nossos filhos parecia ser o pedágio a ser pago para podermos alcançar outros objetivos. Essa premissa é perigosamente falsa, e também uma armadilha. É falsa porque a busca por uma maternidade perfeita não dá espaço para outras paixões. E é armadilha, pois para muitas também há prazer envolvido em exercer esse papel – e me incluo entre elas.

Vivemos em uma sociedade que divide mulheres em categorias rígidas: santa e puta, para casar e para transar, mães e não mães. Quando parimos ou recebemos nossos filhos depois de um processo de adoção, somos empurradas para um lado desse campo. Mães não gozam, afinal. São as santas.

Aquelas que abrem mão da libido ou usam essa energia de forma domesticada controlam essa força invencível para exercer uma maternidade dentro dos moldes. É uma tarefa tão impossível ser a mãe perfeita que muitas de nós mobilizamos uma das forças mais poderosas do mundo para exercê-la e ainda assim falhamos. Pois é da natureza da maternidade falhar. Nesse contexto é impossível ter espaço para o gozo. O caminho que leva até ele está bloqueado.

Tudo isso porque existem tão poucos espaços de vitórias para mulheres que podemos facilmente nos agarrar naqueles que nos recompensam minimamente. Para nós, o acesso a lugares de poder são dificultados. Esses estão destinados aos homens. A mamãe sabe tudo, pode tudo, mesmo porque a maioria dos homens lava as mãos na hora de exercer tarefas de cuidado.

A maternidade é o campo da excelência feminina, onde podemos reinar sozinhas. Ser uma mãe excelente é também ser reconhecida como uma mulher excelente. Mas para além da carreira e do reconhecimento público há um lugar de risco quando falamos de desejo e prazer.

Na nossa sociedade, o gozo e o prazer feminino são interditados. Sujos, proibidos. E de forma contraditória o tesão, o desejo, o sexo e o prazer que em primeiro lugar deram condições para essa criança vir ao mundo são excluídos de nossas vidas. E aqui não falo somente do gozo sexual, apesar de falar dele também, mas da possibilidade de existir como um ser humano integral. E a vida integral de uma mulher adulta tem orgasmos e contato íntimo com outras pessoas adultas.

E do que goza uma mulher para além da maternidade? Com jornadas exaustivas, abandono paterno e uma autoexigência extrema, talvez a gente sonhe mais com uma noite de sono de oito horas do que com uma de sexo; com uma deliciosa refeição sem interrupções em vez de um encontro com alguém interessante. Mais com um banho quente e solitário do que com uma viagem. Com um cigarro na varanda ao fim do dia em vez de um flerte num bar.

Bruna leva seu painel “Mums also cum” (mães também gozam) para os prédios de Portugal — Foto: Divulgação
Bruna leva seu painel “Mums also cum” (mães também gozam) para os prédios de Portugal — Foto: Divulgação

Coisas simples parecem impossíveis para quem é mãe, e o gozo fica na categoria de supérfluos inalcançáveis, o último item da lista de prioridades. Isso quando está na lista. E uma voz sussurra no seu cérebro: você tem um filho, tudo que uma mulher precisa para ser feliz. O que poderia querer mais?

E queremos. Apesar de todas as marés contrárias: o patriarcado que tenta esmagar nossa subjetividade, o capitalismo que nos rouba as horas, e para muitas também o etarismo, o capacitismo e o racismo que nos negam dimensão humana e nos retiram da lista de opções eróticas de outros homens e mulheres.

Não. A maternidade não é o suficiente para dizer quem somos nem pode ser a única fonte de prazer da vida de mulheres com filhos. E não, não estou dizendo que cuidar das nossas crianças não é digno ou importante. Apenas que essa atividade não é a totalidade da nossa identidade. Por mais que a sociedade insista que ter filhos pode suprir todas as necessidades do nosso corpo, espírito e coração. A experiência da maternidade para as mulheres que a desejam deveria ser mais um elemento de uma trajetória existencial feliz, e não algo tão esmagador que tornaria todas as outras experiências de vida desimportantes.

É comum ouvir das mulheres que depois da maternidade seus antigos prazeres se tornaram luxos. E gozar não deveria ser luxo. O desafio está em como abrir brechas para que o gozo tenha espaço. Para algumas mulheres esse pode ser um processo lento de autoconhecimento, com apoio para que a maternidade se assente na rotina. Para outras, vai ser conquistado com gritos e lágrimas.

Mas, mais importante do que como será feito, é entender que é necessário abrir mão da ideia de que depois da maternidade a vida das mulheres deve seguir apenas um modelo de renúncia. E então refundar a maternidade para que não seja um quarto fechado, e sim mais um dos rios que escolhemos navegar.

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