Luísa Sonza: 'A gente é criado para viver igual gado e eu sou a vaca que vai para o outro canto. Gosto de ser do contra'

Se expressando em alto e bom tom, aqui ela se envereda pelas histórias de sua relação com autoimagem e solidão, do julgamento da família e do público, do que sonha e dá opinião sobre política, sem papas na língua: "Me irrita muito o fato de que a política que é feita para a sociedade não a vê como ela é."

Leia na íntegra abaixo:

MARIE CLAIRE Você disse uma vez que queria "confundir as pessoas". Esse ainda é um dos seus pilares com a sua obra?
LUÍSA SONZA Gosto de ser certinha às vezes, de impressionar os mais velhos e ter o respeito deles. Mas não gosto muito dessa linha chata que ninguém suporta de seguir um padrão. Ficar na mesmice, viver para agradar os outros, é muito chato! É insuportável, a gente é criado para viver igual gado e eu sou a "vaca" que vai para os outros cantos, que contraria [risos]. Gosto de ser do contra. Uma vez, quando eu tinha 20 anos, minha mãe falou a melhor frase que já disseram sobre mim: “Te conheço há 20 anos e não sei o que esperar de você”. E é isso que quero ser.

MC Em entrevistas do início da sua carreira, você afirma que sentia necessidade de agradar a todos. Ainda sente que precisa de aprovação, que precisa ser amada?
LS Sim! Eu sentia muito isso, mas hoje não me preocupo mais. Não sei o porquê exatamente, mas vi que não muda nada na minha vida. Você vai percebendo o quanto é tosco, o quanto é burro, o quanto todo mundo é meio medíocre. E eu também sou assim, por isso fico quieta e calo a minha boca, apago meu Twitter e consigo também ignorar quem está falando.

MC Quando falamos de famosos, já existe a preconcepção de que têm tudo que desejam. Você tem tudo que deseja?
LS Nossa, não. Quero ganhar muito, muito dinheiro através da música e ter muito sucesso, a ponto de fazer realmente tudo o que quero para mim e para toda minha família.

MC Você já realizou algum grande sonho? Quando? E qual é o seu maior sonho nesse momento?
LS Cantar com o Roberto Carlos. Cantar com a Demi Lovato, nunca sonharia que isso seria possível! Demi Lovato cantando em português ainda! Meus sonhos meio que abrangem tudo, sabe? Quero crescer muito internacionalmente e ter uma grande carreira aqui e lá fora.

MC Seus pais opinam no seu trabalho, na sua vida?
LS Não, ninguém opina. Ninguém pode se meter. Eles conhecem a filha que tem. Com certeza meu pai tem as opiniões dele, minha mãe também, mas eles não me falam e também não quero saber. Mas eles não são tão pequenos assim, são mente bem pra frente e entendem a vida de uma maneira um pouco mais inteligente, eu diria. Eles não têm uma ignorância na forma de pensar.

MC Você acredita no conceito de "bem" e "mal"?
LS Eu acho que existe o bem e o mal de cada um e para cada um. O "bem" e "mal" implantado pela igreja ou mal interpretado pelos humanos dentro de uma visão cristã, confundiu muita gente. Eles acham que tudo tem que ser preto no branco, engessado, e usam isso para o mal universal, absoluto, que todo mundo conhece. Colocar as pessoas em caixas é errado, porque somos muito complexos para isso, eu sou má às vezes e sou boa às vezes. Então a gente tem que começar a se reconhecer e se entender na real complexidade que somos. Não dá para viver mais esse conceito de inferno e de céu sabendo o tamanho do universo que temos aí fora, a mesma pessoa que foi a pior do mundo para mim, com certeza foi a melhor para alguém.

MC Você aprecia mais a sua própria companhia após os últimos anos "turbulentos" da sua vida amorosa?
LS Hoje em dia - e é engraçado porque ou sou 8 ou 80, não tenho meio termo - eu amo ficar e dormir sozinha, ter a minha vida. Se estou com alguém, falo “ai, vai embora pelo amor de Deus, deixa eu dormir sozinha, quero minha cama”. Eu criei essa independência quando me tratei da depressão, porque fui entender que o que eu sentia eram dependências inconscientes, que não são tão fáceis de notar. Agora quando penso que quero estar na companhia de alguém, eu repenso três vezes, mais por querer estar sozinha.

MC Você comentou há algum tempo que queria "viver até 180 anos", ainda quer?
LS Eu falei isso? [risos] Não, não, não, negativo! Nossa, que menina tola, que menina burra que eu era! Eu tinha vontade de viver, né? Não, hoje em dia 180 é demais pra mim. Agora tenho mais aceitação com a vida que levo. Sinto que me encaixei mais dentro dos meus traumas, meu corpo entendeu o que me dava medo, o que me tornei, quem sou, o meu tamanho em todos os sentidos. Antes, por um período, eu não estava aceitando muito bem a vida. Hoje em dia eu aceito, não busco tantas respostas também.

MC E a sua relação com o próprio corpo, é pacífica? Você gosta de como está? Sempre gostou? Já teve algum distúrbio de imagem?
LS É meio pacífica sim, mas às vezes eu me cobro, a autoestima dá uma caída. De vez em quando a moda pega a gente e fala assim “você não é mais trend, não tá magra o suficiente, a bunda tá assim, é baixinha demais e isso e aquilo”, mas aí logo falo “já deu, eu sou tudo desse jeito, tá tudo certo.”

MC Tem uma passagem no documentário em que você fala sobre o próprio rosto, você se reconhece ainda como a Luísa Gerloff Sonza?
LS Agora estou muito mais desacelerada, não faço mais aquela maratona maluca. Finalmente estou conseguindo dormir, bebendo bastante água, indo à praia. Mas, sinceramente, acho que nunca deixei de me reconhecer em nenhum momento da minha vida, até quando não estava bem e me desleixava, parava de me importar.

MC Você acompanha política? O que te irrita na política do Brasil nesse momento? E o que te deixa esperançosa?
LS A Erika Hilton me deixa esperançosa. Eu a quero para presidenta, sei que não deve ser fácil, mas não há outra opção, ela é sensacional! A política atravessa muito o nosso trabalho, a arte é um ato político, por isso os artistas estão sempre envolvidos com isso, é inevitável. Nós falamos por muitas pessoas, somos vozes para elas, então quero estar mais por dentro desse assunto. Me irrita muito o fato de que a política que é feita para a sociedade não a vê como ela é, vive numa realidade utópica da tal da "família de bem", mas que trai a esposa, não assume filhos, não deixa a mulher abortar, isso sem contar as violências domésticas, as agressões… Não lida com as minorias que são maiores, não lida com os reais problemas, não lida de uma maneira humanitária com as pessoas desse país, lidam só com a parte que eles querem da sociedade.