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Por Camila Cetrone, Redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Pílulas de Cytotec — Foto: James Keyser/Getty Images
Pílulas de Cytotec — Foto: James Keyser/Getty Images

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), três em cada dez gestações no mundo terminam em um aborto induzido. Só no Brasil, uma em cada sete mulheres já fizeram um aborto até os 40 anos, segundo a última Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), de 2021. Ou seja, o procedimento é um evento comum na vida de mulheres e pessoas capazes de gestar. No entanto, a OMS alerta que 45% das vezes em que ele acontece, é de maneira clandestina e insegura. E isso devido a criminalização e dificuldade de acesso a serviços de saúde que existem dentro dos países.

É nesse cenário que o Misoprostol (também conhecido como Cytotec) se faz tão importante. No Brasil, ele é o principal método medicamentoso usado nos serviços de aborto legal. E é justamente assim porque o remédio tem altas taxas de eficácia e conta com poucas contra indicações e efeitos colaterais. Isso, somado à capacidade de reduzir o número de complicações e mortes do aborto inseguro, faz com que organizações internacionais como a OMS recomendem que o Misoprostol seja disponibilizado sem impedimentos, em farmácias por exemplo.

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Em suas diretrizes sobre cuidados no aborto, atualizadas em 2022, a OMS afirma que a interrupção da gestação via medicamentos “revolucionou o acesso a cuidados de qualidade no aborto a nível mundial”. Se usado nas primeiras 12 semanas, o remédio tem eficácia de 98,5%. Em países onde o procedimento é legalizado, como Argentina, Inglaterra e País de Gales, geralmente o Misoprostol é usado em combinação com o Mifepristona (não disponível no Brasil).

Além das diretrizes da OMS sobre como administrar o medicamento, o Ministério da Saúde brasileiro lançou, em 2012, um protocolo de orientação sobre o Misoprostol para profissionais de saúde.

O que é o Misoprostol e quando pode ser usado?

O médico Olímpio Moraes, professor de medicina da Universidade de Pernambuco (UFPE), diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que o Misoprostol é um medicamento sintético análogo da prostaglandina E1, um fármaco vasodilatador.

Seu uso inicial era voltado ao tratamento e prevenção de úlceras gástricas. No entanto, foi identificado que o medicamento causa contrações uterinas capazes de expulsar o embrião ou feto do útero.

Além de ser usado para a realização do aborto no sistema de saúde brasileiro, o Misoprostol também pode ser administrado em outros casos, inclusive quando é necessário induzir o trabalho de parto.

Mulheres protestam pela legalização do aborto no Brasil — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Mulheres protestam pela legalização do aborto no Brasil — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Misoprostol também é aplicado para esvaziar o útero por morte embrionária ou fetal, nos casos de perda gestacional, ou para amolecer o colo cervical, caso o aborto seja realizado por Aspiração Manual Intrauterina (AMIU, outro método considerado seguro pela OMS) ou curetagem (intervenção cirúrgica que a OMS considera obsoleta).

Seu uso para a indução da interrupção da gestação foi descoberto por brasileiras em 1986, quando perceberam que o remédio estimula a musculatura uterina. “Na bula havia um desenho que mostrava que o medicamento era abortivo. Assim, as mulheres pararam suas tentativas de encontrar formas, chás e medicamentos para abortar de maneira segura com o remédio” contextualiza Debora Diniz, antropóloga e uma das principais pesquisadoras sobre aborto no Brasil.

É possível comprar Misoprostol em farmácias no Brasil?

Por aqui, a venda do Misoprostol em farmácias é proibida há 25 anos pela Portaria 344, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A pílula consta na Lista C1 da Anvisa – ou seja, de substância sujeitas a controle especial (Lista C1) – e só pode ser administrada em ambiente hospitalar.

A posse ou venda do Misoprostol é criminalizada pelo Artigo 273 do Código Penal, com previsão de pena de 10 a 15 anos de prisão.

Isto porque, no Brasil, o aborto só é permitido por lei em três casos: gestação decorrente de estupro, de feto anencéfalo ou que gera risco da vida à pessoa gestante.

Fora dessas definições, ele é proibido pelos Artigos 124 e 126 do Código Penal: o primeiro diz que é ilegal provocar um aborto em si mesma, com previsão de pena de um a três anos de prisão; e o segundo criminaliza abortos feitos por um terceiro com consentimento da pessoa gestante, com pena de um a quatro anos de prisão.

Por que o Misoprostol é considerado seguro?

“O aborto medicamentoso é extremamente seguro principalmente quando realizado até o terceiro mês de gravidez”, explica o médico Olímpio Moraes. Ele ressalta que, na maioria dos países em que o aborto é legalizado, o procedimento não necessita de internação.

Nesta reportagem em que Marie Claire conta a história do Misoprostol, o ginecologista e obstetra Jefferson Drezett, referência no procedimento que coordenou por mais de 25 anos o serviço de aborto legal do Hospital Pérola Byington em São Paulo, apontou que a segurança do uso do medicamento está ligada ao fato de ter poucas contra indicações.

No Brasil, ao longo da década 1990, foram realizadas pesquisas para compreender o alcance e os impactos do Misoprostol no casos de aborto. Isso porque os efeitos abortivos do medicamento foram descobertos pelas brasileiras.

Segundo o estudo 20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil, publicado em 2009 e coordenado pela antropóloga Debora Diniz e pela médica Marilena Corrêa, profissionais de saúde da década de 1990 defenderam o uso do medicamento por não oferecer riscos, já que a pílula diminuía índices de hemorragia, infecção, esterilidade e os riscos de morte por aborto inseguro.

Como funciona o aborto com Misoprostol?

Nos casos de indução de aborto de maneira segura, o medicamento pode ser usado via oral, sublingual, vaginal ou retal. As diretrizes da OMS indicam que o uso sublingual do Misoprostol é considerado mais eficaz. Mas o médico Olímpio Moraes explica que, no Brasil, só está disponível a administração do Misoprostol via vaginal.

O método usado para administrar o medicamento, bem como a quantidade utilizada, variam de acordo com a idade gestacional do feto.

Segundo as diretrizes do Ministério da Saúde do Brasil, gestações a serem interrompidas após a 22ª semana de gestação devem ser feitas com supervisão intensificada.

Há contra indicações para o uso de Misoprostol?

Olímpio Moraes afirma que o medicamento é contraindicado em poucos casos. “Um deles é a gravidez fora do útero, o que chamamos gravidez ectópica. Outra contraindicação pode ser o uso durante uma crise asmática”, diz.

Para Jefferson Drezett, há contra indicações em casos de doenças hepáticas, cardíacas ou de coagulação. Nestes cenários, o aborto continua sendo seguro, mas é preciso que seja feito em ambiente hospitalar e com supervisão médica.

O Ministério da Saúde do Brasil também não recomenda o uso do Misoprostol em casos de cirurgia uterina prévia, como partos cesáreas, e placenta prévia. Também não é recomendado usá-lo de maneira combinada com ocitocina.

Existem efeitos colaterais relacionados ao uso de Misoprostol?

O protocolo do Ministério da Saúde aponta que os efeitos colaterais não são graves, e são similares aos que podem aparecer com o uso de outros medicamentos regulares. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão vômitos, diarreia e dor abdominal. A paciente também pode sentir febre, mas, segundo o documento brasileiro, não há comprovação científica que relacione o aumento da temperatura corporal com o uso de Misoprostol.

Anteriormente, Jefferson Drezett também destacou a Marie Claire que outro efeito adverso comum é o sangramento similar ao do período menstrual, além de cólicas. Segundo ele, é preciso buscar atendimento médico se o sangramento for muito intenso, se as cólicas forem muito fortes ou se o aborto não foi concluído.

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