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Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo


Quem é Rosely Roth, ativista pioneira do movimento lésbico brasileiro — Foto: Carlos Murauskas/FolhaPress
Quem é Rosely Roth, ativista pioneira do movimento lésbico brasileiro — Foto: Carlos Murauskas/FolhaPress

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto no Brasil, é data emblemática para discutir a violação de direitos humanos pelos quais são submetidas mulheres lésbicas do país – mas também é uma data que fomenta a construção da memória deste grupo no país. O movimento sapatão explodiu na década de 1980, efeito que foi construído por muitas mãos – entre elas, a da ativista e antropóloga Rosely Roth.

Por seu ativismo pioneiro e ligado aos direitos humanos, principalmente de pessoas LGBTQIAPN+, Roth se tornou uma das personagens históricas mais importantes do movimento lésbico no Brasil e no mundo. A atuação destemida e revolucionária, da forma como acreditava que deveria ser, aconteceu em meio à repressão da ditadura militar, próximo ao período de redemocratização.

Sua figura ajudou a promover mudanças por meio das movimentações políticas dela e do grupo que integrava, o Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF), mas também ao ocupar espaços de ampla visibilidade pública, como a mídia alternativa e até a televisão brasileira. À época, foi por muito tempo a única militante assumidamente lésbica do movimento, o que a tornou figura facilmente reconhecível tanto para outros ativistas como para se tornar alvo de perseguição e tentativas de censura.

Nascida em agosto de 1959, na capital paulista, Roth era filha de pais judeus, filha de pais judeus – mas ao longo da vida se declarou anarquista e ateia. Na década de 1980, se formou em Filosofia e, depois, em Antropologia, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). seus trabalhos de conclusão de curso eram todos voltados a análises sobre sexualidade e gênero.

Antes disso, no entanto, já estava engajada no movimento lésbico brasileiro. Em 1979, ela passou a frequentar o Grupo Lésbico Feminista, que visava construir um espaço seguro para mulheres debaterem sobre lesbofobia, sexualidade e machismo. Um ano depois, se tornou militante no SOS Mulher, grupo feminista que liderou manifestações importantes, como a que se realizou após o feminicídio da socialite Ângela Diniz e da cantora e compositora Eliane de Grammont.

Em 1979, ao lado da jornalista Míriam Martinho – com quem dividia um apartamento e chegou a ter um relacionamento –, Rosely fundou um dos mais importantes coletivos do movimento lésbico da época: o GALF.

Por anos, com o GALF, organizou debates com militantes do movimento feminista, gay, lésbico e negro. Juntos, realizavam diversos congressos, encontros e manifestações. Essa estratégia, ligada à ampla visibilidade midiática, contemplava o que ela entendia como Política da Visibilidade; ou seja, uma forma de ocupar os espaços para fazer presentes outras identidades sexuais, raciais e de gênero que fossem consideradas transgressoras.

O GALF era responsável pela edição do boletim ChanacomChana, uma publicação sapatão alternativa que discutia os assuntos mais importantes da época – desde o amor entre mulheres até a maternidade sapatão. Também trouxeram entrevistas, poesias, fotografias e tocaram em temas polêmicos para a época: perto do fim da publicação, em 1987, discutia-se sobre a Constituinte, a pandemia da Aids e a Lei da Anistia.

Cópia do Chanacomchana — Foto: ChanacomChana/Míriam Martinho
Cópia do Chanacomchana — Foto: ChanacomChana/Míriam Martinho

A 11ª edição do boletim, aliás, é uma das mais históricas. Foi quando Rosely, ao lado das ativistas Luiza Granado e Célia Miliauskas, entrevistou três candidatas a deputadas estadual e federal: Irene Cardoso, Dulce Cardoso e Cassandra Rios. Foi a primeira vez que um coletivo conseguiu interseccionar o movimento lésbico à participação política.

O Chanacomchana era vendido no principal ponto de encontro lésbico de São Paulo da época, o Ferro's Bar, na região central da capital paulista. Foi lá, em 19 de agosto de 1983, que Rosely, Miriam e o GALF lideraram o levante que ficou conhecido como Stonewall Brasileiro.

As militantes do grupo entraram no bar para protestar contra as violências lesbofóbicas que sofriam constantemente dos donos do estabelecimento e a proibição que sofriam para entrar no local.

O movimento ganhou apoio de ativistas feministas, homossexuais e mesmo de políticos – sendo Irene Cardoso a mais expressiva deles. A adesão foi tamanha que as militantes ganharam um pedido de desculpas e foram liberadas para vender o Chanacomchana no local.

Rosely Roth à direita, durante levante no Ferro's Bar — Foto: Ovídio Vieira/Folha Press
Rosely Roth à direita, durante levante no Ferro's Bar — Foto: Ovídio Vieira/Folha Press

Em 1985, segundo escritos de Míriam Martinho no blog Um Outro Olhar, outro folhetim que era editado pelo GALF, Rosely Roth passou a viver como pesquisadora e chegou a ser contemplada pela bolsa Capes para estudar a realidade das mulheres lésbicas brasileiras. Equilibrava o trabalho como pesquisadora trabalhando com pesquisas de mercado para uma empresa. Continuou desempenhando seu papel como ativista, ganhando cada vez mais visibilidade.

Também em 1985, Rosely fez uma participação histórica no programa de Hebe Camargo, uma das poucas personalidades públicas que, na época, se colocava publicamente à favor dos direitos de pessoas homossexuais. Foi a primeira vez que uma mulher lésbica falou sobre lesbianidada na TV Brasileira, em horário nobre.

No mesmo programa, discutia-se a determinação de que a homossexualidade não deveria se enquadrar como doença e, caso buscassem acompanhamento psiquiátrico, deveriam ser incluídas no grupo de discriminação social – pautas caras para o avanço dos direitos LGBTQIAPN+ na época.

"Muitas pessoas acham que as mulheres lésbicas não são mulheres. Eu sou e me sinto como mulher. Acha que é um terceiro sexo, uma marciana. Então, acho isso importante porque quando a gente pensa que se é mulher coloca-se um estilo de vida lésbico como possível para qualquer mulher", falou Rosely no programa.

"E agora me dirigindo mais para as mulheres lésbicas do Brasil todo, a gente existe. Por enquanto é um grupo pequeno e a gente está tentando pensar sobre isso, aliviar as mulheres da culpa, vergonha e dos conceitos que fazem mal, que atrapalham a vida da gente. Não é nossa sexualidade, mas a repressão que a gente sofre, o policiamento é que faz mal", finalizou.

Foto de Rosely Roth publicado em blod Um Olhar Outro, que era um dos folhetins do GALF — Foto: Reprodução/Acervo Um Outro Olhar
Foto de Rosely Roth publicado em blod Um Olhar Outro, que era um dos folhetins do GALF — Foto: Reprodução/Acervo Um Outro Olhar

Segundo escritos de Martinho, havia rumores de que Rosely era perseguida por se declarar abertamente como ativista e lésbica. Mas ela revela que acontecia o oposto: era reconhecida com respeito e exaltada.

“Costumo dizer que Rosely teve uma militância iluminada exatamente porque, contrariando as expectativas da época, nunca sofreu qualquer hostilidade sequer de parte da população que a reconhecia na rua pelos programas da Hebe. Eu mesma presenciei gente que vinha abordá-la em feiras, restaurantes, filas de cinema, sempre de forma positiva”, escreve a jornalista.

Ao longo dos anos, Rosely desenvolveu transtornos psiquiátricos. O desconhecimento sobre seu diagnóstico e a falta de apoio da família culminaram em seu suicídio, em 28 de agosto de 1990, uma semana após seu aniversário de 31 anos.

Treze anos após sua morte, em 2003, foi lançado o Dia do Orgulho Lésbico pelos grupos Rede de Informação Um Outro Olhar e a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo – tanto em memória do levante como em homenagem de Roth.

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