Nos últimos anos, há um movimento social de inclusão em questões de raça, etnia, classe, gênero e geopolítica que também vem sendo abraçada pela arte contemporânea. Mas essa iniciativa de inclusão é só simbólica? E qual é o valor atribuído a um artista racializado? As respostas para essas perguntas foram debatidas entre Diane Lima, pesquisadora, escritora e uma das curadoras da 35ª Bienal de São Paulo, e a muralista e grafiteira Criola na 10ª edição do Power Trip Summit.
Os museus são um espaço majoritariamente masculino, e o cenário piora quando raça e gênero se cruzam: um estudo avaliou as aquisições feitas nos 31 maiores museus dos Estados Unidos entre 2008 e 2020. Cerca de 11% das obras são assinadas por mulheres, e só 0,5% por mulheres negras. Com grupos subrepresentados ocupando o espaço das artes plásticas, há uma busca maior de descolonizar a produção e o olhar sobre o mundo e sobre esses corpos.
Criola, por exemplo, começou a atuar como artista independente porque não se via retratada na arte. "A arte já está dentro das pessoas pretas, mas é algo negado para nós desde a infância. É como se fosse algo distante, para quem tem dinheiro. Mas, no decorrer da minha trajetória, entendi que é minha forma de me comunicar. É o que sou no mundo", contou à Priscilla Geremias, community manager de Marie Claire.
Criola afirma que sua arte é sua maneira de apresentar uma contra narrativa para um mundo no qual ela não acredita e, assim, provocar mais pessoas. Para ela, é importante que isso seja feito nas ruas para ampliar a visibilidade.
"Para mim, a arte urbana e o grafite são democráticas. São acessadas por quem é milionário, bilionário e quem não tem dinheiro. Essa arte vai chegar naquele moleque que não tem grana na quebrada e nem sabe onde é o museu, não tem esse acesso. É como se fôssemos pontes capazes de ligar perspectivas e pontos diferentes", disse a artista.
Lima explica que parte do princípio do pensamento decolonial na arte é reconhecer o apagamento do conhecimento, incluindo a arte produzida por pessoas negras e indígenas; e, assim, começar a categorizar e documentar essa história. Foi isso que ela começou a fazer em seu livro Negros na Piscina: Arte Contemporânea, Curadoria e Educação, obra que faz uma retrospectiva dos últimos dez anos do debate racial na arte brasileira.
“O debate sobre arte me incomoda muito por ser inserido nas agendas e pautas como lugar somente ilustrativo. Não pode ser assim. O mercado de arte mobiliza mais de US$ 77 bilhões ao ano. No Brasil, são 5,5 milhões de pessoas na produção cultural”, afirmou a curadora.
“Quando olhamos para história e vemos ausência de curadores e pesquisadores, o que isso quer dizer? Tiveram pessoas construindo valor e riqueza ao longo de séculos, vivemos a maior escravidão do planeta. Essa dívida é impagável. O debate sobre arte não é simbólico, é econômico”, finalizou.
Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit
O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.