Power Trip Summit
Por , redação Marie Claire — de Belo Horizonte (MG)

Power Trip Summit 2024: 10ª edição encerra em visita exclusiva a exposições de mulheres no Instituto Inhotim; na foto, a obra Celacanto Provoca Maremoto, de Adriana Varejão — Foto: Bruna Brandão
Power Trip Summit 2024: 10ª edição encerra em visita exclusiva a exposições de mulheres no Instituto Inhotim; na foto, a obra Celacanto Provoca Maremoto, de Adriana Varejão — Foto: Bruna Brandão

Em 17 anos de existência, é de praxe que o Instituto Inhotim esteja fechado às terças-feiras. Mas na última terça (28), pela primeira vez, o museu abriu os portões para a realização de uma visita exclusiva de Marie Claire e 100 participantes da 10ª edição do Power Trip Summit, maior evento de lideranças mulheres do Brasil.

O passeio pelo maior museu a céu aberto do mundo e um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil foi mediado pela curadora e pesquisadora Júlia Rebouças, atual diretora artística de Inhotim, e passou por exposições e instalações realizadas por artistas mulheres.

O grupo de Marie Claire inspirou arte ao caminhar pelas galerias fixas da artista plástica brasileira Adriana Varejão, da japonesa Yayoi Kusama e da fotógrafa suíça naturalizada brasileira Claudia Andujar. Também visitou a obra escultórica recém-chegada ao Brasil O Barco, da portuguesa Grada Kilomba, e a obra Giro, da multiartista mineira Luana Vitra.

Roteiro de artistas mulheres no Instituto Inhotim

A visita guiada foi iniciada na G7, galeria que abarca as obras de uma das mais importantes e consagradas artistas brasileiras: Adriana Varejão. Com um projeto arquitetônico muito característico de Rodrigo Cerviño – uma caixa de concreto suspensa sobre um espelho d'água que reflete a natureza –, o pavilhão foi inaugurado em 2008 e abarca obras como Linda do Rosário (um muro de cerâmica cujo interior é preenchido por carne, em referência ao casal morto no desabamento do Hotel Linda do Rosário, no Rio, em 2002) e Celacanto Provoca Maremoto (que usa de azulejaria barroca portuguesa para criar um maremoto de formas, texturas e cores).

Mais recentemente inaugurada, em 2023, a galeria de Yayoi Kusama (a 20ª de Inhotim) deslumbra com um projeto arquitetônico que tem contato integral com a natureza – que se estende até nos banheiros. O pavilhão explora a diversidade de formas e linguagens artísticas da artista plástica, com foco em sua atmosfera imersiva e contemplativa: como I’m Here, But Nothing, uma sala de estar que se transforma ao ser iluminada com luz negra, e Aftermath of Obliteration of Eternity, um espaço escuro com velas suspensas que colocam a visitante diante de uma atmosfera de infinitude.

A Galeria Claudia Andujar reúne mais de 400 obras e registros publicados entre 1950 e 2010, com lente focada no povo indígena Yanomami, causa pela qual a artista se tornou uma grande aliada. Com obras que se dividem entre o olhar sobre a natureza e o choque do contato entre o povo Yanomami e estrangeiros, as fotografias apresentam um retrato sobre a luta pelos direitos e pelo reconhecimento de territórios indígenas.

Depois, foi a vez das exposições temporárias que atualmente preenchem o acervo de Inhotim. Começando por O Barco, de Grada Kilomba, uma das principais expoentes da arte decolonial no mundo. A instalação reúne 134 blocos de madeira queimada, dispostos por 32 metros. Eles referenciam a arquitetura do fundo dos navios negreiros que concretizaram o sequestro de corpos africanos escravizados.

Pintados à mão e em dourado, em cada bloco há um trecho do poema de mesmo nome escrito por Kilomba em seis idiomas: Yorubá, Crioulo de Cabo Verde, Kimbundu, Português, Inglês e Árabe da Síria, nesta ordem. Kilomba compara o ato de se curvar para lê-los à uma maneira de reverenciar as pessoas negras que perderam suas vidas diante da escravidão, que a própria artista define como a maior vergonha da humanidade.

A visita exclusiva foi concluída na Galeria Marcenaria, onde está exposta Giro, obra da artista Luana Vitra. Nome promissor de sua geração de artistas, Vitra nasceu em Contagem, próximo a Brumadinho, e também expôs o trabalho na mais recente Bienal de São Paulo.

Em Giro, ela usa cerâmicas produzidas por artistas locais, cobre e pedras terrosas para questionar os caminhos da mineração e sua influência na paisagem de Minas Gerais. Afinal, foi a mineração a responsável direta pelos desastres ambientais decorrentes do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho. A obra também reverencia os ofícios de seu pai e mãe, que são, respectivamente, torneiro mecânico e poetisa.

O espaço de mulheres e pessoas negras na arte

Durante as rodadas de talks da 10ª edição do Power Trip Summit, Júlia Rebouças falou sobre a importância de atualizar os critérios curatoriais das instituições artísticas para refletir as demandas sociais e políticas contemporâneas.

Fato é que as coleções permanentes de museus no mundo todo são desproporcionalmente masculinas e brancas, vide um estudo que analisou o catálogo dos 18 maiores museus dos Estados Unidos descobriu que 85% dos artistas são brancos e 87% são homens. Essa predominância reforça uma visão de mundo enquanto exclui e impede a visibilidade de outras.

À frente da atual direção artística, Rebouças reconhece a coleção majoritariamente masculina de Inhotim, mas enaltece que esforços estão extremamente direcionados para essa garantia de visibilidade.

“Estamos tratando disso com toda seriedade, com todas as nossas metas e compromissos. Mas hoje, das nossas 18 galerias permanentes, 50% são de artistas mulheres. Esse direcionamento é muito importante, porque o que se faz num espaço cultural, reverbera no mundo inteiro", afirmou no evento.

Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit

O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.

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