Cultura

Cauã Reymond desejou durante anos fazer uma viagem para a ilha paradisíaca de Bali, na Indonésia. Pela complexidade do destino, o ator carioca de 43 anos esperou uma brecha na agenda para realizar o sonho de surfar em ondas asiáticas e se desligar da rotina intensa de trabalho. Em um ano e meio, ele engatou duas novelas das 9 na Globo: Um Lugar ao Sol, em 2021, e Terra e Paixão, de 2023.

Agora, finalmente, conseguiu o respiro. No início do mês passado, quando concedeu esta entrevista, estava prestes a embarcar (ele retornou ao Brasil no último dia 28). A aventura internacional precede outra, esta profissional e bastante ambiciosa. Mata-mata, título ainda provisório, será a sua primeira vez assinando como criador.

A produção do Globoplay, que possivelmente irá para a TV aberta, jogará luz sobre os bastidores do futebol brasileiro mirando temas espinhosos que cercam os vestiários, a exemplo de abuso sexual de esportistas de base, corrupção nos clubes, abuso de drogas e assédio moral. Deve ser lançada no próximo ano ou no início de 2026. As filmagens começam em setembro, no Rio de Janeiro.

A ideia para o projeto, do qual Cauã também será um dos protagonistas, surgiu há 5 anos e bebeu da série Ballers (2015), estrelada por Dwayne Johnson, que acompanha a vida de atletas do futebol americano fora dos gramados. “Fiquei curioso para saber como seria aqui. Decidi, então, realizar um trabalho investigativo. Contratei uma roteirista e procurei agentes, ex-assessores e jogadores. Quando vi, estava mergulhado por conta própria nesse mundo”, relata à GQ Brasil.

Cauã Reymond veste look total Dolce&Gabbana — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste look total Dolce&Gabbana — Foto: Ivan Erick

Torcedor fiel do Flamengo, Cauã descobriu a afinidade com a bola de forma prática, diferentemente do que aconteceu com o jiu-jítsu, que tem um papel mais significativo em sua vida. Ele é faixa-preta em quinto grau e venceu dois campeonatos profissionais durante a adolescência. “Aos 25 anos, passei a me interessar por futebol para ter papo com o meu irmão, que veio morar comigo aos 17. Também fiz aulas para interpretar o Jorginho (jogador de futebol) em Avenida Brasil, em 2012”, lembra.

Cauã apresentou um esboço da obra a executivos da emissora no meio da pandemia, mas o “sim” final demorou a chegar, após diversas negociações. “No início, avisei o pessoal: ‘Sei que sou novato nesse território e, se vocês se interessarem, peço que me ajudem com um grande time. Caso contrário, preciso dizer que não desistirei’.”

O apelo surtiu efeito. Nomes de peso aparecem à frente da produção. Amauri Soares e José Luiz Villamarim assumem a direção-geral e Bruno Safadi, a direção cinematográfica. O roteiro é de Thiago Dottori e a supervisão de texto, de Lucas Paraizo. O ator frisa que seu envolvimento se restringe à criação inicial e à atuação. Ele teme que seu nome “roube a cena” dos colegas. “Sou uma peça da engrenagem”, explica.

Cauã Reymond veste look total Dior Men — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste look total Dior Men — Foto: Ivan Erick

Com 22 anos de carreira na TV e nos cinemas, o artista teve experiência com produção apenas em longas-metragens. Em 2015, fundou a produtora Sereno Filmes com Mario Canivello, seu ex-empresário. Nas telonas, foi produtor associado de Alemão (2014) e Tim Maria (2014) e coprodutor de Reza a Lenda (2016), Não Devore Meu Coração (2017) e Uma Quase Dupla (2018).

O passo maior nesse papel se deu em 2022 com A Viagem de Pedro, dirigido por Laís Bodanzky, que destaca a figura controversa de Pedro I. A obra levou mais de vinte indicações em festivais, a exemplo do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

“Ao longo dos anos, eu me descobri uma mente criativa. Minha caminhada como ator soma mais de duas décadas, o que me dá segurança e tranquilidade. Como produtor e criador, meu lugar é de humildade. Aprendo a cada reunião”, analisa. A ambição de assinar direção e roteiro ainda não aparece em seus planos. “Se um dia amadurecer a ponto de ocupar o posto de showrunner, vou adorar, mas existe uma longa caminhada.”

Multi-facetas

Cauã Reymond veste look total Louis Vuitton — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste look total Louis Vuitton — Foto: Ivan Erick

Cauã despontou como ator aos 21 anos, com um visual de surfista — pele bronzeada e cabelos cacheados, sustentados por uma tiara —, para o personagem Maumau, de Malhação (2002). O carioca havia acabado de chegar de Nova York, onde viveu por dois anos. Lá, trabalhava como modelo e cursava artes cênicas por meio de uma bolsa de estudos concedida pela preparadora de talentos Susan Batson.

“Na época, meu pai me disse: ‘Pronto, agora a sua vida está feita’. E eu respondi que não, muito pelo contrário”, recorda. “A ‘Malhação’ era como uma peneira para os jovens atores, não só de idade, mas de profissão. Nem todos eram chamados para um próximo trabalho.” Felizmente, os convites para atuar nunca pararam. Hoje, seu currículo contabiliza doze novelas e seis minisséries.

Novos talentos

Ao refletir sobre o que mudou em sua área nas últimas décadas (a chegada de influenciadores digitais nas telinhas é uma das novidades), o astro acredita que termos novos rostos na TV é tão importante quanto prepará-los.

“Gostaria de ver o mesmo que fizeram comigo. A oferta de um personagem no qual o ator se sinta confortável para evoluir e crescer. Isso é saudável para todo mundo. Se eu tivesse estreado em uma novela já com um papel grande, provavelmente precisaria voltar algumas casinhas. Sinto falta da ‘Malhação’ e de projetos nesse sentido. Precisei de um tempo para ganhar segurança”, observa.

Como exemplo, ele cita a ex-companheira Grazi Massafera, com quem se relacionou por seis anos e tem uma filha, Sofia, de 11 anos. “Ela se tornou uma atriz fenomenal, indicada ao Emmy Internacional, mas começou com muito preconceito. É natural que as pessoas tenham dificuldade no início. Ninguém nasce sabendo.”

Insegurança

Cauã Reymond veste look total Zegna — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste look total Zegna — Foto: Ivan Erick

Tido como um dos galãs de sua geração, Cauã afirma que tal título já foi um fantasma que o assombrou. “Houve um momento em que, sim, achava que não conseguiria me provar para as pessoas. Recebi grandes oportunidades de diretores e autores incríveis, que me deram personagens distantes do estereótipo de mocinho. Agora não vejo mais problema em preencher esse lugar na dramaturgia”, diz.

Para chegar a tal resolução, contou com ajuda da terapia e lembra de uma situação que ocorreu há cinco anos. “Estava no avião e peguei uma dessas revistas de aeroporto com a manchete: ‘O grande galã’. E era o Antonio Fagundes. Pensei: ‘Tomara que eu chegue aos 70 anos com uma trajetória tão bonita quanto essa’. Ele e o Tony (Ramos) são grandes referências para mim.”

Workaholic

Cauã Reymond veste blazer, regata e calça Dolce&Gabbana | Relógio Montblanc — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste blazer, regata e calça Dolce&Gabbana | Relógio Montblanc — Foto: Ivan Erick

O global diz fazer o tipo que assiste a tudo, seja lá o gênero, sempre em busca de qualidade. “Sou curioso demais. Revisito desde o cinema dos anos 70 até as séries novas. Se é cult, comédia, romance, não importa.” O mesmo ocorre ao escolher as obras futuras. “É uma das coisas que mais me dão tesão como profissional”, explica.

Cauã se define como um viciado em trabalho. “Esses dias perguntei ao meu pai por que ele sempre me enchia de atividades na adolescência. Ele respondeu que ficava com medo de que o meu excesso de energia acabasse no lugar errado.” A busca pelo ócio criativo tornou-se sua eterna perseguição. Ele sente como se sua mente não se desligasse. “Sempre tento otimizar a rotina: enquanto faço uma coisa, aproveito para fazer outra. Pode ser bom, mas também angustiante.”

Próximos passos

Cauã Reymond veste casaco Boss | Meias Calzedonia | Botas Louie — Foto: Ivan Erick
Cauã Reymond veste casaco Boss | Meias Calzedonia | Botas Louie — Foto: Ivan Erick

Além do seriado autoral engatilhado, o carioca se vê escalado para mais uma novela das 9, em 2025. A oportunidade de trilhar caminhos internacionais pintou algumas vezes e, em todas, ele afirma ter recusado para não acabar distante da filha.

Atualmente, assegura que não descartaria uma proposta do tipo. “Fiquei lisonjeado com os convites que recebi, mas a criação dela sempre foi minha prioridade. Tenho guarda compartilhada, e Sofia está virando uma adolescente. Se acontecesse de passar uns meses fora do país, não seria mais um contratempo.”

Onde adquirir a GQ de maio

A nova edição, que conta também com a capa de Tadeu Schimdt, já disponível nas bancas ou no aplicativo Globo+ e na loja virtual, com entrega para a Grande São Paulo e para Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Campinas. Para fazer sua assinatura e receber em casa, clique aqui.

Diretor de conteúdo: Fred Di Giacomo
Fotografia: Ivan Erick
Edição de moda: Paulo Martinez
Coordenação de moda: Cuca Elias
Gerente de fotografia: Enzo Amendola
Editor de arte: Victor Amirabile
Texto: Ana Beatriz Gonçalves
Beleza: Esthéphane Luz
Produção executiva: Daniel Cruz e Ricardo Gusmão
Assistente de moda: Pedro DDN
Set design: Liu Anno e Victor Amirabile
Assistentes de fotografia: Luan Zanini e Thiago Lima
Tratamento de imagem: Philipe Mortosa
Agradecimento: Thinkers

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