Vacina é Saúde
 

Por Fernanda Tsuji, Crescer


Talvez tenhamos esquecido, mas a poliomielite já foi uma das doenças mais temidas na infância dos nossos avós e pais. Graças à vacina, introduzida no início da década de 50, os casos de paralisia infantil – nome popular da doença – passaram a ser mais raros, até sumirem do nosso cotidiano.

Mas não se engane, o poliovírus nunca deixou de existir. Por se tratar de uma ameaça global, em 1988, foi criada a Iniciativa de Erradicação Mundial da Poliomielite, com participação da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), além de outros parceiros que desenvolveram abordagens estratégicas para que a doença pudesse ser controlada. E, de fato, foi. O número de casos caiu em 99% nos últimos anos: de 350 mil casos estimados, em 1988, para 29 casos notificados, em 2018, e 80% da população vivendo hoje em regiões consideradas livres da doença – apenas Paquistão e Afeganistão apresentam o vírus selvagem. Sim, a comunidade médica usa o termo vírus selvagem do meio ambiente, porque é justamente o vírus que está na natureza, causando a infecção.

A poliomielite voltou a ser uma ameaça para crianças e adultos — Foto: Getty Images
A poliomielite voltou a ser uma ameaça para crianças e adultos — Foto: Getty Images

No Brasil, o último caso de que se tem registro é de 1989, segundo dados da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), e há 28 anos foi considerada eliminada do país. As campanhas do Zé Gotinha sempre movimentaram os postos de vacinação. O cenário era positivo. No entanto, em 2022, surgiram indícios para alerta. Em julho, os Estados Unidos registraram o primeiro caso da doença desde 2013 (e em setembro, o estado de Nova York decretou estado de emergência, diante da evidência de que o vírus está em circulação). No Reino Unido foram encontrados indícios de poliovírus no esgoto de Londres. Por lá, a decisão foi dar uma dose extra da vacina para mais de 1 milhão de crianças. Casos em Israel e no Malawi também foram registrados no começo do ano. No Brasil, nesta quinta-feira (3), a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) notificou ao Ministério da Saúde que investiga um caso suspeito de poliomelite em um menino de 3 anos de idade, do município de Santo Antônio do Tauá, no nordeste do estado.

Sinal amarelo

O que mudou no mundo para que uma doença – para a qual já existe vacina e estava controlada – voltasse a aparecer? A resposta é clara: baixa adesão vacinal. Se já havia queda nas taxas de imunização de forma geral, desde 2015, a pandemia atrasou ainda mais a ida aos postos. Soma-se a esta conta cruel mais famílias vulneráveis por causa da crise econômica, aumento de fake news e o fortalecimento dos movimentos que duvidam da eficácia das vacinas.

“Temos de bater de frente para provar que foi graças à imunização que eliminamos a pólio, mas que agora pode voltar porque as pessoas deixaram de acreditar na vacina ou que a doença exista”, aponta a infectologista Euzanete Maria Coser, membro do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Departamento de Infectologia da Sociedade Espírito Santense de Pediatria.

Confiança nas vacinas

Dados recentes da OMS e do Unicef revelam que, em 2022, foi registrada a maior queda nas vacinações em 30 anos no mundo todo. No Brasil, em 2021, segundo o Datasus, a cobertura vacinal contra a pólio, especificamente, caiu de 84,2%, em 2019, para 69,94%.

“A OMS fala dos três ‘Cs’ da vacinação: primeiro, confiar na vacina, e nos últimos anos há uma certa desconfiança generalizada. Segundo, conveniência, ou seja, ter o imunizante perto da minha casa; por último, complacência, que é a percepção de risco. ‘Não conheço ninguém com paralisia, então por que vacinar?’. Esses três ‘Cs’ são fundamentais para resgatar as coberturas vacinais”, explica a infectologista Rosana Richtmann, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Não tem mágica. “Enquanto houver a circulação do vírus em algum lugar, o mundo está sob risco, sobretudo quando você baixa a guarda e diminui a vacinação. O poliovírus requer uma cobertura vacinal muito elevada, o que não é fácil. É um baita desafio ter 95% das crianças totalmente imunizadas no país. E desde 2015, com a queda nas coberturas, acumulamos um número de crianças sem anticorpos [para a doença]”, afirma Richtmann.

A Opas calcula que, se a doença não for erradicada, 200 mil novos casos podem surgir no mundo a cada ano. Por isso, é preciso se informar e o mais importante: vacinar. A Campanha Nacional contra a Poliomielite, do Ministério da Saúde, encerrada em setembro, mirou nos menores de 5 anos, totalizando 14,3 milhões de crianças. Segundo o painel de dados da campanha, até o dia 6 de setembro, 35% desse público havia sido imunizado.

A oceanógrafa e diretora de uma empresa educacional Vanessa Mafra Pio, 37 anos, aproveitou a campanha em sua cidade, Rio do Sul (SC), para levar a filha Alice, 2 anos: “Tem doenças com as quais a gente não está mais acostumada e precisa pesquisar para entender, como a pólio. Mas não é porque não está mais aparecendo que podemos relaxar. Quando começa a cair a vacinação, a possibilidade de retornar é grande”, opina ela que, na pandemia, atrasou uma das doses da pólio, mas correu atrás. “Jamais pensei em não vacinar Alice, afinal, a doença só não está mais aqui por causa da vacina”, diz.

As campanhas do Zé Gotinha sempre movimentaram os postos de vacinação — Foto: Getty Images
As campanhas do Zé Gotinha sempre movimentaram os postos de vacinação — Foto: Getty Images

Confira tudo sobre a doença:

1. O que é a poliomielite
Trata-se de uma doença contagiosa, que destrói parte do sistema nervoso e pode causar paralisia flácida, o que, segundo a infectologista Euzanete Coser, “ocorre quando se tem redução do tônus muscular e o doente tem sensação de fraqueza ou paralisia nos músculos”. Costuma acometer, principalmente, crianças menores de 5 anos, mas pode acontecer em qualquer idade, caso a pessoa não esteja com o esquema vacinal completo.

2. Causas
Provocada pelo poliovírus, tem incubação de 5 a 35 dias, e costuma se manifestar cerca de 10 dias após a pessoa tê-lo contraído. “A pólio pode ocorrer por meio do vírus selvagem (PVS), que é aquele que ainda existe no Afeganistão e no Paquistão, ou o vírus derivado da vacina, que é raro”, explica a infectologista Richtmann. Nesse segundo caso, a criança que recebe a vacina libera o vírus atenuado nas fezes e ele cai no esgoto, podendo infectar indivíduos não vacinados.

3. Formas de contágio
A poliomielite é transmitida por meio do contato direto com fezes (fecal-oral), secreções, gotículas ou pela ingestão de alimentos e água contaminados. Como alguns podem ser assintomáticos (ter a doença, mas não apresentar sintomas), o vírus pode se espalhar silenciosamente.

4. Como é feito o diagnóstico
Por meio de pesquisa do vírus em amostra de fezes.

5. Sintomas
São sinais como os de uma gripe: cansaço, febre, dor no corpo, mal-estar, vômito... “Nos casos leves, a pessoa pode ter a doença semelhante a um resfriado. No entanto, 10 a 15 anos depois, é possível que haja uma reativação do vírus e ela sofra sequelas. Então, mesmo uma doença leve que se resolva pode ser reativada com o passar do tempo”, afirma Euzanete. A versão mais grave da doença traz outras complicações: “As principais são a perda da força e dos reflexos. Exemplo disso é uma criança que cai, que não consegue ficar em pé”, aponta a especialista.

6. Consequências da evolução
Em situações ainda mais graves, a paralisia pode subir para os músculos respiratórios. “Quando chega ao diafragma, o paciente não consegue respirar sozinho e vai depender de um respirador para o resto da vida”, explica o infectologista e pediatra Daniel Jarovsky, do Sabará Hospital Infantil, de São Paulo (SP). Dados da Opas revelam que uma em cada 200 infecções pode evoluir para uma paralisia irreversível, sendo que 5 a 10% vêm a óbito devido à paralisia dos músculos respiratórios. “Antigamente, viam-se mais adultos com sequelas e ouvia-se falar do famoso ‘pulmão de aço’ (tipo de ventilador de pressão), que era usado para manter a respiração”, conta Euzanete.

7. Tratamento
Não existe tratamento para a pólio e nem medicação específica. Nos casos leves, tratam-se os sintomas. Já para quem tem paralisia, ainda que possa fazer fisioterapia para reconstruir a parte motora, o quadro é irreversível, segundo Jarovsky. Só existe uma saída e ela é preventiva: vacinação.

Vacinação é vital

Hoje, no Brasil, são aplicados dois tipos de vacina: a VIP (Vacina Inativada Poliomielite) e a VOP (Vacina Oral Poliomielite). O esquema básico recomendado pelas sociedades médicas e pelo Ministério da Saúde é composto por cinco doses, mas podem ocorrer doses extras das campanhas, como a última realizada pelo Ministério da Saúde. Em São Paulo, a Campanha de Multivacinação e contra Poliomielite foi prorrogada até o dia 31 de outubro.

VIP

  • O que é: Trata-se da vacina injetável produzida a partir do vírus inativado (morto) e protege contra os sorotipos 1, 2 e 3
  • Quando tomar: Aos 2, 4 e 6 meses
  • Onde tomar: Na rede pública e privada
  • Combinações: A VIP pode estar presente em vacinas combinadas como a hexa (DTPa/VIP/HiB/HB) ou a penta (DTPa/VIP/Hib), lembrando que há diferença entre a pentavalente do posto (com componente celular e onde a VIP é aplicada em uma picadinha separada) e das clínicas particulares (com componente acelular e uma picada só).

VOP

  • O que é: Trata-se da vacina oral, a gotinha produzida a partir do vírus atenuado, que, embora enfraquecido, ainda está vivo. Ela protege contra os sorotipos 1 e 3
  • Quando tomar: Aos 15 meses e 4 anos (e nas campanhas oferecidas pelo Governo)
  • Onde tomar: Apenas na rede pública
  • Atenção: Não podem tomar a VOP crianças com doenças que levem a um comprometimento imunológico (como câncer, HIV, transplante ou que tomem medicação que baixe a imunidade)e pessoas que convivam com elas

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