Comportamento

Por Juliana Picanço, Redação Marie Claire — São Paulo

A sexualização precoce da mulher é um problema social alimentado por diversos fatores. Pressionada principalmente pela mídia e alimentada por influências culturais, a problemática se potencializou ao longo dos anos, especialmente com o aumento crescente das influências das redes sociais.

Meninas são bombardeadas, desde cedo, por imagens e mensagens que reforçam os padrões de beleza e estereótipos de gênero, o que as incentiva, de alguma forma, a se encaixar em determinado ideal de feminilidade, que muitas vezes é centrado na aparência física e na sexualidade.

“As redes sociais funcionam também como vitrines: dispõem conteúdos diversos e seus interlocutores, produtores de conteúdo, são classificados como digitais influencers. As crianças e adolescentes observam e percebem que aquilo é entendido socialmente como descolado, os corpos e as performances obedecem ao que a sociedade classifica como belo, interessante, e não raramente vão alimentar o desejo de ser igual. Buscarão alguma forma de aceitação, pois querem ser também avaliadas e vistas daquela forma”, explica a socióloga e doutora em Ciências Sociais, Annagesse Feitosa.

Esses ideais podem ser reforçados por meio de brinquedos, roupas, propagandas e até mesmo por comentários e atitudes de pessoas ao redor, o que acaba moldando a forma como as meninas veem a si mesmas. “A moda e a publicidade atendem aos interesses capitalistas e isso tem total relação com a comercialização de imagens, ideias, conceitos, entre outros, mas também com introjeção de padrões de comportamentos e costumes através do consumo”, complementa.

A exposição a imagens sexualizadas de mulheres em programas de TV, revistas e principalmente nas redes sociais, em que a aparência e a sexualidade são muito reforçadas, faz com que meninas e mulheres sejam vistas principalmente como objetos sexuais. Este movimento influencia a construção da identidade das jovens, reforçando a ideia de que sua aparência física e seu apelo sexual são os atributos mais importantes para alcançar aceitação e sucesso social.

“A mídia e a indústria do entretenimento desempenham um papel importante ao associar a atratividade física e a sexualidade feminina ao sucesso social”, explica a psicóloga comportamental, Nathalia de Paula. “Normas de gênero baseadas em estereótipos sexuais reforçam expectativas sobre o comportamento e a aparência das mulheres, enquanto as pressões sociais e as expectativas impostas desde cedo podem levar a problemas de autoestima e ansiedade. É importante promover uma representação mais diversa e realista das mulheres na mídia, desafiar estereótipos de gênero e valorizar as conquistas individuais, a fim de combater a sexualização precoce”, complementa.

A sexualização precoce impacta na vida das mulheres de várias formas: baixa autoestima, distorção da imagem corporal, desenvolvimento de transtornos alimentares, ansiedade e depressão. As meninas que são sexualizadas desde cedo têm maior probabilidade de enfrentar pressões para se envolverem em comportamentos sexuais precoces, o que pode resultar em consequências negativas para sua saúde física e emocional.

“Quando crianças e pré-adolescentes consomem produtos culturais que são sexualizados, como letras de músicas e danças com movimentos sexuais, isso se torna parte do cotidiano e passa a ser considerado algo comum. Isso ocorre antes mesmo de estarem cientes de seus corpos, desejos e emoções, despertando uma curiosidade precoce em relação ao sexo”, explica a psicóloga.

“As redes sociais desempenham um papel importante na amplificação dessa sexualização precoce. Por meio dessas plataformas, as meninas são expostas a imagens e conteúdos sexualizados, frequentemente promovidos como padrões de beleza e aceitação. Isso pode levar a uma constante comparação social, sentimentos de inadequação e a busca por validação por meio de autopromoção sexualizada. Além disso, as redes sociais podem facilitar a disseminação de bullying, assédio e pressões relacionadas à sexualidade”, Nathalia de Paula.

“Vale dizer que naturalmente reproduzimos os comportamentos com os quais temos contato diariamente. Assim, os nossos comportamentos enquanto responsáveis podem precisar de mudanças também”, reforça a socióloga Annagesse Feitosa. “Estamos inseridos em uma sociedade machista e reproduzimos esses comportamentos sem perceber. Às vezes, o problema não está na roupa e na indumentária do outro, mas em como enxergo aquilo. Precisamos também fazer uma autocrítica sobre como vemos o mundo”, complementa.

+ Primeira rainha bissexual assumida quer deixar legado: 'Até meu samba foi criticado'

As razões sociais que permitem e perpetuam a sexualização precoce são complexas e multifacetadas: incluem a persistência de normas de gênero patriarcais, que enaltecem a masculinidade e colocam as mulheres em uma posição subordinada; a falta de educação sexual adequada que aborde questões de consentimento, respeito e igualdade de gênero; a ausência de regulamentações adequadas para proteger as crianças e adolescentes da exploração sexual na mídia; e a resistência a uma mudança cultural que questione e combata a objetificação das mulheres.

Ao longo da história, as mulheres têm lutado por igualdade de gênero e pelo reconhecimento de seu papel fundamental na sociedade. No entanto, a sexualização da mulher representa um retrocesso nessa busca pela igualdade.

“Quando a mulher é reduzida a um mero objeto de desejo ou vista apenas como um corpo que deve satisfazer os desejos masculinos, ocorre uma desvalorização de sua inteligência, capacidades e contribuições intelectuais. Essa visão reducionista da mulher perpetua estereótipos de gênero e mina os avanços alcançados em termos de igualdade de direitos. Ao destacar exclusivamente a aparência física da mulher e enfatizar a importância de um corpo feminino atraente e bem torneado, o foco é desviado de suas habilidades, conhecimentos e realizações – reforçando uma cultura que coloca as mulheres em segundo plano, enfatizando sua função como objetos sexuais em vez de valorizar suas contribuições intelectuais, profissionais e sociais. Isso limita o potencial das mulheres, nega-lhes oportunidades de desenvolvimento pleno e perpetua a desigualdade de gênero”, explica Nathalia de Paula.

“A representação reducionista das mulheres como meros objetos sexuais tem efeitos prejudiciais, reforçando desigualdades de gênero e contribuindo para uma cultura de misoginia”, Nathalia de Paula.

A indústria musical, muitas vezes, também desempenha um papel significativo na sexualização da mulher desde jovem. Por meio de videoclipes, letras de músicas e performances artísticas, são disseminadas imagens e narrativas que associam a atratividade física e a sexualidade feminina à popularidade e ao sucesso na indústria da música.

“Muitos videoclipes e performances musicais apresentam mulheres de forma objetificada, utilizando roupas provocantes, coreografias sensuais e imagens sexualizadas. Essas representações reforçam estereótipos de gênero e criam expectativas irreais sobre como as mulheres devem se apresentar e se comportar para serem consideradas atraentes ou aceitas no contexto musical. Além disso, as letras de músicas também podem conter conteúdo sexualizado, retratando as mulheres como objetos de desejo ou reforçando estereótipos e papéis de gênero prejudiciais”, explica a psicóloga Nathalia de Paula.

“É importante analisar criticamente a influência da indústria musical na sexualização da mulher desde jovem e questionar a forma como as mulheres são retratadas e representadas nesse contexto. Promover maior diversidade e representatividade na música, valorizando a individualidade, o talento e o empoderamento feminino, pode ser uma maneira de desafiar esses padrões prejudiciais e promover uma visão mais saudável e respeitosa da sexualidade feminina”, complementa ela.

Um esforço conjunto da sociedade para combater a sexualização precoce é fundamental, especialmente por meio de uma educação sexual abrangente, que inclua discussões sobre consentimento, relações saudáveis e igualdade de gênero, além de uma maior responsabilidade por parte da mídia de retratar as mulheres de maneira mais diversa e realista, evitando a hipersexualização e promovendo modelos positivos de feminilidade.

“Também é fundamental que pais, educadores e a sociedade como um todo estejam atentos a esses efeitos negativos. É necessário promover uma conscientização sobre os impactos da hipersexualização precoce. Além disso, é importante estabelecer medidas de proteção nas redes sociais para garantir a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes, prevenindo o bullying e o assédio relacionados à sexualidade e o abuso infantil através da internet”, reforça Nathalia.

“Ao proteger a infância da sexualização precoce, estamos garantindo que as crianças tenham a oportunidade de explorar seu mundo de maneira segura, desenvolvendo relacionamentos saudáveis, habilidades emocionais e autoestima positiva. Isso permitirá que cresçam como adultos mais equilibrados e preparados para enfrentar os desafios futuros”, finaliza.

Mais recente Próxima ‘Mães não gozam; são santas’. Afinal, quando vamos derrubar essa ideia?
Mais do Marie Claire

Torres é sócia de cinco estabelecimentos na capital paulista incluindo A Casa do Porco

Janaina Torres, melhor chef mulher do mundo, se casa em São Paulo; veja o menu do casamento

Em conversa com Marie Claire, surfista conta como está trabalhando duro para construir sua própria carreira; ela também exalta a relação com Gabriel Medina e revela seus cuidados de beleza. Ela e o protetor solar formam uma dupla imbatível

Sophia Medina sobre comparações com o irmão, Gabriel: 'Quero escrever minha própria história'

Para a influenciadora digital Isabella Savaget, 22, o transtorno alimentar era uma forma também de se encaixar em um padrão social, uma vez que pessoas sem deficiência também podem ter a condição

'Com a anorexia nervosa, eu arrumei um jeito de ter controle de alguma parte de mim', diz jovem com paralisia cerebral'

Descubra como os perfumes para cabelo podem transformar a rotina de autocuidado. Reunimos 6 opções a partir de R$ 20 para deixar os fios perfumados e radiantes

Perfume para cabelo: 6 opções para deixar os fios mais cheirosos

Conheça 12 hidratantes faciais disponíveis no mercado de skincare, com fórmulas que oferecem desde hidratação profunda e combate a linhas finas até proteção contra danos ambientais, garantindo uma pele saudável e radiante.

Hidratantes Faciais: 12 opções para aprimorar a sua rotina de skincare e manter a sua pele radiante

De chapéu country a bota texana, lista reúne roupas e acessórios para quem deseja imprimir estilo durante os eventos. Preços variam de R$ 28 a R$ 258 em lojas online

Look country feminino: 7 opções para ter estilo e conforto nos rodeios

Nesta produção documental da Max, público assiste aos momentos pré e pós retomada do estilista no posto de criativo da marca Herchcovitch;Alexandre

Para assistir: documentário revisita carreira de Alexandre Herchcovitch e o retorno do estilista à própria marca

A maranhense Karoline Bezerra Maia, de 34 anos, é considerada a primeira quilombola a tomar posse como promotora de Justiça. A Marie Claire, ela conta sua história com o quilombo de Jutaí, onde seu pai nasceu e cresceu, além da sua trajetória no mundo da advocacia que a levou a desejar um cargo público

'Após passar por desafios financeiros e psicológicos ao prestar concursos, me tornei a primeira promotora quilombola do Brasil'

A dupla de acessórios trend do momento tem um "apoio" de peso, como das famosas Rihanna e Hailey Bieber, e tem tudo para ser a sua favorita nesta temporada; aprenda como produzir um look usando as peças

Disfarce ou estilo? Usar lenço com boné virou trend; aqui estão 6 combinações para te inspirar

Atriz falou sobre o que a motiva a manter o foco em rotina de exercícios físicos, entregou o que a fez a voltar às novelas após 6 anos afastada da TV e comentou semelhanças entre o Festival de Parintins e o Carnaval carioca em entrevista exclusiva a Marie Claire

Viviane Araújo avalia uso de Ozempic para perda de peso: 'Cada um busca sua forma física como acha melhor'