Embarcar no trem em Realengo, subúrbio carioca, descer na Central do Brasil e pegar o metrô até Botafogo. O trajeto de 40 quilômetros terminava com uma caminhada até a agência de talentos. Essa era parte da rotina de Diogo Defante na infância, acompanhado da mãe, Maria Lourdes. “Ela tinha certeza de que nasci para virar artista.” Na época, o investimento só rendeu testes de elenco, frustrados, e a participação em um programa de TV obscuro.
Mas foi a convicção da mãe, que faleceu de câncer cerebral quando ele tinha 15 anos, que forjou sua confiança. “Isso me deu a certeza do que queria fazer na vida, sem pensar em um plano B”, afirma o humorista de 33 anos, seguido por mais de seis milhões de pessoas nas redes e eleito Homem do Ano na categoria Conteúdo Digital do prêmio Men Of The Year 2023.
A ideia principal, de trabalhar com entretenimento, foi executada em duas frentes: em uma, despejava suas ideias na busca por protagonismo; na outra, pagava as contas e aprendia mais sobre audiovisual, caminho que decidiu trilhar.
Equilibrou-se nessa gangorra desde que tentou emplacar sua banda de hardcore melódico Let’s Go, formada com amigos de escola, enquanto gravava e editava o conteúdo digital da Rádio Tupi. O ofício rendeu a bagagem técnica para sua primeira aventura como youtuber, o canal Kaozada, em 2012, e a inspiração para o que viria a ser seu maior sucesso até aqui: o quadro Repórter Doidão — por causa da versatilidade e do poder de improviso de Pedro Costa, que percorria as ruas do Rio ouvindo reclamações da população, enquanto Defante empunhava a câmera.
Decidiu, então, começar seu canal solo. “Chamei o Dan Lessa para filmar e avisei que não conseguiria pagá-lo, mas ele disse ‘vai dar bom’. É meu sócio até hoje.” No vídeo inaugural, já avisava que faria “umas loucuras na rua”. “Eu tinha o instinto de que precisava manter aquilo vivo, porque minha mãe estava certa de que nasci para isso.” Seu humor sem noção provoca risadas pelo espanto e pelo constrangimento, mas principalmente arranca reações genuinamente hilárias das pessoas com quem interage.
A gravação com a resposta desbocada de um garoto à expressão “baby baby do baby do biruleibe leibe” viralizou e despertou a monetização do canal. Os novos visitantes passaram a maratonar o conteúdo. “Sempre me coloquei à disposição do acaso”, reflete. Mas o receio de ser como "uma banda de um hit só" o incomodava. “Ia ser difícil acertar de novo, mas quebrei essa barreira.” A bolha estourou de vez quando foi contratado por Casimiro Miguel (integrante do time Men of the Year de 2022 desta categoria) para virar repórter da CazéTV na cobertura da Copa do Catar.
Pelas rígidas regras de comportamento do país, criou-se a expectativa de que ele teria problemas com a polícia local. “Não poderia frustrar a galera”, diverte-se. Foram algumas advertências sem consequências severas. Defante acredita que o clima de festa tornou o ambiente seguro. “Estava todo mundo feliz, inclusive os seguranças” — que até dançaram com ele. A participação turbinou seus números e ganhos com publicidade. Também no fim de 2022, estreou o programa Rango Brabo, bate-papo culinário no canal Podpah. Dinheiro deixou de ser uma questão entre sua arte e a sobrevivência.
“O que vale para mim é pagar minhas continhas e fazer o que amo. Por isso, foco em conquistar independência financeira para me enfiar em projetos cada vez mais malucos, que, se não forem rentáveis, tudo bem.” Com essa mentalidade, Defante retomou o sonho musical.
Neste ano, lançou o álbum Robson, com faixas escrachadas em levada punk rock, e subiu ao palco do Circo Voador. “Fiquei sete anos tentando fazer com que as pessoas cantassem músicas da minha banda. Ali, respirei exatamente o que sonhava.” A empreitada conta com a companhia de seu irmão Hugo na guitarra. Tudo para a satisfação do pai, Carlos Alberto. “Ele se emocionou no show, quando botei a camisa do Bangu, para mostrar o orgulho que temos da nossa origem. Quando pulei na galera, ele falou: ‘Pô, ali eu vi que gostam muito de você’
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