Vacina é Saúde
 

Por Fernanda Tsuji


Muitas dúvidas e receios acompanham o nascimento de um prematuro e, no meio do turbilhão de cuidados, a vacinação pode ficar como uma tarefa para ser executada depois. Há até quem acredite que esses bebês são frágeis demais para receberem imunizantes... Nada disso. No caso dos pequenos que vêm antes do tempo, a imunização se faz ainda mais fundamental, já que nem sempre receberam os anticorpos maternos via placenta, como você entenderá logo mais, e não é certeza de que conseguirão ser amamentados logo que nascerem.

O Brasil ocupa o 9º lugar no ranking dos dez países com as maiores taxas de prematuridade, segundo o documento “Prematuridade Recorrente: dados do estudo Nascer no Brasil”, de 2022, publicado na Revista de Saúde Pública, que analisou informações de um inquérito hospitalar desenvolvido em 2011 e 2012, sob coordenação da Fiocruz.

Prematuros também tomam vacina — Foto: Getty Images
Prematuros também tomam vacina — Foto: Getty Images

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como prematuro o bebê que chega ao mundo com menos de 37 semanas de gestação. “Há, no entanto, desafios diferentes para lidar com a preservação da vida dos extremos, que nascem com menos de 28 semanas, comparados àqueles nascidos mais perto das 37”, explica o pediatra e neonatologista Gabriel Variane, conselheiro científico da ONG Prematuridade e fundador da PBSF – Protegendo Cérebros e Salvando Futuros.

Afinal, quanto menor a idade gestacional, menos desenvolvido estará o sistema imunológico. Por isso, argumentos como “mas ele é tão pequenino, dá dó de vacinar” precisam ser combatidos com fatos. A Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP) contabiliza que as taxas de atraso vacinal podem variar de 30% a 70% em prematuros, o que é preocupante.

“Os estudos mostram que o risco de adoecimento e de evolução para formas graves do prematuro aumenta muito para qualquer uma das doenças do calendário infantil e é desproporcional em relação à defesa que esse bebê tem”, reforça o pediatra, infectologista e neonatologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP.

Basicamente, o prematuro receberá as vacinas do primeiro ano de vida indicadas a todos os bebês, mas com algumas particularidades. Elas devem ser ofertadas na idade cronológica (contada a partir da data do nascimento) e é preciso também tomar o palivizumabe, um anticorpo monoclonal que protege contra o vírus sincicial respiratório (VSR), o principal agente de infecções respiratórias em crianças menores de 1 ano, responsável por doenças como a bronquiolite.

Esforço que vale a pena

Consciente da importância da vacinação, a analista de programação Luana de Jesus Gomes Vieira, 25 anos, já enfrentou três horas de viagem, diversas vezes, de sua pequena cidade, Itapajé (CE), até Fortaleza, só para vacinar o filho. Levi, 3 anos, nasceu de 30 semanas, durante a pandemia, em 2020. Por causa disso, ficou na UTI neonatal com diversas restrições para evitar a contaminação. Foram quatro meses sem que Luana pudesse ver o filho, já que as visitas eram proibidas. “Quando ele teve alta, procuramos o posto da cidade para seguir com as vacinas, mas, para aplicar o palivizumabe, íamos até Fortaleza”, diz a mãe.

Luana conta com orgulho da caderneta completa do filho, porque não foi tarefa fácil. Para poder vaciná-lo com a pneumocócica 13, por exemplo, disponível apenas na rede particular, os pais do Levi tiveram que fazer uma rifa: “É um sacrifício, mas sei que é de extrema importância manter a vacinação do prematuro”.

O neonatologista Gabriel Variane concorda: “A imunização é um dos meios mais eficazes para combater as doenças infecciosas e colabora substancialmente para a redução da mortalidade”. A seguir, saiba mais sobre essa proteção tão primordial e tenha em mente que não é hora de hesitar. Os prematuros precisam dela.

Há risco em vacinar prematuros?

Natural ter dúvidas, mas é preciso ir além dos medos, munido de ciência. “Muitos estudos foram feitos para entender se as vacinas são seguras, se apresentam efeitos adversos e se oferecem proteção adequada em quem tem o sistema imunológico imaturo. E todos os dados até hoje mostram que tanto a segurança quanto a eficácia são critérios absolutamente cumpridos. Com o esquema vacinal completo, a resposta é muito semelhante à de bebês a termo”, explica Kfouri.

A enfermeira Cláudia Matos Bachman, 32 anos, lembra que demorou um tempo até assimilar todas as informações da chegada prematura das gêmeas Helena e Valentina, com 28 semanas de gestação, mas nem por um segundo duvidou da segurança das vacinas. As bebês ficaram 46 dias na UTI, e hoje, com 1 ano e 6 meses, seguem saudáveis e fortes, o que a mãe atribui também à caderneta toda preenchida. “Eu sou da área da saúde, então sei da importância de vacinar. E os prematuros, por conta dos pulmões, têm de tomá-las mesmo. As vacinas salvam vidas”, diz.

Eles são mais vulneráveis a desenvolver doenças?

Quanto menor a idade gestacional, menos desenvolvido é o sistema imunológico, o que pode ocasionar maior vulnerabilidade a processos infecciosos. “Sabemos que a passagem de imunoglobulinas e anticorpos da mãe para o bebê é mais proeminente no final da gestação, após 30, 32 semanas. Ou seja, isso significa que quem nasceu antes pode ter um prejuízo em relação a essa imunidade”, explica a pediatra Romy Schmidt, coordenadora da equipe de Neonatologia do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

A pediatra ainda ressalta que nem sempre é possível contar com a proteção que viria do aleitamento, já que não são todos os bebês que conseguem ser amamentados na UTI logo que nascem. “O leite materno é essencial para também transmitir anticorpos e, apesar de alguns prematuros não serem capazes de ir diretamente para o seio, é importante oferecer esse leite”, orienta.

Por que os males respiratórios os acometem mais?

Um dos órgãos mais afetados é o pulmão, por isso, esses bebês estão mais sujeitos a doenças respiratórias, principal causa de reinternação de prematuros. “Uma coisa é o bebê desenvolver o pulmão no melhor ambiente possível, o útero, outra é ele precisar fazer isso fora, com ventilação mecânica, com possíveis infecções e uma série de agressões. É bastante desafiador”, explica o neonatologista Variane.

E uma das ameaças que mais acomete esses bebês é o vírus sincicial respiratório (VSR), como abordamos no início da reportagem. Segundo o boletim InfoGripe, da Fiocruz, o VSR só perde para o SARS-CoV-2 (20,7% contra 67,8%, respectivamente) na prevalência de casos positivos virais registrados este ano no Brasil, em todas as faixas etárias. E entre crianças de 0 a 4 anos, ele é responsável por 59% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

As reações adversas aos imunizantes são piores?

No geral, não costumam diferir muito dos bebês a termo: ou seja, dor e vermelhidão no local da picada, febre e irritabilidade. Há ainda uma questão que pode ocorrer com a vacina pentavalente. “Em alguns casos, ela pode gerar um evento cardiorrespiratório - quando há repercussão cardíaca (sendo a mais frequente a bradicardia, frequência cardíaca abaixo do normal para a idade) e respiratória (apneia, quando a respiração para por alguns segundos), e, por isso, recomenda-se a acelular, que tende a ter menos efeito colateral”, afirma o neonatologista Gabriel Variane.

Ele explica que, antes da picada, dá para ministrar um anti-inflamatório. “Estudos apontam que isso diminui o risco de eventos cardiorrespiratórios”, diz Variane. Renato Kfouri afirma: “Pode dar paracetamol ou ibuprofeno, sem problemas”. Já a pediatra Romy complementa, dizendo que os prematuros podem não ter a parte do cérebro que comanda a respiração tão desenvolvida e, às vezes, ter essas pausas respiratórias. “Por conta da reação, como febre e mal-estar, ele fica mais cansado e pode fazer apneia. É por isso que devem ser vacinados, preferencialmente ainda na UTI, para garantir o monitoramento e a segurança”, diz Romy.

Quando não vacinar o prematuro?

Segundo os especialistas, é preciso adiar quando bebês prematuros estão em graves condições, como em casos de instabilidade hemodinâmica (pressão arterial instável), distúrbio metabólico e quadros infecciosos (como choque séptico em função de infecção hospitalar ou bronquiolite grave). Gabriel Variane completa: “Mas é só durante esse período. Tão logo venha a estabilidade, mesmo que na UTI neonatal, é preciso vacinar”, diz.

Palivizumabe e imunoglobulinas: cuidados extras

O palivizumabe não é uma vacina, mas um anticorpo contra o vírus sincicial respiratório (VSR). “Na vacina, damos o agente e a criança produz os seus próprios anticorpos. Neste caso, aplicamos o anticorpo ‘pronto’”, explica Gabriel Variane. É indicado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para bebês com até 28 semanas no primeiro ano de vida, e para os com até 32 semanas nos primeiros seis meses. Mas como se respeita a particularidade de cada criança, o médico é quem planeja quando começar a aplicação, de acordo com a sazonalidade de maior circulação do vírus.

Já as imunoglobulinas são anticorpos que devem ser aplicados no bebê em casos especiais, quando a mãe possui doenças, como hepatite B, tétano ou varicela. “Ao nascer, o bebê precisa receber, além das vacinas, a imunoglobulina para evitar a transmissão vertical (de mãe para filho)”, afirma Kfouri. É o caso da imunoglobulina anti-hepatite B (IGHAHB), de acordo com a SBIm, aplicada preferencialmente nas primeiras 12 a 24 horas de vida, e até, no máximo, o sétimo dia de vida; da antivaricela zóster (IGHVZ), que deve ser aplicada em até 96 horas do nascimento; e antitetânica (IGHAT), dada a prematuros com risco potencial de tétano.

As vacinas do prematuro

Nessa lista, você encontra as vacinas indicadas para o bebê prematuro. Lembre-se: é importante considerar sempre a idade cronológica (a partir do nascimento) para todo o esquema vacinal.

BCG ID

  • Para quê? Protege contra a tuberculose
  • Quando: Na maternidade, ao nascer, mas apenas para bebês com peso maior ou igual a 2 kg. Se estiver abaixo, espera-se atingi-lo para vacinar
  • Onde: Rede pública e particular

Hepatite B

  • Para quê? Protege contra a Hepatite B
  • Quando: Logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida, independentemente do peso. As outras doses, de acordo com o calendário da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), seguem o esquema 0-2-4-6 meses em RNs nascidos com menos de 2 kg ou menor que 33 semanas
  • Onde: Rede pública. Na UBS, hepatite B e a vacina combinada tríplice bacteriana de célula inteira (DTPw) combinada com a hepatite B e haemophilus. No CRIE*, hexa acelular. Na rede particular, hexa acelular.

*Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais

Rotavírus

  • Para quê? Protege contra o rotavírus
  • Quando: Iniciar aos 2 meses, mas respeitando o limite de 3 meses e 15 dias (após esse prazo, de acordo com Variane, não vacina mais). Podem ser 2 doses (vacina monovalente) ou 3 doses (vacina pentavalente)
  • Onde: Na rede pública, a monovalente e particular, monovalente e pentavalente

Tríplice bacteriana

  • Para quê? Protege contra a difteria, a coqueluche e o tétano
  • Quando: Iniciar aos 2 meses no esquema 2-4-6, com reforço aos 15 meses e entre 4 e 6 anos. Preferencialmente com vacinas acelulares
  • Onde: Rede pública. Na UBS, tríplice bacteriana de célula inteira (DTPw) combinada com a hepatite B e haemophilus. No CRIE, penta e hexa acelular. Rede particular, DTP acelular, penta e hexa acelular

Haemophilus influenzae tipo B (Hib)

  • Para quê? Protege contra doenças como meningite e pneumonia
  • Quando: Iniciar aos 2 meses, no esquema 2-4-6 meses e reforço aos 15 meses. Dê preferência à vacina combinada pentavalente (tríplice bacteriana combinada com a poliomielite e haemophilus) ou hexavalente (tríplice bacteriana combinada com a poliomielite, hepatite B e haemophilus)
  • Onde: Rede pública. Na UBS, tríplice bacteriana de célula inteira (DTPw) combinada com a hepatite B e haemophilus. No CRIE, Hib, penta e hexa acelular. Rede particular, Hib, penta e hexa acelular

Poliomielite inativada (VIP)

  • Para quê? Protege contra a poliomielite
  • Quando: Iniciar aos 2 meses, no esquema 2-4-6 meses, com reforço aos 15 meses e entre 4 e 6 anos. Dê preferência à vacina combinada DTPa
  • Onde: Rede pública. Na UBS, VIP. No CRIE, VIP, penta e hexa acelular. Rede particular, penta e hexa acelular

Pneumocócica conjugada (VPC10 ou VPC13)

  • Para quê? Protege contra doenças como meningite e pneumonia
  • Quando: Iniciar aos 2 meses, no esquema 2-4 meses, com reforço aos 12 meses para a VPC10, de acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI). A SBIm sugere dar preferência para o uso da VPC13 que protege contra mais subtipos no esquema 2-4-6 meses com reforço entre 12 e 15 meses
  • Onde: Rede pública, VPC10. Rede particular, VPC10 e VPC13

Meningocócicas conjugadas ACWY ou C

  • Para quê? Protege contra meningites e doenças meningocócicas
  • Quando: No caso da meningocócica C, o PNI recomenda iniciar aos 3 meses, no esquema 3-5 meses, com reforço entre 12 e 15 meses. No caso da ACWY que, além de proteger contra o sorogrupo C, também protege contra os sorogrupos A, W e Y , o esquema varia de acordo com o fabricante
  • Onde: Rede pública, C . Rede particular, C e ACWY

Meningocócicas B

  • Para quê? Protege contra meningites e doenças meningocócicas
  • Quando: Duas doses com intervalo de dois meses entre elas Idealmente aos 3 e 5 meses e uma dose de reforço entre 12 e 15 meses
  • Onde: Rede particular

Influenza

  • Para quê? Protege contra a gripe
  • Quando: Iniciar a partir dos 6 meses e seguir as campanhas de sazonalidade do vírus. Crianças de 6 meses a 2 anos devem tomar duas doses com intervalo mínimo de quatro semanas. Dê preferência para a vacina influenza 4V, que possui maior cobertura das cepas circulantes
  • Onde: Rede pública, 3V. Rede particular, 3V e 4V

Fonte: Calendário da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para prematuros

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