Com faturamento anual de R$ 25 milhões, Podpah cogita TV aberta: "É um mato que estamos capinando"

Apenas no primeiro trimestre deste ano, o Podpah faturou R$ 18,5 milhões. A meta para 2024 é aumentar em 30% os ganhos de 2023, que foram de R$ 25 milhões. O Podpah surgiu em setembro de 2020 e, desde então, cresceu exponencialmente. Recebeu nomes de destaque como o rapper Mano Brown e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), antes das eleições de 2022. Seu canal no YouTube reúne 8 milhões de inscritos, e as redes sociais (Instagram, TikTok, X e Facebook) acumulam 14 milhões de seguidores. São 24 patrocinadores e mais de 100 marcas que participaram do projeto em ações pontuais.

“Tudo aconteceu como uma avalanche”, afirma Igão. Mitico diz que o sucesso do podcast foi rápido, mas ressalta que os dois anfitriões já cultivavam uma carreira de pelo menos uma década na internet com vídeos de humor no YouTube. “Só temos quatro anos de existência. É uma loucura”, comemora Victor.

Os três receberam a GQ Brasil em seu escritório em uma sexta-feira à noite. Costumam dar entrevistas juntos porque têm visões complementares do negócio. Os dois primeiros ficam a par do que rola nos bastidores, mas seu foco está na parte criativa e na atuação em frente às câmeras. Victor se responsabiliza por negociar contratos de patrocínio, parcerias e afins.

São cerca de 45 funcionários envolvidos em cinco programas: Podpah, Rango Brabo, Visita Podpah, Quebrada F.C. e Carona Podpah, este último em parceria com o Spotify.

“Criar novos quadros foi remar contra a maré, porque a galera que já tinha um podcast começou a replicar a mesma fórmula. Nós entendemos que isso poderia defasar o produto e que o público talvez se cansasse da nossa imagem. O programa de entrevistas da casa é o Podpah, então concebemos outro tipo de entretenimento”, salienta Igão. “Fiquei sem dormir”, diverte-se Mitico. “Estava com receio da reação da audiência, porque sempre foi o nosso rosto que esteve ali.”

Em janeiro de 2021, na piscina de um hotel em Maceió, o trio começou a pensar em outras atrações. A ideia inicial consistia em criar “um caos dentro de algo bonitinho”, lembra Igão. Papo vai, papo vem, a decisão por uma coisa relacionada à culinária acabou sacramentada. O passo seguinte: definir o apresentador.

Mitico sugeriu Diogo Defante, comediante de estilo tresloucado que faz sucesso na internet, e o nome foi bem recebido. “Ele (Defante) estranhou no começo, mas depois entendeu que teria liberdade para fazer do seu jeito”, comenta Igão. O “Rango Brabo” estreou em 1º de novembro de 2022, também com a chef Thais Diegues no comando da produção. São episódios semanais com duração média de 50 minutos, que misturam comida, entrevista e humor.

Pouco tempo depois, Victor provocou os parceiros a respeito de uma atração com foco em visitar casas de famosos e lugares especiais. Igão e Mitico gostaram da ideia, mas estavam sem tempo para embarcar no projeto à frente das câmeras. A saga atrás de outro apresentador terminou quando convidaram o surfista Pedro Scooby para se juntar ao time.

“Nós terminamos a gravação do Carona Podpah com ele e comentamos sobre o formato. O Scooby disse que era algo que gostaria de fazer. Mandei mensagem para o Victor na hora”, conta Mitico. “Precisava ser uma pessoa querida a ponto de a galera nos receber”, completa Igão. O Visita Podpah, lançado em junho, foi à casa do influenciador Leo Picon e à do surfista Gabriel Medina, além de ir à sede da marca Oakley, no sul da Califórnia.

“A gente não está inventando nada novo aqui. São formatos que já existem: visitar pessoas, a mesa-redonda futebolística, com o Quebrada F.C., ou a entrevista no carro. Mas fazemos com o nosso DNA, a nossa irreverência. Esse é o diferencial”, pondera Victor.

Nos próximos anos, o trio almeja criar uma programação com 24 horas de conteúdo durante os sete dias da semana. “Igual a uma emissora de TV mesmo. Não sei quanto tempo vai demorar. É um mato que estamos capinando”, analisa Igão. “Eu e o Mitico poderíamos comprar uma concessão de TV. Pode acontecer? Não sei”, continua.

O grupo não exclui possibilidades, mas também não há pressa. “Algumas pessoas nunca vão conhecer o Podpah na internet, mas poderão conhecer Igão e Mitico na TV, pelo alcance que ela possui. No entanto sabemos que, se isso acontecer, a produção de conteúdo será diferente”, observa Victor.

Igão salienta que o objetivo, caso se concretize, é deixar uma marca nesta geração que será lembrada no futuro. “Não tenho medo de parecer pretensioso, porque é algo que desejamos desde o início. Criamos o Podpah com esse intuito, assim como aconteceu com a MTV. Se a gente seguir para a TV, será para mostrar que também sabemos fazer entretenimento. Acham que, por sermos da internet, não há responsabilidade, que é tudo bobinho ou sem profissionalismo. Não queremos fazer algo só para aparecer na TV ou ganhar mais dinheiro. Precisa ser foda e relevante.”

Enquanto a ideia não se confirma na prática, o Podpah amplia seu repertório. Assim como em 2023, eles transmitiram neste ano, no YouTube, o Plantão Festival, em Fortaleza. O evento do rapper Matuê, realizado em meados de abril, reuniu expoentes do rap a exemplo de Djonga, Veigh e Major RD. Ao longo de dois dias de transmissão, quase 100 mil pessoas acompanharam os shows online simultaneamente.

Outra incursão musical se deu no início das transmissões da BDA, a Batalha da Aldeia, onde MCs se reúnem para batalhas de rap. A iniciativa ocorre toda segunda-feira no centro de Barueri, na região metropolitana de São Paulo. O primeiro dia de divulgação, no último 8 de abril, conseguiu pico de 130 mil aparelhos conectados simultaneamente e 500 mil pessoas durante as três horas de campeonato.

Victor explica que a parceria busca melhorar o encontro em três frentes. A primeira delas é estrutural, com câmeras, caixas de som, banheiros químicos e afins. A segunda: o aumento do cachê dos participantes e vencedores do evento. A terceira, por fim, consiste em levar a festa do underground para o mainstream. “Contamos com um canal de 8 milhões de inscritos. Nosso propósito é fortalecer a cena e trazer marcas que queiram investir. Não queremos mudar a BDA”, garante o CEO. O investimento neste primeiro ano é de R$ 1 milhão.

Igão e Mitico veem a parceria sob uma ótica mais sociocultural. “Existe uma parada que podemos inspirar um moleque ou uma mina de quebrada. Fazer com que percebam que podem ser o que quiserem, inclusive um comunicador ou alguém do entretenimento. Quando a gente leva a BDA para nosso público, está dizendo que aquele é um caminho. Odeio papo de meritocracia, porque nem todos vão conseguir, mas podemos ajudar a soltar a fagulha de sonho que impulsiona a galera a buscar um futuro melhor”, comenta Igão.

“Nós falamos tanto de hip-hop, vivemos essa cena, então precisamos fortalecê-la. Poderíamos ter criado a Batalha Podpah, mas isso não faria sentido. É mais inteligente ajudar o que já existe”, elabora Mitico.

Outro projeto de destaque rolará entre julho e agosto, quando a dupla de apresentadores integrará uma comitiva de dezesseis pessoas rumo a Paris, para a cobertura dos Jogos Olímpicos. Serão dezoito dias de transmissões diárias do Paris É Brasa, uma parceria entre o Podpah, o Google, a Play9 e o Comitê Olímpico Brasileiro.

A iniciativa contará com um estúdio dentro da Casa Brasil, ao norte da capital francesa. O time de repórteres inclui os influenciadores Valentina Bandeira, Stenio Girardelli (Lactea) e Rafael Vieira (Jukanalha) e os jornalistas Tino Marcos e Fátima Bernardes. Sim, a ex-âncora do Jornal Nacional. “Vou poder falar: ‘É com você, Fafá’”, brinca Mitico. Cada um deles terá uma função específica. Lactea precisará sobreviver a deslocamentos insanos sem dinheiro, por exemplo, e Tino Marcos atualizará o quadro de medalhas.

Para o futuro (que talvez não esteja tão longe), Igão e Mitico ambicionam desenvolver uma série de comédia similar a Todo Mundo Odeia o Chris, que retrata uma família negra no Brooklyn dos anos 80, e um programa de auditório. O sonho de interagir com um público cada vez maior vem acompanhado de uma enorme responsabilidade.

“Não podemos agir como se ninguém se inspirasse em nós. Erros vão acontecer, mas não dá para sermos moleques”, atesta Igão. Mitico arremata: “E sem pensar que somos os donos do mundo e deixar a fama subir à cabeça. Fazer uma capa de revista é foda, massageia o ego, mas a vida continua e não vamos nos perder.”

Diretor de conteúdo: Fred Di Giacomo
Fotógrafa: Marina Nacamuli
Texto: Guilherme Henrique
Styling: Pedro DDN
Gerente de fotografia e produção: Enzo Amendola
Editor de arte Victor Amirabile
Beleza: Sabrina Silva
Set designer: Liu Anno e Victor Amirabile
Produção de moda: Marina Araujo e Jaqueline Cimadon
Assistente de moda: Ed Xavier
Produção executiva: Daniel Cruz
Assistente de fotografia: Maria Eugênia Cortez

O Podpah estampa uma das capas da edição de maio da GQ Brasil. A partir do dia 9, adquira a sua nas bancas ou no aplicativo Globo+ e na loja virtual, com entrega para a Grande São Paulo e para Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Campinas. Para fazer sua assinatura, clique aqui.