Eu, Leitora
Por , Alessanddra Nirrwaan, em depoimento a Marie Claire — São Paulo (SP)

“Tive minha primeira filha muito jovem, aos 16 anos. Naquela época, não pensava em casamento ou em formar uma família, pois éramos muito novos, tanto eu quanto meu namorado na época. Ele tinha apenas 18 anos e não tínhamos o sonho de nos casar. No entanto, devido à pressão familiar, acabamos nos casando. O casamento não durou muito, principalmente por nossa imaturidade na época. Meu pai disse que se eu decidisse me separar, poderia voltar para casa, então foi o que fiz.

Nesse período, eu já estava cursando Teatro na faculdade e trabalhava em uma companhia. Foi lá que conheci aquele que seria meu segundo esposo e tivemos uma filha juntos. Infelizmente, ele não era fiel, e descobri várias traições. O casamento chegou a um ponto insuportável em que, apesar de ele pedir perdão repetidamente, continuava traindo. Não consegui mais e entrei em uma depressão profunda, pois já tinha duas filhas e era muito jovem. Eu queria ter uma família, ser feliz, mas infelizmente não foi possível naquele momento.

Após cinco anos separada, conheci outra pessoa, que veio a ser o pai do meu terceiro filho. Quando começamos a nos envolver, deixei claro para ele que não queria apenas namorar. Eu já tinha duas filhas e desejava construir uma família sólida para proporcionar segurança a elas, algo que nunca tinham acontecido antes comigo.

Ele parecia muito comprometido desde o início, mostrando preocupação genuína com as minhas filhas. Logo pediu minha mão em casamento e foi conhecer meus pais. Nos casamos e, dois anos depois, tivemos um filho juntos. Quando esse meu filho completou seis meses, minha filha mais velha, que na época tinha 12 anos, começou a mudar. Achei que fosse por culpa da chegada da adolescência e comecei a pesquisar para ajudá-la da melhor forma possível, apoiando-a na escola e em tudo mais.

Passaram-se dois anos desde o casamento quando, um dia, estávamos juntas no quarto dela e ela me disse. 'Mãe, se eu te contar uma coisa, você não vai acreditar.’ Respondi que sempre acreditaria nela. Então, ela começou a chorar muito. Minha filha me contou que o padrasto dela, que era meu marido na época, estava tentando algo com ela. Todas as noites ele acordava, ia para o quarto dela, e a tocava. Fiquei horrorizada!

Naquele dia, estávamos todos em casa, e quando ela começou a me contar isso, passei a sentir muito medo dele, porque pensei: ‘meu Deus, tenho uma pessoa aqui dentro de casa que não conhecia, não sabia do que ele era capaz’. Chamei minha outra filha, coloquei as duas no quarto delas, tranquei a porta e guardei a chave comigo. Depois, peguei meu bebê e chamei meu ex-marido para o quarto.

Quando estava com meu bebê no colo, eu o encarei e disse que sabia o que ele estava fazendo. Seu rosto ficou pálido como papel, completamente branco. Ele virou a cabeça para baixo e admitiu que não conseguia controlar seu ‘problema’. Assim que ele saiu, imediatamente chamei a polícia e fui até o quarto, onde as meninas estavam chorando. A Vitória, minha filha do meio na época com cerca de sete anos, não entendia completamente o que estava acontecendo. Foi então que minha jornada com a Justiça começou, pois denunciei meu ex-marido.

Levou oito anos para que ele fosse preso, mas finalmente aconteceu. Ele foi condenado a 17 anos e meio de prisão, cumprindo dois anos em regime fechado antes de ser transferido para o regime aberto. Enquanto lutava, passei muito tempo levando minhas filhas à psicóloga e buscando tratamento para ajudá-las a superar tudo o que haviam passado. Foi uma situação extremamente dolorosa, muito difícil de superar para todos nós.

Depois do trauma, pensei que não teria mais nenhum relacionamento. Achei que aquilo seria o fim, que não haveria mais nada, porque não conseguia confiar em ninguém. Então, alguns anos depois, comecei a dar aulas e também a me interessar por fotografia. Desde criança, sempre tive paixão pela área, mas quando estava trabalhando para sustentar minhas filhas e meu filho mais novo, comecei a fotografar nas horas vagas para ganhar um dinheiro extra.Dec


Decidi fazer uma pós-graduação em História da Arte, focando minha pesquisa em um fotógrafo indiano que admirava há muitos anos. Quando meu irmão foi para Portugal estudar, o levei ao aeroporto e pensei: ‘Agora é minha vez. Agora eu vou fazer algo que desejo muito.’ Decidi que concluiria minha pesquisa e conheceria um país que sempre amei: a Índia.

Alessandra se apaixonou pela fotografia e fez sua pesquisa na Índia — Foto: Reprodução/ Instagram
Alessandra se apaixonou pela fotografia e fez sua pesquisa na Índia — Foto: Reprodução/ Instagram

Em 2012, realizei minha primeira viagem para a Índia, onde fiz minha pesquisa e fotografei diversos locais. Conheci muitas pessoas e famílias indianas que me acolheram durante minha estadia. Fui ao país duas vezes e, ao retornar, continuei conhecendo mais locais, tanto pessoalmente, quanto online. Na época, o Facebook estava em alta, e participei de um grupo de fotógrafos onde tudo mudou: foi lá que conheci um novo amor.

Ele sempre me mandava mensagens no privado, conversávamos muito. Ele tinha uma filha e era casado, mas na época não sabia muito sobre a vida dele. Quando meu filho completou cinco anos, ele me mandou uma mensagem dizendo que seu filho acabara de nascer, mas que sua esposa havia falecido durante o parto devido a uma embolia pulmonar. Foi uma situação muito difícil. Fiquei chocada com tudo isso, especialmente por saber que as crianças eram pequenas e o bebê precisou ficar muitos dias na UTI.

Durante esse período, nos aproximamos bastante. Alguns meses depois, ele mencionou que seu pai já estava em busca de uma nova esposa, porque na Índia os casamentos arranjados são comuns. Porém, ele disse que estava muito apaixonado por mim e que queria que eu fosse sua esposa, queria que eu cuidasse de seus filhos. Ele também demonstrou o desejo de cuidar de mim, especialmente após tudo o que eu havia passado.

Apesar da distância entre nós, concordei em ficarmos juntos. Ele ficou muito animado e começou a planejar sua vinda ao Brasil. No entanto, eu ainda carregava os traumas das experiências passadas e duvidava que as coisas pudessem dar certo. Ele se mostrava uma pessoa muito transparente e honesta, sempre me incluindo em videochamadas com sua família.

Com o tempo, as coisas foram se tornando mais claras para mim. Eu pensei que poderia ir para a Índia para fazer um teste, ver se daria certo ou não. Um dia ele mencionou algo sobre casamento, e eu respondi, ‘Mas espera, casamento? Você nunca mencionou isso, você disse que ficaríamos juntos, não?’. Ele explicou que na Índia, ninguém vive junto sem casar no papel, que casamento é uma questão importante lá. Foi então que me pediu em casamento oficialmente. Eu concordei, mas lá no fundo, tinha minhas dúvidas.

Brasileira vive há 10 anos na índia por causa do marido — Foto: Reprodução/ Instagram
Brasileira vive há 10 anos na índia por causa do marido — Foto: Reprodução/ Instagram

Minha família ficou muito desconfiada no início, quando ele veio para o Brasil com sua filha de cinco anos. Não aceitavam bem a ideia, meu pai chegou a dizer que eu estava arruinando minha vida. Mas quando viram meu esposo, eles simplesmente se apaixonaram por ele. Adoraram conhecê-lo. Ele conversou com meu pai, contou sobre seu trabalho, sua família e suas condições, disse que poderia cuidar de mim.

Naquela época, ele fez o convite para eu ir para a Índia com todos os meus filhos. No entanto, minha filha mais velha já tinha sua própria vida e não tinha interesse em se mudar. Minha filha do meio, que morava com o pai, também decidiu que não gostaria de ir. Para mim, que era apaixonada pela Índia, foi uma decisão difícil, mas minhas filhas não compartilhavam do mesmo entusiasmo. Assim, levei apenas meu filho mais novo comigo.

Fomos para a Índia inicialmente para conhecer a família do meu esposo. Quando chegamos lá, sua mãe nos recebeu calorosamente, assim como sua irmã, que veio de outro país para nos encontrar. Todos os amigos também nos acolheram bem. No entanto, seu pai permaneceu recluso no quarto, não participava das refeições conosco e demonstrava claramente que não estava feliz.

Após seis meses, retornei ao Brasil. Mas, em 2014, voltei definitivamente à Índia para me casar. Enquanto me preparava para partir, o pai do meu esposo o chamou e disse que os planos dele não estavam de acordo com sua vontade. Ele já tinha arranjado um casamento com uma moça de uma família muito boa e rica, como é comum nos casamentos arranjados, que são vistos como negócios entre famílias. Insistiu para que meu esposo desistisse de seus planos e aceitasse esse casamento arranjado.

Meu marido explicou que já havia resolvido tudo comigo, que eu já estava lá e que ele queria se casar por amor desta vez. O pai dele então disse que se ele escolhesse se casar por amor, teria que sair de casa, porque na Índia os filhos geralmente moram com os pais após o casamento. Foi então que meu esposo decidiu ir embora, dizendo que se seu pai não me queria lá, então ele iria embora. E assim foi.

Quando cheguei à Índia, fui diretamente para um hotel. Meu filho e minha cunhada, que também estava vindo de outro país, foram comigo para lá. Ficamos por um tempo enquanto meu esposo enfrentava algumas dificuldades para conseguir uma casa na cidade onde ele morava, que era um vilarejo. Finalmente, ele conseguiu uma casa, mas sua vida financeira foi arruinada porque seu pai tirou tudo dele. Os negócios da família eram administrados de forma familiar, e meu marido foi retirado da empresa. Naquela época, ele teve que contar com a ajuda de amigos para se reerguer.

Curitibana era mãe de 3 filhos quando conheceu seu atual marido — Foto: Reprodução/ Instagram
Curitibana era mãe de 3 filhos quando conheceu seu atual marido — Foto: Reprodução/ Instagram

Nos casamos com a bênção do avô dele. O avô tinha uma mente muito mais aberta e nos abençoou para que seguíssemos em frente com nosso casamento conforme nosso desejo. Realizamos uma cerimônia de casamento muito bonita e assim começamos nossa história juntos. Na Índia, vivíamos com nossos três filhos: dois dele e um meu. Minhas filhas tinham ficado no Brasil. Não planejávamos ter mais, já que tínhamos nosso bebê pequeno para cuidar. Decidimos que era suficiente. Meu filho mais novo se adaptou muito bem à Índia. Hoje, aos 16 anos, ele fala todas as línguas locais perfeitamente, sem sotaque. Ele se integrou tão bem que ninguém diria que ele não é indiano.

Os meus filhos indianos se adaptaram muito bem a mim. A filha deles sempre quis ter uma mãe, e quando eu cheguei, ela me recebeu com muito carinho e abriu seu coração. Ambos sempre me chamaram de mãe, e temos uma relação genuína de mãe e filhos, que não deixa nada a desejar comparado ao meu filho biológico e ao meu esposo. Apesar de não termos planejado, engravidei depois de cinco anos de casada, justo quando meu esposo estava prestes a fazer a cirurgia de vasectomia. Fiquei um pouco desesperada, já que tinha 40 anos na época, mas foi uma verdadeira bênção que trouxe muita alegria às nossas vidas. Hoje ele está aqui, com 5 anos de idade.

Durante todos esses anos, lidei com muitos problemas relacionados aos meus traumas passados de desconfiança. Eu tinha medo de que meu marido pudesse me trair e até mesmo deixá-lo sozinho com as crianças. No entanto, ao longo do tempo, ele me transmitiu muita segurança. Hoje, graças a Deus, não temos mais nenhum problema desse tipo. Confio completamente nele, pois ele é uma pessoa íntegra, de bom caráter. Isso foi extremamente importante em minha vida, pois precisei lidar com meus traumas por muito tempo, mas felizmente consegui superá-los devido ao nosso relacionamento sólido.

O pai do meu esposo, infelizmente, nunca mais quis contato com ele. Eles ficaram quase 10 anos sem se falar. Faz dois meses que meu sogro teve um sério problema de saúde, os médicos suspeitam que possa ser câncer no sangue. Meu marido soube disso enquanto conversava com minha sogra e decidiu visitar seu pai, mesmo depois de anos sem se encontrarem. Seu pai não estava se alimentando há meses e relutava em buscar tratamento médico. Meu marido conseguiu convencê-lo a iniciar o tratamento de saúde, que agora ele faz aqui na nossa cidade, onde nos mudamos recentemente.

O pai dele já veio aqui em casa algumas vezes para as consultas, mas ele não me olha, mesmo que eu o cumprimente e ofereça chá ou café. Ele também não olha para os meus filhos. Só conversava com meu marido, como se nada tivesse acontecido, mas apenas em relação ao tratamento de saúde. Ele também conversa com os netos que já eram da falecida nora dele. Parece que nunca aceitou nossa família, inclusive nosso filho mais novo, mas nós não sabemos se isso um dia irá mudar.

Alessandra demonstra seu amor pela Índia nas redes sociais — Foto: Reprodução/ Instagram
Alessandra demonstra seu amor pela Índia nas redes sociais — Foto: Reprodução/ Instagram

Hoje, enquanto passamos por esses desafios, também celebramos 10 anos de aniversário de casamento. Viver aqui na Índia para mim é como ser uma eterna turista. Todos os dias quando saio na rua, percebo algo diferente, algo que me encanta, seja uma cena bonita, as roupas coloridas das pessoas, o jeito delas, ou como vendem frutas e vegetais nas ruas de maneira única. O cumprimento com namastê também é algo que me chama atenção, é um gesto tão significativo.

Desde que cheguei aqui, exceto pelo meu sogro, todos demonstram tanto interesse e amor por mim. As pessoas querem saber como é viver na Índia, se gosto do país, e também querem saber sobre o Brasil, como se eu fosse uma estrangeira, o que me faz sentir acolhida.

Hoje, trabalho como professora de fotografia na universidade local e é uma experiência maravilhosa. As pessoas me tratam tão bem, me fazem sentir bem-vinda e valorizada. Recentemente, até abri meu próprio estúdio de fotografia aqui, o que tem sido muito gratificante. Tenho uma vida normal, trabalho, cuido dos meus filhos, viajo bastante, conheço muitos lugares e continuo aprendendo muito.”

Mais recente Próxima 'Deixei o quilombo para entrar na universidade, encarei o racismo e ajudei a transformar a Psicologia com os saberes ancestrais do meu povo'
Mais do Marie Claire

Ela compartilhou um longo texto nas redes sociais em homenagem ao cantor; veja

Virgínia Fonseca faz festa para comemorar 4 anos com Zé Felipe e se declara: 'É minha alma gêmea'

Em sequência de fotos nas redes sociais, Ludmilla mostra produção caprichada; veja fotos

De minissaia, Ludmilla aposta na tendência da calcinha à mostra e Brunna Gonçalves reage: 'Vem pra casa'

Musa atemporal, Luma de Oliveira encanta fãs com vídeo ousado compartilhado nesta quinta-feira (27)

Luma de Oliveira encanta fãs ao aparecer em ensaio na praia: 'Sempre maravilhosa'

Além de brilho, cosméticos prometem lábios maiores e outros ganhos, como combate ao ressecamento. Produtos estão disponíveis para compra a partir de R$ 17

Gloss que aumenta a boca: 6 opções que hidratam e dão volume

Executiva teve ordem de prisão preventiva decretada pela Justiça nesta quinta-feira, mas está em Portugal, acusada de participar de fraude contábil de R$ 25,3 bilhões

Quem é Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora da Americanas foragida e com o nome incluído na Interpol?

Deborah Secco curte parque aquático com a filha nos Estados Unidos; ela abriu álbum de fotos com momentos ao lado de Maria Flor

Deborah Secco curte parque aquático com a filha nos Estados Unidos: 'Dia perfeito'

Há muito tempo as sombras ganharam um novo formato: o bastão. Práticos e funcionais, esse produto é tudo o que você precisa para ter na bolsa

7 sombras em stick para uma maquiagem prática no dia a dia

Confira unhas decoradas inspiradas em festas juninas para fazer sucesso nas comemorações de São João

Unhas decoradas para São João que vão fazer você arrasar nas festas juninas

Natural de Goiânia, Lila Lourenço chegou a gravar um vídeo após comentários dos fãs

Influenciadora rebate ataques por semelhança com mulher de Gusttavo Lima: 'Não imito ninguém'

Em publicação nas redes sociais, influenciadora apareceu ao lado do marido em vídeo inusitado; veja

'Meu presente vai fazer tudo o que você quiser', dispara Virgínia Fonseca ao comemorar 4 anos com Zé Felipe