Cultura
Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Entenda o motivo pelo qual filmes de terror com freiras estão em alta; na foto, Sydney Sweeney em Imaculada, que chega ao Brasil em 30 de maio — Foto: Divulgação
Entenda o motivo pelo qual filmes de terror com freiras estão em alta; na foto, Sydney Sweeney em Imaculada, que chega ao Brasil em 30 de maio — Foto: Divulgação

Castas, obedientes e abnegadas. Assim são as chamadas “esposas de Cristo” – ou melhor, assim esperam que sejam –, alcunha que é dada para uma freira a partir do momento que ela escolhe abdicar de sua vida para viver em nome de Deus. Mas o que acontece quando uma delas se rebela, fugindo da própria escolha?

Desde o início de sua existência, o cinema se apropria da imagem da freira para contar histórias – desde o clássico musical A Noviça Rebelde (1965) até a comédia infantil Mudança de Hábito (1992). Não é diferente no cinema de horror: nestes filmes, a figura da freira é subvertida, profanada e, muitas vezes, passa longe da atribuição de santidade que se espera delas.

Nos últimos cinco anos, Hollywood percebeu o poder da freira em seus filmes, sobretudo, como uma maneira de falar sobre o status dos direitos das mulheres no mundo. Ou melhor, o retrocesso deles. Só neste ano, os cinemas foram tomados por dois lançamentos com enredos praticamente idênticos: A Primeira Profecia, lançado nos cinemas brasileiros em abril, e Imaculada, que chega por aqui na próxima quinta-feira (30).

O primeiro, dirigido pela norte-americana Arkasha Stevenson, é uma prequel do clássico A Profecia (1976) e acompanha a noviça Margaret (Nell Tiger Free), que se vê em meio a uma conspiração de que o Vaticano estaria planejando o nascimento de um filho do Diabo para angariar mais fieis em meio a um mundo em decadência. O segundo, estrelado por Sydney Sweeney (uma das queridinhas da nova geração de atores hollywoodianos), acompanha como uma freira vai do Céu ao Inferno ao descobrir uma gravidez concebida por um suposto milagre.

"É impossível não olhar para os filmes de freiras e não enxergar uma discussão sobre a agência e autonomia do corpo feminino, além das disputas cada vez mais evidentes acerca dos direitos reprodutivos. A raiz dos roteiros também está na crítica ao controle sistêmico destes corpos, que é o que instituições religiosas ou políticas tentam fazer", diz Gabriela Larocca, historiadora que pesquisa horror na cultura pop, no cinema e na literatura.

Faz parte da essência do cinema de horror detectar quais são as ansiedades, medos e preocupações sociais de seu tempo e, dessa forma, poder falar sobre elas usando do fantástico, do nojento ou do assustador. Isso faz com que, a depender do período, um subgênero específico fique em alta por melhor evocar esse zeitgeist.

“O horror nesses filmes é uma forma de fazer paralelos com a vida. São elementos que viram alegorias para falar de problemas reais”, pensa Carissa Vieira, que é roteirista e criadora de conteúdo com foco em negros, mulheres e horror no audiovisual.

Ela acrescenta que, além das discussões sobre gênero, o boom nos filmes de terror com freiras também refletem preocupações relacionadas à ascensão da agenda do conservadorismo e da extrema direita, tanto no Brasil como no mundo. “Quando se mexe com a igreja, se mexe com o conservadorismo. Ao colocar o mal dentro desses lugares sacros, os filmes estão tecendo críticas à religião de forma muito contundente."

A profanação de Maria na Terra

Tanto A Primeira Profecia como Imaculada foram realizados após a Suprema Corte dos Estados Unidos reverter o litígio judicial Roe v. Wade, que desde 1973 legalizava e regulamentava a realização do aborto em todo país.

Agora, o cenário é de muitas incertezas: 14 países reduziram ou baniram, total ou parcialmente, o procedimento em seus territórios. Além disso, há tentativas de instaurar um banimento nacional e dificultar acesso aos medicamentos abortivos ou pílulas contraceptivas nas farmácias.

No Brasil, essa demanda também ressoa com força. Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter dado seu primeiro voto favorável à descriminalização do aborto até a 12ª semana, em 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) tenta, neste momento, proibir médicos de realizaram a assistolia fetal, técnica recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a realização do aborto legal no país em gestações acima da 20ª semana (atualmente, suspensa pelo STF).

Essa resolução amedronta os médicos no país de terem a licença cassada. Além disso, há fechamentos de serviço de aborto legal referência no país, além da tramitação e sanção de leis que dificultam o acesso aos casos em que o procedimento é legal.

Mas por que o terror elege as freiras como as figuras ideais para evidenciar as angústias que resultam dessas decisões?

Nell Tiger Free e Sônia Braga estrelam A Primeira Profecia, que discute autonomia e controle sobre corpos das mulheres — Foto: Divulgação
Nell Tiger Free e Sônia Braga estrelam A Primeira Profecia, que discute autonomia e controle sobre corpos das mulheres — Foto: Divulgação

Larocca afirma que existe o fator fascínio e curiosidade sobre quem são essas mulheres que escolhem viver uma em meio as outras, reclusas em um convento. Esse fascínio, em muitos casos, se converte em medo. Por outro lado, há a intenção de chamar a atenção de forma subversiva e polêmica. Desta forma, a mensagem é passada de uma maneira mais forte, mesmo que divisiva.

“Quando pensamos numa freira, imaginamos numa figura quase intocável, imaculada, uma versão de Maria na Terra – que inclusive teve Jesus sem jamais ser tocada. É incômodo e disruptivo quando vemos esse corpo sair do lugar de intocável e ser profanado”, diz Vieira.

Por outro lado, de quais mulheres estes filmes estão falando? Todas as protagonistas dos filmes expoentes do gênero (incluindo os da nova onda) são brancas; por mais, que numa sociedade também racista e supremacistas, esses reveses têm efeitos mais severos para mulheres negras.

"Além do histórico da igreja de colocar pessoas brancas em posição de poder em detrimento de pessoas negras, há um imaginário coletivo de que mulheres brancas são puras, enquanto as negras são fetichizadas, relegadas a papeis secundários ou violentadas de forma mais natural", analisa Vieira.

"Se tivéssemos um filme como Imaculada protagonizado por uma mulher negra, as pessoas comprariam da mesma forma? Acho que deveriam."

Novo nunsploitation

Trecho de Os Demônios (1975), dirigido por Ken Russel, um dos expoentes do nunsploitation — Foto: Divulgação
Trecho de Os Demônios (1975), dirigido por Ken Russel, um dos expoentes do nunsploitation — Foto: Divulgação

Subverter a figura das freiras nas telonas não é novidade. Nos anos 1970, o subgênero nunsploitation (junção das palavras freira e exploração, em inglês) ganhou popularidade e viveu seu auge ao colocar em foco freiras que estão longe dos moldes cravados pela santidade.

Coincidentemente, também foi nos anos 1970 que a segunda onda do movimento feminista nos EUA e na Europa explodiu, sob o lema de que o individual é político. Foi quando discutiram, o ambiente doméstico, a pílula anticoncepcional e o próprio aborto, por exemplo.

Entre alguns exemplos de nunsploitation da época estão o britânico Os Demônios (1975), dirigido por Ken Russell; o mexicano Satânico Pandemonium (1975), de Gilberto Martínez Solares; e o italiano A Freira Assassina (1978), de Giulio Berruti. Em geral, eram filmes de baixo orçamento regados a sexo, violência e, em muitos casos, fetichização, que evocavam freiras de ares demoníacos, cheias de maldade.

Os filmes eram todos dirigidos por homens, e Larocca diz que partiam de uma premissa que evoca a repressão à sexualidade do corpo feminino, mas também as noções cristãs de que o corpo feminino é mais vulnerável às questões terrenas. Essa lógica remonta aos escritos entre séculos dois e cinco, de autores como Jerônimo, Agostinho e Tertuliano – este último, por exemplo, descreve que a mulher é a porta de entrada do demônio no mundo.

A grande novidade da volta de produção e procura do público por este tipo de filme está, justamente, no fato de que essa estrutura patriarcal passou a se reverter com mais mulheres alcançando cargos de decisões criativas e mercadológicas nos bastidores. Isso torna o gênero menos exploratório e mais preocupado em se atualizar para alcançar as discussões contemporâneas.

Por exemplo, Larocca diz que A Primeira Profecia é um dos primeiros próximo ao nunsploitaiton a ser dirigido por uma mulher, o que marca essa nova roupagem do subgênero.

Além de estrelar Imaculada, Sydney Sweeney tornou-se a porta-voz do projeto. Por mais que tenha direção e roteiro assinados por homens – respectivamente, Michael Mohan e Andrew Lobel –, Sweeney é produtora executiva do longa. Foi ela quem trabalhou para tirar o projeto da geladeira e o reformulou para entoar as preocupações de seu tempo.

"Queriam mantê-la [sua personagem, Cecília] viva e segura porque ela estava grávida com algo com o que se importavam, mas não se importaram com o bem-estar emocional dela. Só cuidaram para ter certeza de que seu corpo estava bem. Não resta nenhuma humanidade nisso", afirmou à GQ norte-americana.

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