• Amanda Oliveira
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Com a pandemia da covid-19, o mundo voltou sua atenção para o coronavírus. No entanto, outros vírus também têm ganhado mais espaço, principalmente com o relaxamento das medidas protetivas, como a redução do uso de máscaras. Na semana de 6 a 12 de março, a positividade de testes para o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) cresceu de 0,5% para 5,2%, segundo o levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), sendo as crianças as mais afetadas. De acordo com a pesquisa, 77% dos casos de infecções por vírus respiratório em crianças de 0 a 9 anos foram causados por VSR

No total, o ITpS analisou 528.393 testes moleculares, entre 19 de dezembro de 2021 e 12 de março deste ano, para o diagnóstico de infecções causadas por coronavírus, Influenza A ou VSR. Os dados foram enviados por três laboratórios parceiros. 

Na última semana da análise, de 6 a 12 de março, 71% dos testes positivos (entre crianças e adultos) indicaram infecção por SARS-CoV-2, 21% por VSR e 1,9% por Influenza A (gripe).

Quanto ao coronavírus, os números apontam para um bom caminho. Em relação ao total de testes realizados, a positividade — que alcançou 60% após a chegada da variante Ômicron —  está em 9,9%. Segundo o ITpS, aparentemente a variante BA.2 da Ômicron, que se espalhou pela Europa e China e provocou novo pico de casos, ainda não causa o mesmo impacto no país.

Bebê doente no colo da mãe (Foto: Shutterstock)

Cresce a positividade de testes para o VSR (Foto: Shutterstock)

VSR em crianças 

Em entrevista à CRESCER, Anderson Brito, pesquisador científico do ITpS e responsável pelo levantamento, alerta que a positividade do VSR vem crescendo entre as crianças mesmo fora da sua sazonalidade. Vale lembrar que o vírus costuma circular entre os meses de maio e setembro, isto é, em períodos mais frios, em que as pessoas ficam mais em locais fechados. 

"Atualmente, o vírus que afeta mais crianças nessas últimas semanas tem sido de fato o VSR", afirma o cientista. Para se ter uma comparação, Anderson revelou que 79,7% dos casos de VSR reportados na semana 6 a 12 de março foram observados na faixa etária de 0 a 9 anos. Em relação às crianças e jovens de 10 a 19 anos, esse número chegou a apenas 7%. No caso da covid-19, 21% das infecções por vírus respiratórios foram causadas pelo coronavírus em crianças de 0 a 9 anos.

O pesquisador explica que durante a pandemia, com o aumento das medidas restritivas, as crianças tiveram menos contato com o VSR. Agora, com o retorno das aulas e maior interação social, abriu-se uma janela para o aumento de casos. Diante dessa situação, Anderson pede para que os pais fiquem atentos aos sintomas dos filhos. "Não tomem como certo que as crianças estão apenas com um resfriado comum", ressalta. 

Segundo o especialista, é importante fazer os testes nas crianças e, se necessário, isolá-las, principalmente no caso dos pequenos que vivem com pessoas mais vulneráveis. Brito também alerta que mesmo com alguns estados brasileiros tirando a obrigatoriedade de máscara em locais fechados, como escolas, vale manter o uso da proteção facial. "É uma medida precipitada", aponta o pesquisador. 

O que é o VSR 

Esse tipo de vírus acomete o trato respiratório das crianças, principalmente daquelas com até 2 anos de idade, e pode ocasionar desde uma simples tosse até uma pneumonia mais grave, mas a manifestação mais comum é a bronquiolite viral aguda. Por isso, é importante observar caso seu filho tenha falta de ar e cansaço, pois essas são algumas das principais manifestações clínicas do agente. 

O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que o agente viral tem em sua estrutura proteínas que o ajudam a se incorporar em nossas células, sendo muito semelhante ao coronavírus. O especialista também aborda um dado interessante ao comparar as hospitalizações por covid-19 com outras doenças respiratórias. O médico destacou que os menores de 1 ano são mais atingidos por outros vírus respiratórios do que pelo SARS-CoV-2.

Diante desse cenário, o infectologista enfatiza a importância de adotar medidas de prevenção contra o VSR. Infelizmente, ainda não temos uma vacina para deter o vírus, porém, podemos usar alguns aliados. Um deles é o palivizumabe, um anticorpo monoclonal artificial, que se liga ao vírus para impedir a entrada dele em nossas células. "É prevenção e imunização, não é vacina", aponta o médico. "Os anticorpos mostraram uma altíssima efetividade na redução de hospitalização de formas graves, até do chiado recorrente", acrescentou o especialista.

Como é uma tecnologia cara, esse tipo de anticorpo não é oferecido para todas as crianças. O principal foco são os pequenos com maior risco, como os prematuros. O Minist��rio da Saúde oferece gratuitamente o palivizumabe para os seguintes grupos: 

- Crianças com menos de 1 ano de idade que nasceram prematuras com idade gestacional menor ou igual a 28 semanas.

- Crianças com até 2 anos de idade com doença pulmonar crônica ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica demonstrada.

Para a criança receber o palivizumabe, é necessária uma recomendação médica. Vale destacar que cada município tem os seus protocolos, então consulte a prefeitura de sua região, caso seu filho se encaixe nos critérios do Ministério da Saúde.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também recomenda que a aplicação seja feita em prematuros que nasceram entre 29 e 32 semanas de gestação. Inclusive, a instituição iniciou uma campanha para reforçar a prevenção em relação aos casos de vírus sincicial respiratório (VSR) em bebês que chegam ao mundo antes do tempo. "Um bebê mais vulnerável é como se a gente tivesse dentro de casa um imunocomprometido, alguém com câncer, alguém transplantado. O bebê prematuro tem uma imunidade mais rebaixada e por isso é mais vulnerável não só ao VSR, como à gripe, coqueluche e às pneumonias", reforça Kfouri.

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