Vacina é Saúde
 

Por Fernanda Tsuji


Quando decidiu que queria ser mãe, Maira Rodrigues de Camargo Neves, 33 anos, procurou sua ginecologista com a carteirinha de vacinação em mãos. Bióloga e consultora em ciência de dados, ela não sabia exatamente quais vacinas deveria tomar nesta nova etapa da vida, mas tinha certeza que estar imunizada era parte fundamental do plano de gestação.

De fato, é. Algumas vacinas precisam mesmo ser tomadas na pré-concepção, caso a mulher não tenha sua caderneta em dia, enquanto outras podem – e devem – ser administradas durante a gestação, sem qualquer risco para a mãe ou para o bebê. Há, ainda, a possibilidade de completar o esquema no puerpério, sabia? Por isso, o ideal é traçar uma estratégia de imunização com o seu médico.

Grávida protegida — Foto: Getty Images
Grávida protegida — Foto: Getty Images

“Mais da metade das gestações no Brasil não é planejada, então orientamos que o calendário vacinal da mulher esteja sempre atualizado. Assim, caso ela engravide, já entra com a imunização garantida”, orienta a ginecologista Giuliane Jesus Lajos, membro da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo.

Hoje, o Calendário da Gestante, do Ministério da Saúde, preconiza três principais: influenza (gripe), hepatite B, dT (difteria e tétano) e dTpa (difteria, tétano e coqueluche), além da vacina contra a covid-19. (Veja mais sobre cada uma ao longo da reportagem)

Para receber as doses, basta a gestante comparecer a um posto de saúde, já que elas são oferecidas gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). E vale reforçar: as vacinas indicadas nesse período são seguras! “A grávida vai receber vacinas de agentes inativados ou vírus mortos, que não vão ter risco de se replicar e causar algum efeito colateral para mãe ou para o bebê”, explica a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do ambulatório de vacinas do Hospital das Clínicas e membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Vantagens para a mãe e para o bebê

O pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), reforça que, por mais que o bebê se beneficie da proteção imunológica da mãe, primeiro é preciso pensar na saúde da gestante. “O intuito é protegê-la das infecções que, se ocorrerem na gravidez, oferecem riscos maiores”, diz.

A questão é que a gestação é um momento de maior vulnerabilidade na saúde feminina, o que a coloca no grupo de risco para algumas doenças. “Para não rejeitar o feto e não produzir anticorpos contra ele, há uma atenuação da resposta imune, que, muitas vezes, predispõe a gestante a infecções”, afirma Kfouri.

Mas é claro que o bebê também se beneficia do calendário materno atualizado, afinal, já é sabido que há transferência de anticorpos da mãe para o filho, via placenta e, posteriormente, por meio da amamentação. Isso garante que, nos primeiros meses de vida, ele esteja parcialmente protegido até poder tomar todas as suas doses e desenvolver o seu próprio sistema imunológico mais robusto.

Com 26 semanas de gravidez, Maira atualizou seus imunizantes – no caso dela, que já tinha tudo em dia, foi preciso somente o de influenza, a 4ª dose de covid e a dTpa. “Confio muito nas vacinas e acredito que é um pacto coletivo. Penso que a chance de dar algo errado tomando a vacina é tão mais baixa do que a doença em si, que a gente deveria vacinar pensando em evitar a culpa e o sentimento de ‘não fiz tudo que dava para fazer’, sabe?”, diz a bióloga.

Infelizmente, nem todos pensam assim, já que, atualmente, assistimos a uma queda da cobertura vacinal no mundo todo. Entre as grávidas, o cenário não é diferente: segundo o Datasus, em 2022, apenas 43,26% das gestantes se vacinaram com a dTpa, uma das mais importantes na gravidez. E esse índice vem caindo desde 2019, quando registrava 63,23%. A meta preconizada, veja bem, é de 95%.

Para aumentar esses números e garantir a sua proteção e a do seu bebê, confira a seguir mais detalhes sobre cada imunizante e converse com seu médico para entender qual será o plano vacinal individual. Quanto mais segura você estiver, mais tranquila será a sua gestação.

Quais vacinas tomar no planejamento da gravidez

Na pré-concepção, é importante checar se a carteirinha está atualizada para hepatite A, HPV e febre amarela — além das vacinas de vírus vivos atenuados, que não podem ser administradas na gravidez, como a varicela (catapora) e a tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola). Caso não receba essas vacinas antes de engravidar, você só poderá completar o esquema no puerpério e com orientação médica, para não prejudicar a amamentação.

Importante: o companheiro ou companheira também precisa atualizar a caderneta. “Todos que estarão perto do recém-nascido devem estar com as vacinas em dia, principalmente para a coqueluche (dTpa). Chamamos essa proteção de fenômeno de ninho”, explica a ginecologista Giuliane Jesus Lajos.

Durante: vacinas recomendadas na gestação

Os imunizantes que precisam ser tomados durante o período gestacional não contêm o vírus vivo e podem ser administrados na mesma visita ao posto, respeitando o esquema vacinal de cada um. Se a gestante não tiver carteira de vacinação que comprove doses prévias, precisará receber o esquema completo. Segundo o Calendário da Gestante, do Ministério da Saúde, são elas:

Hepatite B

  • Doses: 3
  • Esquema na gestação: se tem o esquema completo, não precisa de uma nova dose
  • Se já iniciou: apenas completar o esquema (com os intervalos descritos a seguir)
  • Se nunca foi vacinada: receber as três doses com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda e seis meses entre a primeira e a terceira.
  • Quando tomar: antes da gestação ou em qualquer momento dela, preferencialmente no primeiro trimestre.

Difteria e Tétano (dT ou Vacina dupla adulto)

  • Doses: 3
  • Esquema na gestação: se já possui duas ou três doses de dT, deve tomar 1 dose da dTpa (veja indicação abaixo).
  • Se tem apenas uma dose de dT: fazer mais uma de dT e uma dose de dTpa
  • Se nunca tomou ou não tem histórico: receber duas doses da dT e uma de dTpa.
  • Quando tomar: qualquer momento da gestação. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda a 1ª no início da gestação; a 2ª dose após 4 semanas; e a 3ª deve ser realizada com a vacina dTpa, após a 20ª semana gestacional.

Difteria, Tétano e Coqueluche (dTpa ou tríplice bacteriana acelular do tipo adulto)

  • Doses: 1 (importante tomar todas as vezes que engravidar).
  • Esquema na gestação: se tem todas as doses de dT, basta receber uma de dTpa. Caso contrário, é preciso atualizar a carteirinha.
  • Quando tomar: a partir da 20ª semana de gravidez. É importante que seja nesse período para que haja transferência de anticorpos contra a coqueluche para o bebê. Caso não o faça durante a gestação, é indicado se vacinar com uma dose no puerpério, mesmo se estiver amamentando.

Gripe (Influenza)

  • Doses: 1 anual; tomar todas as vezes que engravidar.
  • Quando tomar: qualquer fase da gestação (priorizando as campanhas sazonais).

Covid-19

  • Doses: 4, podendo ser Coronavac ou Pfizer. A bivalente (Pfizer) também é uma opção.
    Quando tomar: em qualquer momento da gravidez, de acordo com o esquema vacinal individual.

Gripe e covid-19: atenção especial

As gestantes fazem parte do grupo de risco para a gripe e a covid-19. “Por causa das alterações imunológicas na gestação e da interação entre feto e mãe, há um maior risco de hospitalizações, morte e parto prematuro nestas doenças”, explica a imunologista Ana Karolina. “A grávida evolui de uma forma mais grave em quadros respiratórios - principalmente no terceiro trimestre, quando a barriga já está grande, ela tem uma expansão pulmonar menor. Então, tem um componente físico e um imunológico”, diz.

A nutricionista Samantha Seller Bolzan Seixas, 38 anos, mãe de Maria Eduarda, de 5 anos, e Enrico, de 3 meses, sempre teve muita confiança na vacina da covid, porém, antes que pudesse tomar o reforço durante a gestação do caçula, ela contraiu a doença. “Mesmo grávida, me recuperei bem, mas tive que esperar 30 dias para tomar a quarta dose”, conta.

E as reações?

Esse medo é uma das razões que afastam muitas grávidas da vacinação, segundo aponta o documento “Imunização na gestação, pré-concepção e puerpério”, organizado pela SBP, SBim e Febrasgo. Se você também sente receio, fique tranquila. Os especialistas garantem que os efeitos colaterais são iguais aos de quem não está esperando um bebê. “São sintomas comuns: dor no braço, mal-estar, dor no corpo, dor de cabeça e, eventualmente, febre no primeiro dia. Mas em 48 horas os sintomas costumam desaparecer”, diz a imunologista Ana Karolina. Se persistirem, basta avisar o obstetra para que ele indique medicamentos que são seguros na gestação.

À espera da primeira filha, a bióloga Maira revela que não teve nenhuma reação inesperada. “A dTpa deixou o braço doendo e tomei a da gripe e da covid juntas, mas não tive nada além de cansaço”, diz.

Vacinas que a grávida não deve tomar

São aquelas de vírus vivos ou atenuados: sarampo, caxumba, rubéola, febre amarela, varicela e dengue, além de HPV. “Embora não seja uma vacina de vírus vivo, não indicamos a HPV nesse período por falta de estudos”, afirma a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho. “Já a da febre amarela é uma vacina viva atenuada e o vírus vacinal pode se replicar [esse tipo de vírus se replica de modo semelhante ao do vírus selvagem, mas de forma mais lenta e enfraquecida, estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos]. Devido às alterações imunológicas decorrentes da gestação, há um risco teórico de essa replicação viral ter algum efeito para o feto ou até para a mãe”, explica. Mas, e se a mulher tomou uma delas sem saber que estava grávida? Vale avisar o obstetra para um acompanhamento mais atento.

Há, ainda, casos especiais de vacinação como quando há surtos, e indica-se vacinar os indivíduos de uma região. Foi o caso da meningite e da febre amarela, no Brasil, por exemplo. “Se a gestante está numa área de alta endemia — e não tem como evitá-la — , em que o risco da doença é maior do que o da vacina, é recomendada a vacinação”, afirma a ginecologista Giuliane Jesus Lajos.

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