• Texto Renata Menezes - Reportagem Rita Lisauskas - Ilustração Bárbara Malagoli
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Sexo na gravidez (Foto: Bárbara Malagoli)

(Ilustração: Bárbara Malagoli)

Na gravidez parece que o sexo vira tabu até para quem é bem resolvido com o assunto. Mesmo se a vontade de transar é enorme, vem o medo de prejudicar o bebê.  Isso sem contar com os hormônios femininos e a libido da gestante – que estão iguais a uma montanha-russa. É por estas e outras que os nove meses e o pós-parto podem até virar um período de abstinência sexual.

O quê? Como? Calma! A vida sexual não precisa sofrer graves consequências durante a gravidez. Alguns pesquisadores defendem que transar nesse período faz bem porque ajuda a controlar a ansiedade, melhora a autoestima e diminui a pressão arterial - quando ela está elevada, a gestante pode correr o risco de ter pré-eclâmpsia.

E, pode ficar tranquilo, pois, segundo a professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos e obstetra Carla Andreucci Polido, o sexo e o orgasmo não são culpados por abortos ou partos prematuros. “A gestante só deve evitar a atividade sexual quando houver sangramentos no primeiro trimestre e trabalho de parto prematuro, porque o orgasmo pode exacerbar contrações que já estejam acontecendo em casos como esses”, explica.

A jornalista Lina Garrido, 32 anos, mãe de Marina, 2, e que está grávida de 12 semanas, faz parte desse grupo. Depois de um descolamento do saco gestacional, o médico pediu repouso e nada de sexo. “Pelo menos até que o risco de aborto seja descartado”, diz.

Lina e o marido não reclamam. “Nossa prioridade agora é garantir o desenvolvimento do bebê. A libido está trancada em uma gaveta”, brinca. Segundo a sexóloga Laura Muller, do programa Altas Horas, da TV Globo, é importante que os casais que precisam ficar em abstinência sexual durante parte da gestação entendam o momento e percebam que é só uma fase. “Logo, logo, tudo se normaliza e o sexo pode retomar a um espaço importante na vida deles”, afirma. Mas nem sempre são os problemas na gestação os culpados pela falta de sexo. Assim como tem mulheres que ficam mais excitadas, há aquelas que não têm o menor desejo. 

Não ter vontade de transar é normal?

Uma pesquisa canadense feita com 1.049 gestantes mostrou que 56% delas sentiram uma diminuição no desejo sexual. Isso pode acontecer devido às flutuações hormonais. “No primeiro trimestre existe uma diminuição da libido durante a fase da implantação do embrião no útero. No segundo e no terceiro trimestre, ela normaliza, mas o apetite sexual é algo muito individual, que depende de diversos fatores, não só dos hormônios”, explica Carla.

Para Suzana Pires*, 32 anos, grávida de 24 semanas, o problema foi o desvio do foco. “Acho que estou com a cabeça voltada ao bem-estar do meu filho e não consigo focar em sexo e não sinto vontade”, conta. Estudos mostram que mulheres que pensam sobre o assunto sentem mais vontade de transar. Segundo uma pesquisa da Universidade de Ohio, nos EUA, os homens têm 19 pensamentos sexuais por dia, quase o dobro das mulheres, que refletem sobre isso por cerca de dez vezes. Se, sem estar grávida já é assim, imagine quando a mente só está voltada para o bebê, o enxoval e o parto? A libido não vem, mesmo!

A personal shopper Nathalia Costa*, 30 anos, que está grávida de dez semanas, não quer nem ouvir falar a palavra sexo. Muito menos fazer. Mas, no caso dela, o problema é o medo das infecções urinárias recorrentes que costumava ter antes de ficar grávida. “Não quero dar chance para o azar. Por isso corro, mesmo se a vontade vem”, conta.

A obstetra Carla afirma que não se deve evitar o sexo durante a gestação para prevenir esse problema. É preciso usar preservativo, higienizar bem a vagina após a transa e tomar as mesmas precauções de antes. Outra que também tem a libido nas alturas durante a gravidez, mas se priva de sentir prazer, é Paula Lima*, 36, mãe de Marina, 12, e Pedro, 2. Não por vontade dela. O motivo? O marido! “Na gravidez ele diz que perde o tesão”, conta ela, que tentou comprar lingerie e cinta-liga para seduzi-lo, mas não teve sucesso.

Sexo na gravidez (Foto: Bárbara Malagoli)

(Ilustração: Bárbara Malagoli)

Para a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora dos livros Nós Estamos Grávidos (Ed. Integrale) e Psicologia da Gravidez (Ed. Jaguatirica), é comum alguns homens sentirem menos desejo pela grávida porque passam a enxergar a mulher como mãe, alguém sem sexualidade, ou porque ficam com medo de prejudicar o filho. O marido da estudante Nickolly Vieira, 21 anos, mãe de Luís Otávio, 3, e Lívia, 1, dizia que não queria transar porque tinha medo de machucar o bebê o que, segundo o obstetra Bráulio Zorzella (SP), é anatomicamente impossível. “O pênis vai apenas até o fundo da vagina e não até o útero”, garante.

O bom é que tem homens que adoram a nova silhueta, com seios fartos, quadril mais largo e glúteo maior. O marido de Mônica Duarte*, 42, mãe de Sabrina 11, Luana, 6, e Ana, 1, é um deles. Por isso, a vida sexual do casal durante as três gestações sempre foi muito bem, obrigada! O marido da técnica em segurança no trabalho Lígia Ferreira, 34, mãe de Ana Laura, 2, também adorou. “Eu me sentia horrorosa. Mas ele não. Queria transar todos os dias. Nunca fiz tanto sexo”, diz. Segundo Maria Tereza, a autoimagem da mulher sofre muita influência de padrões culturais. “Casais que ignoram esses padrões da magreza impostos pela sociedade e que não fazem distinção entre maternidade e sexualidade são mais felizes na cama”, afirma.

Como se adaptar para o sexo na gravidez

É claro que é preciso fazer alguns ajustes, pois algumas posições sexuais ficam, literalmente, impraticáveis. “No último mês eu não conseguia mais ficar por cima dele, e começamos a fazer sexo de pé ou de quatro apoios”, conta Lígia. Laura Muller lembra que existem várias formas de sentir prazer. “Se alguma posição ou mesmo a penetração estiverem incomodando, o casal pode partir para o sexo oral e a masturbação”, lembra. Aliás, esses artifícios são muito bem-vindos nos momentos em que não se pode ter penetração, como na famosa quarentena.

Após o nascimento do bebê, a mulher deve ficar 40 dias sem relação sexual. Vale tanto para parto normal como cesárea. Antes disso, o sexo é desaconselhado porque o corpo ainda não se recuperou, o útero está voltando ao seu tamanho normal e há risco de infecção, já que o processo de cicatrização pós-parto ainda não está finalizado. Sem contar que a produção do hormônio prolactina, que favorece a produção do leite, diminui a libido e a lubrificação vaginal.

O ginecologista da professora universitária Ruth Carvalho*, 28, mãe de Julia, 3 meses, pediu abstinência sexual por seis semanas. No começo, ela achou que seria bem difícil seguir a orientação médica. “Mas o pós-operatório foi tão desagradável que era impossível transar. Eu nem sentia vontade”, lembra. Ela e o marido só conseguiram ter um tempo para curtir a vida de casal porque se organizaram. “Eu me preocupei muito com o pós-parto. Dividi as tarefas do bebê com meu esposo, tive ajuda em casa e restringi visitas”, diz.

Intimidade do casal

Aliás, administrar as visitas no puerpério para achar um espaço na rotina para o sexo é uma boa ideia. Joana Machado, 30 anos, mãe de João, 5, que o diga. “Toda vez que decidíamos transar, era um sufoco. Era o leite vazando, o bebê chorando, o telefone e a campainha tocando”, lembra. Isso sem contar com os avós. “Vinte dias depois do nascimento do meu filho caçula, estávamos loucos para voltar à nossa rotina sexual. Mas minha mãe ‘mudou’ para a casa porque queria ajudar nos primeiros cuidados com o bebê. Parecia que ela estava em todos os cômodos”, brinca Paula Lima. Tal qual dois adolescentes, eles tiveram que se trancar no banheiro para transar. Além de achar um tempo na agenda e local apropriado, sem os olhares alheios, ainda tiveram os incômodos do sexo no pós-parto.  “Senti tanta dor que quase desisti”, conta.

Quando Lina Garrido foi retomar a vida sexual depois da cesariana da primogênita, ela também sentiu dor e percebeu a vagina seca. “O incômodo foi muito maior no pós-parto do que quando perdi a virgindade”, diz. A obstetra Carla afirma que a queda brusca do estrogênio e da progesterona, logo após o nascimento, são responsáveis por esses sintomas. “Há uma atrofia, uma perda da elasticidade e da lubrificação da vagina por causa desse bloqueio hormonal, tanto em quem fez cesárea como parto normal”, explica.

Mônica Duarte também conta que sentiu dor quando retomou a vida sexual depois das três gestações, mas começou a ter orgasmos múltiplos e mais intensos após o parto natural da caçula. Para Zorzella, esse tipo de parto dá à mulher um maior domínio e uma percepção do seu próprio corpo e de suas possibilidades de prazer”, explica. Portanto, não perca a oportunidade de fazer sexo durante a gravidez nem no puerpério depois, é claro, de conversar com seu médico.

5 ATITUDES QUE AJUDAM O SEXO

Veja as dicas da psicóloga Maria Tereza para não deixar que a gravidez e a rotina do pós-parto atrapalhem sua vida sexual:

1. Lembrem-se de que vocês são marido e mulher, não “pai” e “mãe”.
2. Compartilhem todos os cuidados com o bebê. O filho é dos dois.
3. Contem com ajuda externa, principalmente do restante da família. Uma rede de apoio é importante.
4. Construam momentos de intimidade a dois. Passem mais tempo juntos. Falem de sexo.
5. Ampliem a exploração da sensualidade e do erotismo. Façam massagens um no outro, troquem beijos, abraços e carícias.