Cultura
Por , colaboração para Marie Claire


Deborah Colker, a referência internacional na criação de espetáculos coreografados — Foto: Peu Fulgencio
Deborah Colker, a referência internacional na criação de espetáculos coreografados — Foto: Peu Fulgencio

A situação é lembrada com gargalhadas. Em outubro do ano passado, logo após a bem-sucedida estreia da ópera Ainadamar, na Escócia, sua criadora, a coreógrafa Deborah Colker, estava na festa do lançamento quando recebeu os

parabéns de um homem polido cujos passos eram atentamente acompanhados por todos. “Obrigado, mas por que só você está bebendo? Me traz um copo dessa bebida para a gente conversar”, disse ela, para surpresa do sujeito. Enquanto ele, ainda aturdido, foi atrás do pedido, várias pessoas cercaram Deborah. “Como você fala assim com Peter Gelb, simplesmente o diretor-geral do Metropolitan de Nova York, a mais importante companhia de ópera do mundo?”, questionaram.

“Eu sabia vagamente sobre a importância dele, mas preferi quebrar o gelo para a conversa fluir melhor”, conta Deborah, que, com seu estilo descontraído, conquistou a simpatia do homem conhecido por um tom ríspido e pela firmeza com que gerencia o Met, lar dos maiores cantores, dos melhores figurinistas e dos cenários mais elaborados do mundo da ópera. o resultado foi positivo: Deborah conseguiu manter alguns detalhes da sua concepção para a estreia de Ainadamar no met, no dia 15 de outubro. E já prepara Frida, ópera sobre Frida Kahlo, que deve estrear em abril de 2026 no met. “Tenho até setembro deste ano para entregar esboços do cenário”, conta.

Trabalhos intensos e complexos não intimidam a carioca Deborah Colker, que, aos 63 anos, tornou-se referência internacional na criação de espetáculos coreografados. À frente da companhia de dança que leva seu nome que completa 30 anos em julho, ela comandou eventos de grande porte, como o espetáculo Ovo para o Cirque du Soleil (2009), e criou a direção de movimentos da cerimônia de abertura da olimpíada de 2016, no Rio.

Com o tempo, Deborah apurou seu estilo até promover a rara convivência entre a dança contemporânea profissional e o gosto popular. Sem fazer concessões, ela estabeleceu uma gramática para o corpo em espetáculos tão distintos como Casa, Nó e Cruel; se aproximou das artes plásticas em 4 por 4; e atingiu a sofisticação ao incorporar narrativas clássicas à sua dança, como em Tatyana (a partir da leitura de Eugene Onegin) e principalmente em Cão Sem Plumas, espetáculo de 2017 inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto e que iniciou uma trilogia na qual cada obra explora aspectos distintos da experiência humana.

Depois vieram Cura (2021), inspirado na luta da coreógrafa contra a doença rara de seu neto Theo, hoje com 14 anos. ele sofre de epidermólise bolhosa, que provoca feridas na pele ao menor atrito. O projeto nasceu de sua indignação diante do que não tem cura (“não conseguia suportar essa informação”, diz).

E a trilogia se fecha agora com Sagração, que estreou no Rio em fevereiro e tem apresentações marcadas em várias cidades ao longo do ano. Inspirado no clássico A Sagração da Primavera, de Stravinsky, o trabalho se baseia em visões ancestrais sobre a origem do mundo, mas com uma concepção bem brasileira. “Stravinsky é meu timoneiro: como ele utilizou povos originários russos, eu fui atrás dos mitos ancestrais do brasil”, conta Deborah, que visitou o território indígena do Xingu onde acompanhou o ritual Kuarup, que objetiva trazer os mortos de novo à vida.

De lá, voltou convencida de que o bambu seria a principal inspiração para a coreografia (“É um exemplo de tolerância e resiliência, pois verga, mas não quebra”) e, aos acordes de instrumentos de orquestra, adicionou sons brasileiros produzidos por flautas de madeira, maracás, caxixis e tambores.

“A dança tira o que está dentro de cada um, escondido e incompreendido”
— Deborah Colker
Deborah criou a direção de movimentos da cerimônia de abertura da Olimpíada de 2016, no Rio — Foto: Peu Fulgencio
Deborah criou a direção de movimentos da cerimônia de abertura da Olimpíada de 2016, no Rio — Foto: Peu Fulgencio

“É uma obra difícil de ser dominada musicalmente porque Stravinsky rompeu com vários conceitos naquele ano de 1913”, afirma Deborah, que criou um espetáculo minimalista, marcado por cores e expressividade.

Ao mesmo tempo, ela cuida dos preparativos da estreia americana de Ainadamar. Em maio, comanda as audições em Nova York; em agosto, os detalhes técnicos; em setembro, inicia os ensaios para estrear em outubro.

A ópera escrita pelo argentino Osvaldo Golijov é uma das apostas do Met, agora pressionado para trazer títulos contemporâneos a fim de atrair um público mais jovem. A ópera é ambientada na Espanha do início do século 20, quando o poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca (1898-1936) é assassinado pelos nacionalistas franquistas durante a Guerra Civil Espanhola, justamente por sua postura antifascista e sua aberta homossexualidade. Deborah ganhou permissão para incluir dança na montagem, notadamente a flamenca.

“Lorca é apaixonante, é como o David Bowie de ‘Ziggy Stardust’, que uniu pedaços de todos os lugares para se tornar ele mesmo”, conta ela, com o mesmo desembaraço que marca sua carreira, iniciada na dança contemporânea. Em 1984, a convite da atriz Dina Sfat, criou o que depois o diretor Ulysses Cruz chamou de “direção de movimento”, técnica de desenvoltura corporal para adaptar o gestual de qualquer tipo de personagem – os movimentos dos bonecos-cachorros da TV Colosso nos anos 1990, por exemplo, foram um de seus grandes trunfos.

Foi com tal bagagem que fundou sua companhia em 1994. O primeiro espetáculo, Vulcão, estreou no mesmo dia em que a seleção brasileira derrotou a Holanda na Copa do mundo dos EUA. “o público estava eufórico”, relembra ela, para quem a dança tem um poder expressivo de comunicação. “Nosso corpo é a nossa casa. E a dança tira o que está dentro de cada um, escondido e incompreendido, e expressa isso por meio do movimento.”

Trabalhos intensos e complexos não intimidam Deborah Colker. Sem fazer concessões, estabeleceu uma gramática para o corpo — Foto: Peu Fulgencio
Trabalhos intensos e complexos não intimidam Deborah Colker. Sem fazer concessões, estabeleceu uma gramática para o corpo — Foto: Peu Fulgencio
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