Saúde

Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo

A dona de casa Talita Scupino, 27 anos, foi vítima de um erro médico que quase custou a vida da filha. Scupino engravidou sem saber que estava com um câncer no ovário. Por causa disso, logo após o nascimento da primogênita, ela precisou retirar 66 tumores que foram neutralizados com a quimioterapia realizada ainda durante a gravidez.

A luta de Scupino contra o câncer no ovário começou em abril de 2022. Ela procurou o pronto-atendimento porque estava com fortes dores abdominais e precisou insistir para conseguir um diagnóstico, que veio após uma tomografia do abdômen.

“Eu estava com um tumor de 22 centímetros no ovário direito e um de 10 centímetros no esquerdo”, lembra. Com 17 dias de internação, Scupino operou para retirar as duas massas.

“Eles falaram que eu não ia poder ter filhos porque teriam que retirar os dois ovários com os tumores. Só que, na cirurgia, conseguiram preservar meio ovário e eu conseguiria engravidar somente com tratamento”, relata.

A dona de casa ouviu que as massas retiradas eram benignas e que ela poderia viver a vida normalmente. Mais tarde, no entanto, ela descobriu que o ovário retirado e partes do outro ovário já tinham indícios de câncer.

“Três meses após a cirurgia veio a surpresa de que eu estava grávida. Foi um susto porque a médica disse que eu não conseguiria engravidar naturalmente. Até então ficamos felizes, mas em dezembro de 2022 começou o pesadelo”, conta.

A descoberta do câncer de ovário

Scupino começou a inchar muito, um sintoma que atribuía à gestação. A dona de casa, porém, passou a ter dificuldade para respirar, só conseguia dormir sentada, não andava, e tinha um mal-estar muito intenso a ponto de vomitar com frequência.

Ao procurar um hospital em Peruíbe, no litoral de São Paulo, ela foi transferida para Santos e internada. O primeiro exame ao qual foi submetida foi um raio-X do tórax, que revelou que ela estava com água nos dois pulmões. Só que a investigação não parou por aí, o que fez com que ela viesse a descobrir que a origem do problema era um câncer no ovário.

A oncologista Andréa Gadêlha Guimarães, vice-líder do centro de referência em tumores ginecológicos do A.C. Camargo Cancer Center, explica que o câncer de ovário costuma ser uma doença silenciosa.

“Os sintomas geralmente ocorrem na fase avançada da doença (em cerca de 75% dos casos) e são muito inespecíficos, podendo ser confundidos com outras condições mais comuns, como distúrbios gastrointestinais e até mesmo geniturinários”, esclarece a especialista.

Os sinais mais comuns da doença são:

- Aumento ou inchaço abdominal, como aconteceu com Scupino;
- Sensação rápida de saciedade ao comer;
- Perda de peso;
- Desconforto na região pélvica;
- Fadiga;
- Dor nas costas;
- Mudanças nos hábitos intestinais, como prisão de ventre;
- Necessidade frequente de urinar.

“É preciso lembrar que não há um exame específico para o rastreamento e detecção precoce do câncer de ovário. Logo, é importante manter consultas de rotina e procurar assistência médica na presença de sintomas anormais persistentes”, reforça Guimarães.

A constatação do erro médico

A dona de casa ficou em choque quando descobriu o câncer no ovário porque havia sido operada oito meses antes e informada que os tumores eram benignos.

O médico que passou a acompanhá-la disse que o seu caso só teria duas explicações: o câncer poderia estar presente desde a primeira cirurgia e erraram o diagnóstico ou ele teria evoluído muito rápido devido à gestação. Para sanar a dúvida, o profissional pediu para revisar o primeiro exame de Scupino.

“Ele descobriu que eu já tinha o câncer antes de engravidar e a médica errou o laudo”, relata a dona de casa. A moradora de Peruíbe chegou a processar a clínica que fez a biópsia do material retirado na cirurgia, mas descobriu que o resultado do exame emitido pela instituição já constava o câncer.

“Quem não leu direito foi a médica. Inclusive, eu vou entrar com um processo contra ela, porque ela disse que eu não tinha nada, que poderia viver minha vida normalmente. Não era bem assim. Desde a primeira cirurgia, eu já tinha câncer
— Talita Scupino

Os desafios de fazer a quimioterapia grávida

Scupino estava com quatro meses de gestação quando o câncer no ovário foi descoberto. Cogitou-se a possibilidade de interromper a gravidez para o tratamento contra a doença, só que essa medida não foi necessária.

Talita Scupino ficou grávida e com câncer ao mesmo tempo — Foto: Acervo pessoal
Talita Scupino ficou grávida e com câncer ao mesmo tempo — Foto: Acervo pessoal

“Durante o primeiro trimestre de gestação, a quimioterapia não deve ser realizada, pois há o risco de afetar a viabilidade fetal e de malformações fetais. Já a partir do segundo trimestre, em casos específicos e bem selecionados, a quimioterapia pode ser realizada”, explica Guimarães.

A dona de casa fez 21 sessões quimioterápicas. “Depois disso, paramos, porque fiquei muito debilitada. Eu não conseguia andar nem comer, vomitava demais e perdi mais de 20 quilos. Fiquei com uma anemia muito severa também”, lembra.

Talita Scupino ficou na UTI por um bom tempo da sua gestação — Foto: Acervo pessoal
Talita Scupino ficou na UTI por um bom tempo da sua gestação — Foto: Acervo pessoal

Scupino estava com 32 semanas quando começou a passar mal, com fortes dores de cabeça e perda de visão. “Quando cheguei na maternidade de Peruíbe e foram medir minha pressão, ela estava 22 por 12. Eu estava com pré-eclâmpsia”, conta.

A pré-eclâmpsia consiste na hipertensão arterial durante a gravidez e estima-se que ela afete 1,5% das gestações brasileiras. É considerada a principal causa de morte materna no país. Não por acaso, Scupino precisou ser internada às pressas quando foi diagnosticada com a condição.

A dona de casa foi transferida para Santos, onde ficou na UTI, e foi informada que seria mantida lá até completar 37 semanas. “Só que, com 34 semanas, os médicos foram ouvir os batimentos da minha filha e viram que ela estava em sofrimento fetal. O cordão umbilical estava quase fechado e ela estava praticamente sem oxigênio”, lembra.

A dona de casa foi submetida a uma cesárea de emergência. “Tiraram primeiro minha bebê e depois os 66 tumores”, conta. O procedimento cirúrgico demorou cerca de quatro horas, o que fez com que o intestino da mãe parasse de funcionar.

Talita Scupino teve sua filha e retirou 66 tumores no mesmo dia — Foto: Acervo pessoal
Talita Scupino teve sua filha e retirou 66 tumores no mesmo dia — Foto: Acervo pessoal

“Eu estava praticamente vomitando fezes não digeridas”, explica. Ela precisou colocar uma sonda para limpar o estômago e, posteriormente, receber medicação para o intestino voltar a funcionar normalmente. Demorou cerca de 15 dias para ele estabilizar.

O resultado da nova biópsia

Scupino conta que, devido ao erro médico, o câncer se espalhou para além do ovário. Ele foi para o pé da barriga e para perto do intestino, o que levou ao grande número de tumores.

“Quando saiu a biópsia, apareceram os 66 tumores, todos do tamanho de um caroço de feijão e malignos. Só que a quimioterapia os matou”, explica. Não foi necessário realizar mais nenhuma sessão após a gravidez.

Atualmente, a filha da dona de casa está com nove meses e não sofreu nenhuma consequência da quimioterapia durante a gestação. Ainda assim, Scupino busca justiça.

A filha de Talita Scupino tem 9 meses e não teve consequências da quimioterapia da mãe — Foto: Acervo pessoal
A filha de Talita Scupino tem 9 meses e não teve consequências da quimioterapia da mãe — Foto: Acervo pessoal

“Tive um câncer na gestação por um erro da médica, que não me alertou que eu já tinha a doença e que não poderia nem ter engravidado. Ela colocou a minha vida e a da minha filha em risco porque não leu o laudo direito”, reflete.

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