Estilo

Por Noah Johnson


O rolê da marca Supreme (Foto: Getty Images) — Foto: GQ
O rolê da marca Supreme (Foto: Getty Images) — Foto: GQ

A um quarteirão de distância, você podia sentir o cheiro do incenso Nag Champa no ar, como um sinal de fumaça de sândalo. Ao se aproximar, dava para ouvir a música ecoando pelo cânion de Manhattan, depois ver a multidão do lado de fora do prédio, saindo da calçada em direção à rua Lafayette. Tudo isso estava localizado em uma loja. Mas, quando ela abriu pela primeira vez, em 1994, as preocupações varejistas pareciam acidentais ao propósito real da Supreme, que ganhou vida como ponto de encontro informal e frenético para a comunidade de skate de Nova York.

Fora da vista, em um escritório, o homem que inventou tudo – o fundador da Supreme, James Jebbia – poderia ser encontrado pendurado no telefone brigando com seus fornecedores. Ele estava na missão de preencher suas prateleiras vazias, impermeável à noção de que algo grandioso estava tomando forma.

O rolê da Supreme: Jaqueta “Bones” da Supreme com a Vanson do inverno/2017 (Foto: divulgação) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Jaqueta “Bones” da Supreme com a Vanson do inverno/2017 (Foto: divulgação) — Foto: GQ

Vinte e cinco anos depois, quando os modismos (como o luge de rua televisionado) caíram no esquecimento, a Supreme continua sendo uma marca de skate. Mas é muito mais do que isso. Desde o seu início, trabalhou lentamente até o exato centro da cultura e da moda. Ou, mais precisamente, cultura e moda se reconfiguraram em torno da Supreme. As roupas e acessórios da marca se esgotam instantaneamente, e a Supreme tornou-se uma colaboradora do mundo da moda do mais alto calibre, com recentes projetos em andamento com estilistas de alta (Comme des Garçons, Undercover) e baixa (Hanes, Champion) costura. Embora os números não sejam revelados, um investimento de US$ 500 milhões em 2017 do grupo Carlyle, por uma participação de 50%, avaliou a Supreme em US$ 1 bilhão.

Equipe original da Supreme, (a partir da esq.) Quim Cardona, Chappy, Keenan Milton, Gino Iannucci, Harold Hunter, Keith Hufnagel, em 1996. (Foto: divulgação) — Foto: GQ
Equipe original da Supreme, (a partir da esq.) Quim Cardona, Chappy, Keenan Milton, Gino Iannucci, Harold Hunter, Keith Hufnagel, em 1996. (Foto: divulgação) — Foto: GQ

Mas você não saberia disso entrando em uma loja Supreme hoje, onde a música ainda é alta e o Nag Champa ainda fica carregado no ar (além de NY, há filiais em Los Angeles, Paris , Londres e Japão). James Jebbia, que orienta virtualmente todos os aspectos da empresa que fundou, se recusou a ser entrevistado pessoalmente para esta matéria, mas respondeu às minhas perguntas por escrito.

“A razão pela qual fazemos as coisas da maneira que fazemos é porque respeitamos o cliente”, diz ele. Para Jebbia, isso não é mera ostentação marqueteira, mas sim um princípio quase sagrado. Ele estudou o que estava acontecendo nas ruas, confiando no que observou, não em si mesmo, para traçar o caminho criativo da marca. “A influência foi definitivamente dos jovens skatistas de NY. Também viajando para o Japão e Londres. Foi uma combinação disso tudo. De fato, nunca olhei para isso como ‘É isso que uma marca de skate deve fazer’.”

O rolê da Supreme: Fila na porta da loja londrina em julho de 2019 (Foto: divulgação) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Fila na porta da loja londrina em julho de 2019 (Foto: divulgação) — Foto: GQ

A Supreme é famosa por seu logotipo da caixa. Mas há anos ela também fabrica camisas oxford, calças chino, jeans, jaquetas M-65, camisetas com bolso e outras peças que falam com um tipo diferente de população: artistas, arquitetos, designers gráficos.

“Sempre olhei para isso como: por que não deveríamos fazer coisa boa?”, diz Jebbia sobre exceder as expectativas de uma marca de skate. As lojas Supreme são impecáveis – as camisetas, com suas pontas dobradas perfeitamente, as roupas espaçadas cuidadosamente nas prateleiras.

O rolê da Supreme: Bolsa da collab Supreme/Louis Vuitton (2017). (Foto: divulgação) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Bolsa da collab Supreme/Louis Vuitton (2017). (Foto: divulgação) — Foto: GQ

A fórmula para o sucesso – construir uma marca que dura 25 anos – parece bem simples: criar um produto de alta qualidade que dure muito tempo, vendê-lo por um preço acessível e fazer com que as pessoas queiram comprá-lo desesperadamente. Mas executar esse plano é muito mais complicado. E, ao descobrir como prosperar de acordo com a estrita adesão a seus princípios e lógica altamente específicos, a Supreme reorganizou, deliberadamente ou não, o alinhamento de toda a indústria da moda.

O rolê da Supreme: Visual da Supreme para o inverno 2019. (Foto: reprodução) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Visual da Supreme para o inverno 2019. (Foto: reprodução) — Foto: GQ

Limitar quantidades tornou-se o modus operandi da Supreme e uma de suas inovações mais importantes. Isso é parte da razão pela qual a marca tem tantos fãs leais – e por que deixou tantos compradores esperançosos frustrados e amargos. Mas a estratégia evoluiu naturalmente desde os primeiros dias, quando a loja estava quase vazia. As criações de curto prazo foram produzidas por necessidade porque Jebbia não dispunha de recursos para manter uma coleção fixa de mercadorias em estoque. “Fazíamos algumas camisetas, alguns moletons; se eles não vendessem, ficaríamos presos a eles”, diz. A solução foi produzir menos.

Naturalmente, era difícil avaliar o que poderia ser um sucesso em uma época anterior a coisas como o Instagram. James nunca sabia o que iria emplacar. “Esgotávamos o produto de verão no final de março e não tínhamos nada para vender nos outros meses. As pessoas entravam e diziam: ‘Esta loja é uma merda. Por que as pessoas estão falando sobre ela?’ E o que diríamos? ‘Se você tivesse vindo aqui há duas semanas, seria muito boa’?”

O rolê da Supreme: Look da coleção de outono/inverno 2018. (Foto: divulgação) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Look da coleção de outono/inverno 2018. (Foto: divulgação) — Foto: GQ

A solução de Jebbia para seu problema de estoque era simples, mas radical: reabastecer seu suprimento semanalmente criando um senso de urgência que tem feito de toda quinta-feira um “drop day” (dia de lançamento). Graças à Supreme, o “drop” tornou-se um jargão da moda.

Jebbia diz que seus padrões de qualidade se basearam no que já estava sendo feito. “Tivemos que tornar nosso produto tão bom quanto as marcas que os jovens de Nova York estavam usando: Polo, Nautica, Carhartt, Levis.” Ao evitar o atacado, ele poderia manter os preços baixos. “Nosso trabalho era tentar fazer as coisas tão boas quanto as melhores marcas – mas não as marcas de moda – e ter qualidade para que as pessoas usassem esses itens por muito, muito tempo.”

Ser poderoso e supremo tornou-se um parâmetro e a empresa ainda está comprometida com sua própria abordagem inovadora. A Supreme não tinha lançado um site até 2006. Ficou propositadamente atrasada para o Instagram também. Fora das revistas de moda japonesas e das campanhas em cartazes coladas pelo centro de NY, os únicos esforços de marketing são feitos no mundo do skate, provavelmente a melhor maneira de comercializar para o mundo da moda. Em outras palavras, o fato da Supreme não bajular a indústria da moda apenas torna seu fascínio ainda mais poderoso.

O rolê da Supreme: Produção da coleção inverno 2017 (Foto: divulgação) — Foto: GQ
O rolê da Supreme: Produção da coleção inverno 2017 (Foto: divulgação) — Foto: GQ

Hoje, as multidões do lado de fora são formadas por personagens diferentes daqueles de 25 anos atrás. Claro, para qualquer coisa legal, há um risco de se tornar popular. Mas a Supreme até agora tem sido isolada dos perigos.

A pergunta de um milhão – não, bilhão – de dólares é: O futuro é fazer da marca algo ainda mais underground ou deixá-la crescer e dar às pessoas mais acesso a ela? “Podemos apenas fazer o que sempre fizemos”, diz Jebbia. “Que é experimentar e estar abertos, tentar estar bem cientes do que anda rolando e fazer as melhores coisas possíveis para a geração de hoje, mantendo-nos fiéis a nós mesmos. Não tenho bola de cristal. Mas acho que teríamos que simplesmente manter o curso se não estivéssemos mais tão na moda. Estamos num negócio onde isso pode acontecer – ele é o que é. Muitas marcas passaram por isso; algumas saem disso, outras não. Continuaríamos sendo quem somos. Não mudaríamos.”

Mais recente Próxima Versace transmite desfile direto da Semana de Moda de Milão
Mais de GQ

Cantor divulga nova música nesta quinta-feira (15); à GQ Brasil, ele fala sobre o projeto, a família e a relação com a moda

Dilsinho lança single 'Duas' em homenagem à esposa e à filha: "Estou mais maduro para falar de mim"

"Um presente"; personagens dos atores vivem triângulo amoroso na nova novela das 18h da Rede Globo

Sérgio Guizé exalta parceria com Renato Góes e Isadora Cruz em 'Mar do Sertão'

O aquecimento global oferece riscos também para a base da cadeia alimentar oceânica, sugere estudo

Uma viagem submarina pelo tempo pode trazer más notícias para a vida nos mares

Uma das lideranças criativas da AlmappBBDO, ela já ganhou um Caboré e conta aqui como as mulheres vem mudando a publicidade

5 perguntas para Keka Morelle

Filme da HBO retrata a história de Elizabeth Holmes e sua startup, a Theranos

Documentário “A Inventora” discute os limites do storytelling em inovação

Unindo razão e sensibilidade, Viviane Pepe conquistou a direção brasileira de uma das marcas de beleza mais reconhecidas no mundo

No topo da Avon

Com campanhas disruptivas, divertidas e emblemáticas, os publicitários brasileiros não conquistaram apenas Cannes – transformaram anúncios em cultura pop

Propaganda a gente vê por aqui

Executivo que já enfrentou crises aéreas e ama revistas acredita que criatividade é inerente ao ser humano

German Carmona, um dos nossos jurados, voa alto

Uma startup na crescente indústria de serviços climáticos permite que você crie um mapa e projete seu próprio desastre - e ajuda a colocar um preço no impacto da mudança climática

Empresas podem prever as catástrofes climáticas por encomenda