A atriz Zezé Motta se abriu na 10ª edição do Power Trip Summit sobre seu processo de aceitação com a negritude. Em entrevista à Paola Deodoro, editora de beleza de Marie Claire, ela conta sobre uma viagem que fez no início de carreira aos Estados Unidos e teve contato com o movimento Black is Beautiful.
"Fiquei muito impressionada de ver mulheres negras de cabeça erguida. Fiquei me perguntando porque no Brasil a gente andava meio encolhido, de cabeça baixa. Fiquei pensando nisso e minha cabeça foi levantando muito devagarinho", afirmou a atriz.
"Sofria de um processo de embranquecimento desde a adolescência, porque queria ser amada e aceita. Alisava o cabelo, pensava que quando tivesse um dinheirinho ia afinar meu nariz e fazer cirurgia para diminuir meu bumbum. É um alívio muito grande isso ter passado e falarmos disso mais abertamente", contou.
Ao longo dessa viagem, ela parou de alisar o cabelo e, ao voltar ao Brasil, passou a fazer parte do Movimento Negro Unificado (MNU) para preparar um mundo melhor aos filhos e netos. “Depois que levantei a cabeça, ninguém mais abaixou.”
Zezé também teve aulas com Lélia Gonzalez, filósofa e ativista expoente pela luta de mulheres e negros no país.
"Ela é muito responsável por essa virada. Na aula inaugural, que tinha maioria de mulheres negras, falou: 'Sei porquê vocês estão aqui e atenderam esse chamado, mas gostaria de lembrar que não há mais tempo para lamúrias. Temos que arregaçar as mangas e virar esse jogo'. Ela falava de uma maneira geral, como mulher e negra", lembrou Zezé.
A palestrante, escritora e comunicadora Cris Pàz também falou de como é sua relação com sua autoestima ao longo do tempo. Em 2007, ela se tornou viúva enquanto estava grávida do filho. "Era o amor da minha vida, e tive que começar a encontrar meu lugar recém viúva e recém parida, precisava encontrar minha identidade", conta.
A saída que encontrou para levantar a autoestima foi começar, todos os dias, a postar nas redes sociais fotos de seus looks do dia no Instagram, o que começou a chamar atenção de outras mulheres.
"Me vesti, me fotografei, me contrataram como modelo quando ninguém fazia isso. Não era a Gisele Bündchen, pelo contrário. Eu era uma mulher real, e é aí que está o poder e o motivo pelo qual muitas mulheres se identificaram comigo", afirmou Pàz.
'Porque você vale muito'
Maíra Matta, diretora de marca de L'Oréal Paris, contou sobre a história por trás do famoso slogan "porque você vale muito". A frase foi cunhada pela publicitária Ilon Specht nos anos 1970, em Nova York, para vender tinta de cabelo.
Mas, com o tempo, a marca criou um novo significado para acompanhar as demandas e avanços dos movimentos das mulheres ao longo dos anos. "Somos frequentemente questionadas porque as pessoas nos colocam nesse lugar o tempo todo. Parece que nunca estamos completas, sempre duvidando do nosso valor. Mas ninguém pode definir seu valor", afirmou Matta.
Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit
O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.