Política

Por Mariana Gonzalez, em Colaboração Para Marie Claire

Quando recebeu uma ligação do ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, com o convite para assumir a primeira Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat não ficou exatamente surpresa: “Se eu disser que não esperava, estarei mentindo”.

Afinal, passou os últimos dez anos dedicada à defesa dessas populações, tanto em movimentos sociais quanto na gestão pública. Primeiro, pelo reconhecido programa Transcidadania, em São Paulo, no qual foi uma das gestoras. Depois, pela secretaria de Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff. Por fim, foi eleita duas vezes presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos).

Mesmo assim, teve dúvidas se aceitaria --estava confortável atuando no terceiro setor, onde “lidava com as pessoas na ponta”. Se aconselhou com amigos, companheiros políticos e com sua mãe. “Se minha mãe dissesse que não, eu não ia”, brinca.

A criação de uma secretaria voltada especificamente para os direitos da população LGBTQIA+ é um sonho antigo dos movimentos sociais, mas que ficou cada vez mais distante à medida que governos conservadores ascendiam no Executivo e que pastas como o Ministério da Mulher ou dos Direitos Humanos eram desmontadas.

“Nunca chegamos tão longe em termos de políticas públicas neste país”, comemora, aos 44 anos. Mas pondera: “Este ainda é um momento delicado. Existe uma vigilância enorme da direita, de quem votou no ódio. Tudo o que a gente fizer nessa pasta tomará proporções enormes. Por isso, quando o Silvio depositou essa confiança em mim, tive que aceitar”.

'Aprendi direitos humanos numa esquina'

A formação em direitos humanos de Symmy Larrat começou anos antes de assumir sua primeira posição na gestão pública ou de começar a se envolver com os movimentos sociais --espaços que lhe são muito familiares. Recém-saída da graduação em jornalismo na UFPA (Universidade Federal do Paraná), se viu obrigada a colocar o diploma no bolso e recorrer à prostituição.

“Fui profissional do sexo por necessidade. Não acordei um dia e escolhi. Esse lugar é imposto para nós.” E completa: “Foi numa esquina que aprendi a ser humana, entendi o que são os direitos humanos. A minha experiência militante vem daí. Foi um momento da minha vida muito importante para fingir que não existiu ou para ter vergonha".

Até hoje, carrega o termo “puta” para se apresentar. Em sua biografia no Instagram, aparece pouco abaixo dos cargos que já ocupou e ao lado de outras duas palavras importantes: travesti e militante. “Não existe ex-professora. Uma professora, quando se aposenta, continua se denominando professora. Médicas e advogadas, a mesma coisa. Então, por que eu vou dizer que sou ex-puta? Ou dizer que eu não fui?”, questiona.

“Além disso, as pessoas que estão nessa situação precisam ter uma inspiração positiva, entender que podem, caso queiram, fazer qualquer outra coisa da vida.”

Desde que deixou a universidade sem oportunidades de trabalho, Symmy vê pouca ou nenhuma mudança em ambientes acadêmicos ou de trabalho para pessoas trans. A empregabilidade ainda é uma questão sensível. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% das mulheres trans e travestis estão fora do mercado formal de trabalho no Brasil, a maioria delas recorrendo à prostituição.

“Senti isso na pele. A educação ainda é violenta, o mercado de trabalho também. Se a coisa evoluiu, foi graças a nós, porque nos empoderamos, colocamos esse debate na sociedade e ocupamos certos lugares. Mas a realidade não é acolhedora.”

Embora os últimos anos tenham sido marcados por conquistas importantes para a população LGBTQIA+, como a criminalização da homotransfobia, a retificação de nome e gênero com mais facilidade e a derrubada da transexualidade do Cadastro Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial da Saúde), elas ainda não se traduzem em mudanças práticas na vida das pessoas --na segurança pública, no acesso à saúde e ao mercado de trabalho. “Fazer esse match de conquistas histórias com políticas públicas que funcionem é uma das nossas principais missões”, crava.

Outra missão que Symmy assume à frente da pasta é a de aproximar os equipamentos públicos da realidade das pessoas --em termos geográficos, com unidades móveis em bairros mais distantes do centro e em cidades distantes das capitais, e também em termos simbólicos. A exemplo do Transcidadania, programa de promoção de cidadania para pessoas trans criada durante a gestão de Fernando Haddad (PT), em São Paulo, quer investir na qualificação de pessoas LGBTQIA+ a partir das demandas específicas do grupo.

“Uma coisa é dar dinheiro todo mês e falar: ‘Pronto, agora não tem mais o que chorar, já pode ir para a faculdade'. Não é assim. É preciso haver esforço para entender as possibilidades dessas pessoas para além de um olhar hétero e cisgênero.”

'Este governo está respirando diversidade'

A posse presidencial em 1º de janeiro ficou marcada pela cena de Lula subindo a rampa acompanhado de integrantes da sociedade civil, representando grupos diversos em termos de gênero, raça e classe. No discurso para o público, no parlatório, o novo presidente citou mulheres, negros, indígenas e outros grupos minorizados --mas uma falta foi sentida: a população LGBTQIA+ não foi citada uma vez sequer nos discursos no evento.

A primeira menção clara à sigla feita por um integrante do governo aconteceu apenas no dia seguinte, na posse do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, quando ele afirmou, referindo-se a lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, travestis, intersexo e não binários: “Vocês existem e são importantes para nós”.

Questionada sobre a relação de Lula com as temáticas do movimento LGTQIA+, Symmy Larrat é assertiva: “Ele colocou uma consultoria de diversidade em todos os ministérios, construiu uma Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, com equipe, recursos, e o ministro nomeou uma travesti para esse lugar. Não posso falar sobre as escolhas para o discurso da posse, mas posso falar sobre essa sinalização, que para mim é muito clara”.

Embora em um dos cargos de mais destaque, Symmy não é a única pessoa LGBTQIA+ a assumir cargos de liderança na composição do novo governo: a farmacêutica Alicia Kruger, que é travesti, assumiu a Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, do Ministério da Saúde, e a pedagoga Ruth Venceremos, drag queen, compõe a Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

“Este governo está respirando diversidade. Quando Lula constrói todos esses caminhos para a gente brilhar, ele está dizendo: ‘Vocês existem e são importantes para nós’. Quero ficar com esse recado”, conclui.

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