Desde que se submeteu a uma cirurgia ortognática, aos 20 anos, a esteticista Dhuane Busatto convive com um zumbido no ouvido. O barulho é tão alto que, em algumas situações, ela não consegue ouvir nada do lado direito. Demorou treze anos para a moradora de Irati, no Paraná, descobrir a causa da sequela auditiva: uma fratura no osso da mandíbula.
“Meu queixo era para trás, o que me causava muitos problemas de respiração e mordida. Eu sentia dores no maxilar e um incômodo estético. A cirurgia era essencial para a minha qualidade de vida”, diz.
Assim que acordou do procedimento, no entanto, Busatto notou um zumbido no ouvido direito. O cirurgião dentista bucomaxilofacial que a operou minimizou o sintoma. “Ele disse que era normal e passaria quando o rosto desinchasse”, relembra.
O incômodo, porém, não foi embora. Nas consultas pós-cirúrgicas, o dentista recomendou que a paciente procurasse um otorrinolaringologista, o que ela fez, sem sucesso. Depois de quatro anos, o zumbido começou a aumentar. Durante uma gripe ou crise de rinite, por exemplo, o canal auditivo inflama e o ouvido chega a tapar completamente.
Em busca de uma solução, Busatto passou quase um ano em consultas com dez otorrinolaringologistas, incluindo os mais renomados de Curitiba. Ela diz já ter perdido a conta de quantas audiometrias fez. Alguns exames acusaram perda auditiva, outros não, por causa da oscilação no zumbido. Nenhum médico encontrou a causa do problema, e a esteticista acreditou que teria de passar o resto da vida suportando o ruído desagradável.
Em 2023, Busatto fez uma rinoplastia e contou para a cirurgiã plástica sobre a sequela auditiva. Ouviu que provavelmente o dano seria permanente.
“O zumbido estava me incomodando muito. Eu não conseguia ouvir o que o meu personal trainer falava dentro da academia, até que minha mãe sugeriu que eu procurasse um cirurgião bucomaxilofacial. Pela primeira vez desde a cirurgia, eu procurei um dentista dessa especialidade”, conta.
O profissional abriu a imagem da tomografia usada para a rinoplastia da paciente e matou a charada em menos de 10 minutos de consulta: o osso do côndilo, também conhecido como cabeça da mandíbula, estava quebrado. “Essa fratura não aconteceu depois da cirurgia, porque eu não tive nenhum acidente. O dentista quebrou o meu osso na operação e nunca me contou”, lamenta a esteticista.
Busatto está nos preparativos para uma segunda operação que deve retirar a parte fraturada do osso e substituí-la por uma prótese, sem garantia de que a sequela será eliminada. Apesar de tudo, ela não se arrepende do procedimento. “Tirando a parte do ouvido, a cirurgia melhorou totalmente a minha qualidade de vida. Tanto na aparência, que me incomodava, quanto na funcionalidade”, diz.
A esteticista não sabe se processará o profissional que a operou. "Eu ainda estou pensando sobre isso. Não procurei orientação para saber se [a conduta] rescreveu, por que a cirurgia faz mais de dez anos", diz.
O que é a cirurgia ortognática?
A cirurgia ortognática é um procedimento para reposicionar os ossos da face. Ela é indicada para quem, por motivos genéticos, nasceu com assimetria na mandíbula e/ou na maxila. São aquelas pessoas que têm o queixo para a frente, para trás ou para um lado.
“O principal problema é que o osso está fora do lugar, não o dente”, explica o cirurgião bucomaxilofacial Pedro Guedes. Por isso, o aparelho ortodôntico não é suficiente para consertar a deformação. “É preciso serrar o osso e mudar sua posição tridimensionalmente, para os dentes se encaixarem melhor.”
Segundo Guedes, a operação ajuda a corrigir dificuldade de mastigação e oclusão e alivia dor articular, problemas respiratórios e distúrbios de sono, como ronco e apneia. “Tudo isso vem alinhado com um grande impacto na autoestima da pessoa”, diz. Afinal, o procedimento altera também o aspecto do rosto.