Mães e Filhos

Por Isadora Pacello, redação Marie Claire — São Paulo


Débora Maria da Silva — Foto: Mariana Marão
Débora Maria da Silva — Foto: Mariana Marão

Débora Maria da Silva, 63, amamentou simultaneamente seu irmão e seu primeiro filho, Edson. Mais tarde, teve outras duas filhas: Kely, hoje com 44 anos, e Katia, de 41. Em 2006, quando o primogênito tinha 29 anos, foi morto pela polícia num episódio conhecido como “Crimes de Maio” — uma suposta resposta do governo às ações do PCC. A partir daí, Débora deu início ao movimento Mães de Maio, tornando-se referência global.

“Fui mãe aos 17 anos, de surpresa. Foi meu primeiro e único filho homem, o Edson. Essa tatuagem que eu tenho é ele, ele amava pipa.

Foi uma gravidez conturbada, tive muita dor na bacia. Quando estava de nove meses, cerca de uma semana antes do parto, comecei a ter contrações. Ia muito ao hospital, e o médico me mandava voltar para casa. Eu chegava meio envergonhada. Você está esperando o filho durante nove meses, sentindo as dores do parto, e é mandada para casa com a bolsa da maternidade. É uma frustração voltar com aquela bolsa — nem levei nos partos das minhas filhas, achava que iam me mandar de volta para casa. No hospital, eles viam uma mulher negra e tentavam fazer com que ela sofresse.

Até que a bolsa estourou, e eles resolveram me internar. Mutilaram meu corpo na cesárea. Fiquei internada durante uns dez dias.

Descobri que minha mãe, que também estava grávida, tinha tido nenê uns dias antes de mim. Ela estava no quarto em frente ao meu, e estava muito mal, não conseguia amamentar. Então eu amamentei meu filho e meu irmão. O amor que tenho pelo meu irmão é o mesmo que eu tinha pelo meu filho.

O Edson morreu com 29 anos, no mês de maio. Acabou o dia das mães dentro da minha casa. Faço aniversário no dia 10 de maio, e ele nunca viu o dia das mães ser no meu aniversário. Depois que ele morreu, já caiu nessa data três ou quatro vezes.

Débora maria da Silva — Foto: Mariana Marão
Débora maria da Silva — Foto: Mariana Marão

Meus filhos eram pequenininhos quando eu descobri que tinha a potência do ativismo. O inquilino do meu pai morreu com uma bala perdida, e eu fiz uma mobilização na cidade.

Quando mataram meu filho, entrei numa depressão profunda. Ele trabalhava o dia inteiro, era gari à noite, e recebeu uma pena de morte. Cinco tiros. Eu tentava entender por que isso tinha acontecido com ele. E aí percebi que não tinha sido só com ele.

Eu não saía da cama, e meu filho apareceu para mim. Ele me sacudiu com raiva, disse: ‘Não quero te ver aqui. Não volto mais.’ Então eu saí em busca das outras mães que apareceram na mídia, que tinham perdido seus filhos.

Assim começou o Mães de Maio. O que eu quero é uma justiça negra e cega para os nossos filhos.”

Mátria Brasil — Foto: Mariana Marão
Mátria Brasil — Foto: Mariana Marão

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