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Por Juliana Vaz

Indicado para tratar diabetes tipo 2, o medicamento Ozempic tem ganhado protagonismo por seus efeitos colaterais e o uso contraindicado para emagrecimento. Com ares de "fórmula mágica", despertando ainda mais preocupação e atenção dos especialistas da área da saúde, o remédio fabricado pela Novo Nordisk é polêmico e pode causar efeito rebote.

Mas para que serve o Ozempic?

Embalagem do medicamento Ozempic — Foto: Divulgação
Embalagem do medicamento Ozempic — Foto: Divulgação

Ao longo da última década, pesquisadores descobriram que pessoas com diabetes tipo 2 e obesidade têm baixa produção de GLP-1 (a substância é responsável por regular o apetite, a velocidade da digestão e os níveis de insulina durante o processo digestivo).

Na busca de um medicamento que tratasse a resistência do organismo à insulina, ajudasse a perda de peso e oferecesse baixo risco de hipoglicemia, as pesquisas farmacológicas criaram uma molécula análoga ao GLP-1, a liraglutida, que desempenha fisiologicamente o mesmo papel do hormônio.

“Conhecido pelo nome comercial de Saxenda, o medicamento apresentou bons resultados tanto para o tratamento de diabetes como para obesidade. A diferença para cada um dos problemas se dá na dosagem indicada”, explica Maria Teresa Zanella, professora do departamento de Endocrinologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Em 2010, a liraglutida chegou ao mercado em formato injetável, com duração de 12 horas de ação, e galgou um marco na batalha contra as doenças metabólicas. Anos depois, essa molécula foi aperfeiçoada e ganhou uma nova versão: a semaglutida. Em meados de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou no Brasil o medicamento, sob o nome de Ozempic.

Por que Ozempic emagrece?

Ozempic é 'solução mágica' para emagrecer, mas contraindicada — Foto: Pexels
Ozempic é 'solução mágica' para emagrecer, mas contraindicada — Foto: Pexels

Enquanto a fórmula antecessora precisa ser aplicada diariamente, a novidade tem vida útil prolongada no organismo, sendo injetada apenas uma vez por semana. O endocrinologista Mario Kehdi Carra, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO, explica.

“As pessoas acham que basta cortar calorias para um obeso emagrecer, mas a questão é mais profunda. Exercícios e dietas são ferramentas, mas um obeso encara uma montanha-russa metabólica, que vai muito além da compulsão por comida. Ninguém fica obeso tão somente por comer muito”, pontua. “E vale ressaltar que nem todo obeso tem diabetes, assim como nem todo diabético está na faixa de peso considerada obesidade”, ressalta o especialista.

Na fase inicial do tratamento com Ozempic, que dura seis meses, foi observado que os pacientes diabéticos perderam entre 10 a 15% do peso. “É um percentual extremamente significativo. Em alguns casos, já é o suficiente para diminuir riscos ao sistema cardíaco, por exemplo”, pontua Maria Teresa. Os resultados em relação ao controle de massa corporal foram apresentados em 2018 pela American Diabetes Association, em Orlando, e publicado no periódico The Lancet Diabetes & Endocrinology no mesmo ano.

Por aqui, o remédio ainda não tem indicação na bula para o tratamento de obesidade, mas diante dos resultados positivos na redução de gordura corporal em diabéticos, o Ozempic já é considerado uma evolução no combate à obesidade e já é uma abordagem utilizada por médicos em consultórios nacionais. “É de praxe receitar um medicamento que trate de um problema mesmo sem constar na bula”, diz Mario.

Atenção ao efeito rebote

A problemática que envolve o Ozempic é que o medicamento ganhou ares de fórmula mágica para emagrecer, despertando ainda mais a preocupação dos especialistas.

“Quem tem IMC acima de 25 é considerada uma pessoa obesa e esta é uma condição séria e complicada. Quem começa um tratamento com um remédio precisa entender que ele é contínuo e não pode ser suspenso sem indicação médica”, explica Maria Teresa.

O tratamento para um mês custa cerca de R$ 800 e tem efeitos colaterais persistentes como enjoos e náuseas. Ao usar o Ozempic a fim de inibir o apetite e suspender o uso por conta própria, é certo que o paciente volte a engordar – às vezes, ganhando o dobro de peso que conseguiu eliminar. “O medicamento não deve ser usado visando perder aqueles poucos quilos extras”, afirma a professora.

Em nota enviada à GQ Brasil, a empresa Novo Nordisk informa sobre o uso correto do medicamento Ozempic:

Em referência à reportagem publicada no dia 6 de março, com menção ao uso da semaglutida para emagrecimento, a Novo Nordisk, empresa global de saúde com mais de 95 anos de inovação e liderança no tratamento do diabetes, pautada em seu compromisso com a saúde pública, afirma que não foi consultada previamente à divulgação da matéria e que, de nenhuma forma, endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label (em desacordo com a bula).

A respeito da liraglutida, os medicamentos Victoza e Saxenda, apesar de apresentarem a mesma substância ativa (liraglutida), são medicamentos com indicações distintas que estão de acordo com as exigências regulatórias e possuem aprovações distintas fundamentadas em estudos clínicos robustos.

A Novo Nordisk reforça que qualquer tratamento deve ser prescrita e acompanhada por um médico especialista. A empresa ressalta ainda que segue a regulamentação vigente no país e possui rígidas regras de conduta ética, de transparência e de compliance, visando garantir que todas as suas atividades e de seus colaboradores sejam realizadas dentro da lei.

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