A menopausa chega para as brasileiras ao redor dos 48 anos. Em 2022, a maioria delas (87,9%) sentiu algum sintoma relacionado ao período, mas somente 22,3% receberam prescrição de terapia de reposição hormonal, o tratamento indicado para reduzir o incômodo relacionado ao fim da vida reprodutiva. Os dados são de um estudo publicado no periódico Climacteric.
Existem mais de 40 sintomas relacionados ao climatério — período que antecede a última menstruação — e a menopausa. Entre os mais conhecidos estão fogacho, interrupções no sono, alteração de humor, secura vaginal, cansaço e diminuição da libido.
Quem pode fazer terapia hormonal?
Em maio, a Associação Brasileira de Climatério publicou o Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal do Climatério 2024, após seis anos sem atualizações.
O documento reitera que a terapia hormonal (TH) é segura para a maioria das mulheres e tem quatro indicações principais: controlar os sintomas vasomotores — como o fogacho e a sudorese —, aliviar o ressecamento vaginal e distúrbios sexuais decorrentes dele, prevenir a perda de massa óssea e tratar a menopausa precoce, que se manifesta abaixo dos 40 anos.
“Se a pessoa não tiver sintoma nenhum, a gente não necessariamente vai indicar a terapia só para prevenir condições como a osteoporose e as doenças cardiovasculares”, diz a ginecologista Lúcia Costa Paiva, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo e professora da Unicamp.
Embora a maioria das mulheres tenham queixas relacionadas a essa fase da vida, a intensidade do fenômeno varia. “Estudos de vários países mostram que a percepção dos sintomas muda de acordo com fatores culturais e regionais. Enquanto nos Estados Unidos 50% das mulheres referem sintomas intensos, no Brasil são 36%”, afirma Paiva.
Segundo a médica, a recomendação da TH vale, com certeza, para aquelas com queixas moderadas a intensas. Se for leve, depende do quanto interfere na vida. Quem usa hormônios ainda colhe benefícios adicionais, como a melhora do sono, do humor, da pele e do cabelo.
Quanto mais precoce o início do tratamento, melhor o resultado. Primeiro, porque na perimenopausa e no início da menopausa os sintomas são mais intensos. Segundo, porque sendo mais jovem há menos riscos de problemas cardiovasculares.
O indicado é começar nos anos que antecedem a última menstruação — na fase em que o sangramento começa a falhar — e nos primeiros dez anos da menopausa.
Quem não pode fazer terapia hormonal?
A TH é contraindicada em algumas situações, mesmo que a pessoa tenha sintomas. O tratamento não é recomendado para quem tem uma doença cardiovascular estabelecida, como alguém que teve acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto.
Se a mulher teve trombose ou tem uma condição com alto risco de trombose também não pode. Tampouco pode usar quem teve um câncer de mama ou do endométrio hormônio dependente.
“Caso a pessoa tenha histórico de câncer na família, a princípio ela pode receber o tratamento hormonal. A gente só precisa avaliar qual é o risco de ela ter a doença também. Se forem casos em parentes de primeiro grau com menos de 60 anos, há indícios de algo genético. Com essas mulheres a gente precisa ter mais cautela”, aponta Paiva.
Baixa adesão ao tratamento
De acordo com Paiva, não é apenas no Brasil que a adesão à terapia de reposição hormonal é baixa, mas no mundo todo. Muitas mulheres não têm acesso à informação ou ao tratamento. “Não existe nenhuma forma de tratamento para a menopausa no SUS. Nem sequer um cremezinho vaginal, que seria o mínimo”, lamenta a médica.
Além disso, é comum que elas tenham medo do hormônio e que os próprios médicos não o recomendem. Outras começam a usar e param em pouco tempo. A pesquisa publicada no jornal Climacteric mostrou que a duração média do tratamento é de oito meses, considerada curta pela medicina.
Diversos estudos já mostraram que os benefícios da TH são maiores do que os riscos. “Existe um risco aumentado de câncer de mama em quem faz terapia hormonal, que depende do tipo de hormônio, da dose e do tempo de uso. Mas esse aumento é muito pequeno. Se comparamos mil mulheres que usam e não usam hormônio em um ano, o aumento é de um caso em cada mil pessoas”, afirma Paiva.