CEOs que choram, pacto da branquitude e cartas entre amigas: tudo sobre o 2º dia do Power Trip Summit 2024

Em seguida, Alonso mediou as primeiras entrevistadas do dia: a empreendedora social e ativista Kamila Camilo e a líder indígena e também empreendedora social Vanda Witoto, que se debruçaram sobre a crise climática e os eventos extremos que, cada vez mais, assolam diversos pontos do país.

“A primeira coisa que estamos fazendo errado é ignorar a ciência, especialmente as pessoas tomadoras de decisão. O negacionismo brasileiro é mais sofisticado porque flerta com o racismo estrutural, que negamos de forma discreta”, afirmou Camilo.

“O desafio que estamos enfrentando hoje é resultado das nossas escolhas políticas. A violência contra os territórios indígenas historicamente promovida por vários tipos de governos é o fruto que colhemos dessa política contra os direitos, sobretudo desses povos originários que vai refletir na retirada desse território na degradação do meio ambiente”, complementou Witoto.

Silvia Machado, CMO de Magalu, relembrou o episódio em que uma funcionária da empresa foi vítima de feminicídio e compartilhou iniciativas da companhia para incentivar a diversidade, proteger as mulheres e ser um ponto de segurança e confiança para pessoas em situação de vulnerabilidade.

“O Canal da Mulher é mais do que um lugar que pode ser acessado para relatos, ele tem um suporte. Desde o lançamento, mais de 1100 mulheres foram ajudadas pela plataforma, desde a denúncia na polícia até a troca de cidade, financiando essa mudança e incentivando que elas continuem trabalhando."

Na mesa que discutia o etarismo e como a medicina estética pode ser uma aliada para celebrar a beleza individual de cada uma e auxiliar na manutenção e na construção da autoestima das mulheres, Eline Moura, diretora comercial de Liftera, Mariana Ximenes e Paola Deodoro, Editora de Beleza de Marie Claire, entraram em uma conversa a respeito de encarar o envelhecimento como uma dádiva, principalmente em uma sociedade na qual a expectativa de vida cresce cada vez mais.

"O colágeno aos 20 é lindo, mas o autoconhecimento aos 40, 50, 60 anos, é muito valioso. Sempre tive a consciência de que preciso das minhas rugas, porque meu trabalho também é expressão, meu rosto, meu corpo. Sempre sofri cobranças dos outros, da sociedade e também de mim mesma, mas que bom que estou vivendo e envelhecendo diante dos olhos das pessoas, quero continuar fazendo isso”, contou a atriz.

Na mesa "Arte Global e Justiça Social", Diane Lima, pesquisadora, escritora e uma das curadoras da 35ª Bienal de São Paulo, e a muralista e grafiteira Criola, dialogando sobre grupos subrepresentados ocupando o espaço das artes plásticas, onde há uma busca maior de descolonizar a produção e aumentar o olhar sobre o mundo e sobre esses corpos.

"A arte já está dentro das pessoas pretas, mas é algo negado para nós desde a infância. É como se fosse algo distante, para quem tem dinheiro. Mas, no decorrer da minha trajetória, entendi que é minha forma de me comunicar. É o que sou no mundo”, desenvolveu Criola.

A mesa que contou com a presença de Sandra Monteiro Tomasi, diretora executiva da unidade de negócios Oncologia da MSD, e Dra. Angélica Nogueira, oncologista e presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, discutiu o que precisa ser feito para que mulheres tenham oportunidades iguais aos homens na área, a evolução dessa presença feminina e também a importância da informação e da conscientização a respeito do câncer de colo de útero, que é o terceiro mais frequente nas brasileiras.

“Tem imunizante sobrando nos postos, vacina que evita seis tipos de câncer em meninas e meninos. A gente tem que mudar essa estatística. Além disso, o preventivo de Papanicolau e a pesquisa do HPV-DMA, que todas temos que fazer, também evita a doença, e só 20% das mulheres brasileiras na faixa etária que deve fazer, faz o preventivo. Esses novos medicamentos aumentam significativamente a chance de controle da doença e a sobrevida global das pacientes. Mas isso é só um primeiro passo, porque esse remédio tem que chegar onde a paciente está”, comenta a presidente eleita.

Zezé Motta se juntou à comunicadora Cris Pàz e Maíra Matta, diretora de marca de L'Oréal Paris, na mesa “Porque você vale muito”, para discutir o processo de construção de autoestima em cada uma e a força para encontrar suas vozes em meio a adversidades.

"Sofria de um processo de embranquecimento desde a adolescência, porque queria ser amada e aceita. Alisava o cabelo, pensava que quando tivesse um dinheirinho ia afinar meu nariz e fazer cirurgia para diminuir meu bumbum. É um alívio muito grande isso ter passado e falarmos disso mais abertamente", contou a atriz.

Sabrina Romero, gerente sênior de marketing da Vivo, empresa patrocinadora oficial do Comitê Olímpico Brasileiro, conversa sobre o papel das marcas na luta pela equidade de gênero e se une a Fernanda Garay, que se aposentou das quadras de vôlei, mas começa um novo desafio em sua carreira.

“Enquanto atleta, a gente pensa muito em performance e foca no nosso desempenho. Nós somos atletas que querem conquistar títulos. Comecei a jogar com 11 anos e finalizei, ainda que não definitivamente — é a pergunta de milhões —, minha última participação como jogadora nos jogos de 2021 em Tóquio, foram mais de 20 anos de carreira. Vivo um novo momento agora”, divide Fernanda.

CEOs também podem chorar? Esse foi o tema da mesa que perpassou assuntos como saúde mental de mulheres que ocupam cargos de liderança em grandes corporações, que contou com a participação da psicanalista e pesquisadora Maria Homem em entrevista à Daniela Tófoli, diretora editorial da Editora Globo.

"Nenhuma transformação profunda, social e mental, é automática. Mas estamos caminhando, é uma revolução sem precedentes. Até 150 anos atrás, não podíamos nem respirar, mal sabíamos ler e escrever. Não tinha voto, não podia ter terra ou casa. Hoje, mesmo que não seja em todos os lugares do mundo, temos estatuto jurídico para ser sujeito pleno de direito”, explica Maria.

Para falar sobre tecnologia e tendências fantásticas que moldarão o nosso futuro, Marie Claire convidou Roberta Valle, vice-presidente de varejo e comércio da Mastercard, e a futurista Daniela Klaiman, fundadora da consultoria FutureFuture, que fez provocações à plateia a respeito das inovações tecnológicas que se tornarão uma constante na nossa rotina em poucos anos.

“No futurismo, você entende quais são as novas tecnologias e como elas vão evoluir e influenciar o comportamento das pessoas e também como ficarão todos os mercados do planeta eventualmente”, afirmou Klaiman.

Lifelong learning (ou educação continuada) nada mais é do que se propor a continuar aprendendo coisas novas de diversas maneiras ao longo da vida, sem necessariamente significar uma graduação formal ou seguir uma carreira acadêmica, por exemplo. É sobre esse assunto que falaram a presidente da MUST University, Giulianna Carbonari Meneghello, e Simone Sancho, empreendedora e fundadora da Belong Be, com mediação de Tófoli.

As três dialogaram sobre a maneira como essa forma de aprendizado pode ser benéfica tanto de maneira individual como para agregar conhecimentos no mercado de trabalho.

“O mundo se transformou mais nos últimos 20 anos do que nos últimos 200 anos. A velocidade de informação é cada vez mais desafiadora, o que muda a forma como a gente aprende. Fomos ensinados a aprender hierarquicamente, mas, dependendo do tema, seu estagiário é quem sabe mais. É preciso ter humildade corporativa para aceitar que o aprendizado vem de qualquer lado”, afirmou Sancho.

Paula Azevedo e Júlia Rebouças, diretora presidente e diretora artística, respectivamente, as duas mulheres à frente do maior museu aberto do mundo que há dois anos virou patrimônio público, o Instituto Inhotim, argumentaram possibilidades de como multiplicar o olhar na produção artística e importância da instituição para a arte nacional.

“Hoje o setor criativo representa 3,11% do PIB brasileiro e a gente tem cerca de 7,3 milhões de trabalhadores no setor criativo no Brasil. Então é para a gente lembrar que cultura não é luxo, não é dispensável, a gente tem que perceber a cultura como um fator de economia saudável do nosso país.”

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz e a psicóloga e pesquisadora Cida Bento se reuniram para falar sobre branquitude e de que maneira ela opera para a manutenção das desigualdades raciais do país em entrevista para Natacha Cortêz, Editora-chefe de Marie Claire.

"Às vezes o medo de quem está no lugar de privilégio se explicita mais, mas é justamente porque nossa voz está sendo usada não só para mudar os perfis mas as concepções. Estamos trazendo uma revolução, e as empresas e instituições da sociedade civil sabem disso”, desenvolveu Cida Bento.

"As questões de diversidade e inclusão vivem momento de ataque, mas não vamos reverter. Branquitude não é categoria de acusação nem normativa, mas, diferente de negritude, não é uma categoria de autoafirmação. Além disso, não existe identitarismo, mas políticas de identidade. O que podemos fazer como pessoas brancas é entender que estamos todos convocados e convocadas para essa que é uma luta por justiça e cidadania", finalizou Schwarcz.

Na mesa que trouxe para o centro da conversa o papel de práticas ancestrais com plantas medicinais na saúde e beleza da população, Dra. Jackeline Barbosa, vice-presidente médica e científica da Herbarium, e Mariana Corrêa dos Santos, gerente de marketing da Herbarium, falaram sobre como é a produção, os principais desafios e o poder dos fitocosméticos e fitoterápicos.

“Temos um papel de responsabilidade da indústria para entregar esses ativos naturais de volta, mas com segurança, com reprodutibilidade, eficiência e eficácia estabelecida. O desafio maior é que a natureza não é uniforme e a nós cabe garantir a uniformidade”, disse a Dra. Jackeline.

Para fechar as atividades com chave de ouro, Débora Falabella, Mariana Ximenes, Bianca Comparato e Andreia Horta se reuniram para uma performance totalmente exclusiva do projeto Cara Palavra, em que formam um sarau de poesias. Para o Summit, declamaram poesias uma para as outras e leram cartas de grandes mulheres reais escritas para suas amigas – como uma de Fernanda Montenegro para Clarice Lispector, escrita em meio a ditadura militar.

O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.