Puerpério
 

Por Fernanda Tsuji


O puerpério é o período que se inicia imediatamente após o nascimento do bebê e é descrito por muitas mulheres como um turbilhão. É um momento de intensas transformações físicas, sociais e emocionais, o que pode torná-lo bastante desafiador. “É uma fase difícil, em que a mulher restabelece as suas condições pré-gravídicas, mas tem muita coisa acontecendo simultaneamente”, resume o obstetra Ricardo Porto Tedesco, membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Trata-se, portanto, de uma soma de fatores complexos. O corpo da mulher ainda está se recuperando do parto, podendo apresentar lacerações, sangramentos, dores e alterações hormonais. Adicione nesta equação as dificuldades iniciais da amamentação, a privação de sono e o cansaço devido à alta demanda nos cuidados com o bebê. É tudo novo e pode ser assustador!

Mãe com recém-nascido no colo depois de parto normal — Foto: Foto: Getty Images
Mãe com recém-nascido no colo depois de parto normal — Foto: Foto: Getty Images

Não é à toa que tudo isso afete a saúde mental da mulher, deixando-a mais vulnerável e abrindo caminho para o baby blues e a depressão pós-parto. Por todas essas razões, é essencial compreender o que é puerpério, estar ciente do que pode acontecer e apoiar a mulher nessa fase delicada. O obstetra Ricardo sugere que, para evitar surpresas, o ideal seria que a mãe discutisse sobre o pós-parto ainda durante o pré-natal, esclarecendo dúvidas com o médico que a acompanha ao longo da gestação e organizando a logística em casa junto com o parceiro ou parceira.

A seguir, listamos as principais dúvidas sobre o puerpério para ajudá-la a se preparar para esse momento que, sim, pode ser complicado, mas também repleto de beleza e de novas descobertas.

1. O que é o puerpério?

Puerpério é o período que se inicia imediatamente após o nascimento do bebê e vai até o retorno da menstruação. Nele, é esperado que o corpo da mãe se recupere das alterações vivenciadas durante a gravidez e restabeleça suas condições de antes da gestação. Além dos aspectos físicos, trata-se de uma fase de muitas adaptações à nova rotina e é natural que seja também emocionalmente intensa.

2. Quanto tempo dura?

Geralmente, o puerpério dura em torno de 42 dias ou 6 semanas após o nascimento do bebê. No entanto, a duração e a intensidade podem variar, de acordo com o tipo de parto, possíveis complicações e a saúde física e mental da mãe. É dividido pelos médicos em três fases:

  • Puerpério imediato: do 1º ao 10º dia do pós-parto;
  • Puerpério tardio: do 11º ao 42º dia do pós-parto;
  • Puerpério remoto: a partir do 43º dia do pós-parto até o restabelecimento do ciclo ovulatório, seguido da primeira menstruação.

3. Quais os principais sintomas físicos no puerpério?

Os sintomas podem variar, uma vez que dependem de inúmeros fatores relacionados à saúde da mulher, à gravidez e ao parto. Uma ocorrência esperada é o lóquio, sangramento vaginal característico do pós-parto, mas que não deve ser confundido com a menstruação. Composto por sangue, tecido uterino e muco cervical, a loquiação faz parte do processo de recuperação do útero. Costuma durar até seis semanas e apresenta diferentes colorações em cada fase do pós-parto, que vão desde um vermelho intenso até uma tonalidade mais esbranquiçada, quando, por fim, desaparece, indicando que o processo de recuperação uterina está próximo do fim.

O puerpério também é marcado por cólicas e dores abdominais, especialmente nos primeiros 20 dias, devido ao movimento uterino que está retornando ao seu tamanho normal. Podem ocorrer, ainda, desconfortos no períneo (caso a mulher tenha tido parto vaginal); fadiga devido à privação de sono e demanda física de cuidados com o bebê; sudorese por conta da lactação; dificuldades para evacuar; além de dores nos seios por causa da amamentação.

É preciso considerar também uma mudança hormonal abrupta com a expulsão da placenta, o que interrompe a produção do estrogênio e da progesterona. A ausência desses hormônios pode levar a alterações na pele, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, ressecamento vaginal e oscilação no humor.

4. E como fica a saúde mental no puerpério?

Preocupação excessiva, alterações de humor, tristeza, crises de choro, ansiedade, pensamentos trágicos e medo extremo podem ocorrer nesta fase de mudanças intensas e pressões sociais acentuadas. Quando esse misto de sentimentos é pontual e passageiro, chamamos de baby blues — esses sinais tendem a desaparecer em até três semanas. No entanto, não é raro que puérperas desenvolvam quadros mais graves, como a depressão pós-parto, caracterizada por apatia, aversão ao bebê, falta de interesse ou prazer, dificuldade em realizar tarefas cotidianas e em casos mais severos, pensamentos suicidas. Principalmente se já existia um histórico de depressão antes da gravidez.

Aqui, vale reforçar a importância de um pai presente, consciente de sua função, e de uma rede de apoio atuante, seja ela familiar ou contratada (como babás, consultoras de amamentação, diarista etc). Não é raro que as mulheres se sintam invisibilizadas quando chega o bebê. Por isso, é fundamental que a mãe receba suporte emocional, alguém que a escute e valide seus sentimentos, além de receber ajuda nas tarefas diárias. E, sempre que possível, é importante buscar acompanhamento psicológico profissional.

5. São necessários cuidados especiais?

Sim. Para garantir a saúde e o bem-estar da puérpera, é essencial que ela receba atenção adequada e participe de consultas de acompanhamento pós-parto para monitorar a recuperação de forma personalizada.

Nesta fase, a privação de sono costuma ser um dos maiores desafios, devido à amamentação e aos cuidados com o recém-nascido. O descanso, fundamental para uma boa recuperação e para a produção de leite materno, acaba fragmentado. Portanto, o parceiro ou parceira precisam revezar os cuidados para que a puérpera possa dormir, pelo menos, enquanto o bebê também está dormindo.

Manter uma alimentação equilibrada é a recomendação dos médicos, mas sabemos que nem sempre isso é possível e exigir uma dieta rigorosa neste período pode apenas sobrecarregar ainda mais uma mãe cansada. Tente fazer, dentro do possível, refeições caseiras, dando prioridade a frutas, vegetais e proteínas magras em vez de alimentos ultraprocessados. E não abra mão da hidratação, fundamental para o sucesso da amamentação. A garrafa de água deve ser sua companheira inseparável!

Siga também as orientações médicas quanto à higiene adequada da área genital, o uso de absorvente por conta do lóquio, os cuidados com a cicatrização de pontos (caso existam) e a assepsia das mamas após a amamentação.

6. Posso ter complicações no puerpério?

Por ser um período de grande vulnerabilidade, é possível que surjam complicações. “No puerpério imediato, especialmente nas primeiras horas, há um risco maior de complicações hemorrágicas, pois o útero pode não se contrair adequadamente. Além disso, existe a possibilidade de ocorrer alguma laceração ou lesões durante o parto, bem como alterações na coagulação sanguínea”, explica o obstetra Tedesco.

Podem ocorrer, ainda, problemas de cicatrização da episiotomia — corte na área entre a vagina e o ânus para facilitar a passagem do bebê, que não deve ser realizado rotineiramente e, sim, apenas quando necessário — e infecções no útero, na incisão cirúrgica ou no trato urinário, que podem ser acompanhadas por febre, dor e desconforto pélvico. “Todo canal de parto é uma porta de entrada para bactéria. Quando a placenta se desprende do útero, fica uma ferida onde ela estava fixada e as bactérias podem aproveitar essa oportunidade para causar uma infecção”, explica o médico, que ainda destaca a mastite puerperal. “As bactérias entram pelas fissuras no seio, causadas pela amamentação, e se multiplicam facilmente no leite, que é um bom meio de cultura”, diz.

Fique atenta a dores frequentes, sangramentos excessivamente intensos, odores e coceiras. Diante de qualquer sintoma diferente, é preciso sinalizar o médico imediatamente, ok?

7. Qual a relação entre amamentação e puerpério?

O colostro, a primeira fase do leite materno, começa a ser secretado logo após o parto, marcando o início da amamentação e seguido pela produção regular do leite. Esse princípio é considerado um dos maiores desafios do puerpério, uma vez que nem sempre ocorre a pega correta, podendo surgir fissuras, mastite e desconfortos emocionais relacionados ao ato de amamentar.

Trata-se de um processo de aprendizado contínuo e seu sucesso depende de vários fatores. “A amamentação envolve a interação do nenê com a mama e, mesmo que a mãe faça tudo corretamente, pode não ocorrer da forma adequada. Por isso, hoje em dia, temos consultoras de amamentação que podem auxiliar nas dificuldades”, explica Tedesco.

A amamentação desempenha papel fundamental na recuperação das mães durante esse período, porque com ela acontece a liberação de hormônios, como a ocitocina, que ajuda na contração uterina e contribui para o retorno ao tamanho normal. E mais: ajuda a reduzir o risco de hemorragia pós-parto e auxilia na perda de peso. Outro benefício é promover o vínculo entre mãe e bebê, o que reflete no bem-estar de ambos e tem um impacto direto na saúde do recém-nascido. A criança recebe o melhor alimento possível e fortalece seu sistema imunológico por meio da transferência dos anticorpos da mãe pelo leite.

8. Posso voltar a fazer sexo no puerpério?

A recomendação geral é aguardar pelo menos 40 dias após o parto — popularmente conhecida com quarentena ou resguardo —, mas é importante consultar o ginecologista antes de decidir retomar a atividade sexual, combinado? Para que não haja dor e possa ser prazeroso para o casal, é preciso respeitar o tempo da cicatrização de possíveis lacerações (e até mesmo de uma episiotomia), no caso de parto vaginal, ou as implicações da cesárea (como incisões nos tecidos e dores abdominais). Além disso, vale mencionar que a ferida placentária aumenta o risco de infecção durante a atividade sexual.

Pode haver também questões que causem desconforto, como o ressecamento vaginal relacionado às mudanças hormonais, a alta sensibilidade das mamas e o lóquio. Por isso, é fundamental que as mulheres falem abertamente com seus parceiros(as) sobre qualquer sinal de dor ou incômodo, e o casal realmente considere se já é o momento adequado para retomar as relações.

E mesmo com o aval do médico, o desejo da mulher precisa ser prioridade e é natural que a libido esteja diminuída no meio do turbilhão de adaptações e mudanças hormonais. Somada à privação de sono e ao cansaço, muitas vezes isso reduz a disposição para o sexo. E está tudo bem! A boa notícia é que, aos poucos, a rotina vai se estabelecendo, a criança aumenta suas horas de sono, a mãe consegue descansar, recupera-se das dores do parto e pode se sentir mais preparada para retomar a vida sexual.

9. Quais métodos contraceptivos posso usar no puerpério?

Antes de retomar as relações, é essencial discutir com seu ginecologista sobre os métodos contraceptivos indicados para o pós-parto, levando em consideração o histórico médico da mulher, a condição atual e qual o melhor momento para iniciá-los.

Uma das opções recomendadas durante o puerpério são os métodos de barreira, como os preservativos masculinos e femininos, e o diafragma, que não afetam a amamentação. O contraceptivo hormonal oral, por outro lado, pode ser usado desde que seja à base de progestagênios, pois durante o aleitamento materno não é indicado o uso de pílulas anticoncepcionais que contenham estrogênio, que podem diminuir a produção do leite.

Já os métodos de longa duração — como o DIU de cobre, o DIU hormonal (com progestagênios), o implante hormonal e a injeção trimestral — podem ser utilizados sem interferir no aleitamento.

Durante o pós-parto, a amamentação também pode funcionar como método contraceptivo, conhecido como Método de Amenorréia da Lactação (LAM, na sigla em inglês). Para que seja eficaz, é essencial que a mãe amamente em livre demanda durante o dia e a noite, sem intervalos maiores do que cinco horas, não tenha menstruado desde o parto e que o bebê tenha menos de 6 meses de vida, conforme orientações da Aliança Mundial para a Ação em Aleitamento Materno (WABA, na sigla em inglês). “Quando o aleitamento é exclusivo, quanto mais você amamenta, maior a produção de prolactina. Consequentemente, a prolactina inibe a ovulação, diminuindo assim as chances de engravidar”, indica o obstetra. Vale ressaltar que este é um método de curto prazo (até seis meses) e não é mais eficaz quando qualquer um dos três critérios citados acima muda. Nestes casos, é importante considerar o uso de uma contracepção adicional, se desejar uma proteção mais garantida contra uma nova gravidez.

10. O que uma puérpera não pode fazer?

“Posso varrer a casa ou lavar a louça? Posso lavar o cabelo? Meu filho terá cólicas se eu comer feijão? Posso beber uma taça de vinho?”. Essas são algumas das dúvidas que podem surgir nesse período, marcado por muitos mitos e verdades.

Durante essa fase, é recomendado evitar atividades intensas ou exercícios físicos por, pelo menos, 40 dias devido às cicatrizações pós-parto. No entanto, para aquelas que tiveram parto normal sem pontos, a recuperação costuma ser mais rápida. Nesse caso, é permitido e até indicado que a mulher faça caminhadas leves, respeitando, claro, os limites do corpo.

Em relação à alimentação, não há evidências científicas que comprovem que certas comidas causem cólicas nos bebês. As hipóteses levantadas pelos médicos são de que as cólicas estão mais relacionadas com a imaturidade do sistema digestivo e com o desequilíbrio do microbioma intestinal do recém-nascido. A única exceção em que a mãe realmente precisa excluir um alimento de sua dieta é no caso de alergia à proteína do leite (APLV), quando os bebês desenvolvem sensibilidade específica e podem apresentar sintomas alérgicos graves.

Quanto ao aleitamento materno, embora a ingestão de bebidas alcoólicas seja considerada “compatível com a amamentação”, tanto pela Academia Americana de Pediatria (AAP) quanto pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a recomendação ainda é evitar estimular o consumo de álcool durante esse período por conta dos riscos para a mãe e para o bebê, assim como o uso de medicamentos, a menos que haja autorização médica. Já as vacinas prescritas durante o puerpério podem ser administradas sem prejuízos para lactante ou para o filho.

Fontes: Ricardo Porto Tedesco, obstetra e membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); Cartilha Orientação Contraceptiva no pré-natal e puerpério - Febrasgo; Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada – Ministério da Saúde

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