Puerpério
 

Por Livia Deodato


Um bebê chega à família e tudo o que conhecíamos como rotina vira de cabeça para baixo. Não sabemos mais se é dia ou é noite, se já tomamos banho, se já nos alimentamos... Enquanto tentamos entender as demandas do bebê – que não são poucas! – e a nova configuração familiar, quem é que não gostaria de ter comida à mesa sem ter de ir para a cozinha? Por essa razão, oferecer uma (ou várias) refeições para quem está no puerpério é uma ótima maneira de ajudar.

Recém-nascido dormindo — Foto: Shutterstock
Recém-nascido dormindo — Foto: Shutterstock

A artista têxtil Bruna Fogaça descobriu isso antes mesmo de ter bebê, em 2013, quando morou na Cidade do Cabo, na África do Sul. Uma amiga vizinha a convidou para fazer parte de um grupo para preparar refeições para uma família que tinha acabado de ganhar bebê – iniciativa que ela, mais tarde, batizou de “ciranda de refeições”. "Achei muito bacana o movimento e topei participar na hora. Preparei um arroz com lentilha e entreguei no dia combinado", relembra. "Na época, eu não tinha filhos. Se eu tivesse a noção da magnitude que isso significava, eu tinha caprichado mais."

Alguns anos depois, em 2017, ela estava grávida de seu primeiro filho e morando com o marido em Harlemville, uma cidadezinha ao norte de Nova York, nos Estados Unidos. Para sua grata surpresa, uma amiga russa, moradora do mesmo local, organizou uma ciranda de refeições para a chegada de Manuel. "A cada refeição, a gente se emocionava. Não recebia apenas arroz e lentilha. Chegava o menu todo pintado e desenhado pelas crianças da família, um pote de canja maravilhosa com um pão feito por eles, sempre acompanhado de sobremesas. Eram verdadeiros banquetes!", conta.

"Teve uma mulher que trouxe um frango assado, cheio de lavanda, batatas. Recomendou que depois de comer o frango, nós tirássemos os ossos, cozinhássemos e tomássemos o caldo. Ela também trouxe uma torta de morango com ruibarbo e sorvete. Foi impressionante, ainda mais porque essas pessoas não eram muito próximas a nós. A mensagem era: 'Estamos cuidando de vocês'. Foi maravilhoso."

Manuel nasceu envolto dessa rede de afeto, aromas e sabores deliciosos, que literalmente chegaram na porta de sua casa nas primeiras três semanas de vida. As pessoas que se comprometeram com a entrega deixavam na data combinada uma refeição dentro de uma cesta na varanda, entre 14h e 17h. "Caso houvesse um imprevisto da pessoa nesse período, ainda teríamos tempo hábil para prepararmos uma refeição", relembra. "Era uma visita 'meio secreta', porque a pessoa não tem a intenção de visitar o seu bebê. A intenção é justamente ajudar sem atrapalhar, sem a expectativa de pegar o seu bebê no colo."

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Com ajuda da tecnologia

Nos Estados Unidos, a iniciativa de oferecer refeições para pais com recém-nascidos (ou em outros períodos desafiadores, como a perda de um ente querido) é bastante difundida. Existem até mesmo plataformas digitais para reunir um grupo e organizar os pratos designados a uma determinada família. Um dos pioneiros e mais famosos foi o Meal Train ("trem da refeição", em inglês), criado por Kathleen Laramee.

Em 2009, Kathleen se voluntariou para organizar a entrega de refeições para uma família da sua vizinhança que tinha acabado de ganhar um bebê, em Burlington, no estado de Vermont. Primeiramente, ela listou as preferências alimentares da família e também as melhores datas para entrega, além de coletar nomes de amigos e vizinhos que tinham demonstrado interesse em participar desse movimento. Quando o bebê chegou, ela enviou um e-mail para cada família avisando sobre o nascimento e pedindo para que entrassem em contato com ela para agendar o dia em que cada um entregaria a refeição.

Acontece que, a cada organização de uma ciranda de refeições, ela se deparava com as mesmas dúvidas dos vizinhos e amigos: "quais dias estão disponíveis?", "devo cozinhar para quantos?", "o que eles já têm por lá?", "posso remarcar a data da minha entrega?". A família que iria receber a entrega também tinha suas dúvidas: "quem vai entregar hoje?", "podemos convidar mais pessoas?", "você pode pedir, por gentileza, que as pessoas não tragam mais sopa?". Conversando com seu marido Michael, Kathleen parou para pensar como poderia sistematizar esse movimento tão acolhedor e bonito.

Michael convidou um amigo, Stephen DePasquale, desenvolvedor de software, para que juntos criassem uma plataforma digital para dar vazão a essa ideia tão simples e necessária de Kathleen. Em janeiro de 2010, eles lançaram a primeira versão da plataforma online, que é gratuita. A iniciativa se baseia na premissa de que a refeição é um veículo que permite ao doador mostrar que se importa e que estará presente para essa outra família no futuro.

Cuidado de quem doa, amor para quem recebe

Desde que conheceu e entrou para o movimento, Bruna não apenas prepara comidas gostosas para famílias que vão ganhar bebês, como também organiza informalmente cirandas de refeições para elas. Uma dessas famílias sortudas foi a da amiga Fabiana Wan, que acabou de ganhar seu segundo bebê em Garopaba, Santa Catarina. Como atualmente Bruna vive em Botucatu (SP), ela fez os arranjos na última visita que fez à Fabiana ainda na gestação.

"Quando alguém tem bebê, parece que a primeira reação das pessoas é ficar longe, não mandar muitas mensagens, não ir visitar, para dar espaço para essa família. Mas, ao mesmo tempo, esse espaço deixa um vazio, porque existe uma necessidade que as pessoas não sabem como suprir", diz Fabiana. "A ciranda de refeições abre um caminho de conexão com essa família que teve bebê. Desperta a humanidade nos dois lados: nas pessoas que estão cozinhando e descobrindo uma nova forma de presentear, darem amor e estarem presentes, e também na família que está recebendo essa refeição, por se sentirem amados e não sozinhos e sobrecarregados."

Essa onda de amor por meio da comida pode ir muito além do nascimento de um bebê. Bruna, por exemplo, já organizou refeições para uma família vizinha que tinha acabado de perder a mãe solo de três filhos pequenos. "O movimento já estava acontecendo no bairro em que moramos, mas eu ajudei a organizar a chegada dessas refeições para que elas não fossem entregues todas nos primeiros dias após seu falecimento", conta.

A ciranda de refeições pode servir, ainda, para diversos momentos da vida – doenças, cirurgias, adoção, desemprego, boas-vindas à nova vizinhança. Para tanto, basta estar atento ao outro. "Como a gente pode se ajudar?", pergunta Bruna. Se fazemos parte da mesma comunidade, talvez seja apenas o caso de olhar para dentro de si – e fazer para o outro o que gostaríamos que fizessem por nós.

O que você precisa para organizar uma "ciranda de refeições"

  • Tempo, disposição e boa vontade para ajudar quem precisa;
  • Contatos de familiares, amigos e vizinhos de quem vai ser ajudado;
  • Criação e organização de uma agenda, que mostre quem entrega a refeição e em qual dia;
  • Checagem para garantir que sempre tenha uma pessoa responsável pela entrega nas datas combinadas;
  • Lista de restaurantes e cozinheiros(as) para quem quer ajudar, mas não tem tempo de preparar.

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