Anemia: quais são as consequências de não tratar a condição que atinge 30% das mulheres em idade reprodutiva?

Quadro é comum nas mulheres por causa da menstruação e dos distúrbios relacionados ao sangramento

Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo


Cansaço é um dos sintomas da anemia Shvets Production para Pexels

Estima-se que aproximadamente 30% das mulheres em idade reprodutiva, isto é, na janela entre a primeira e a última menstruação, tenham anemia. O dado é da Organização Mundial de Saúde (OMS), que considera a condição um grave problema de saúde pública para crianças pequenas, adolescentes e mulheres que menstruam, bem como grávidas e puérperas.

A anemia é um quadro no qual o número de glóbulos vermelhos ou de hemoglobinas está abaixo do normal no sangue. A hemoglobina é uma proteína existente no interior das hemácias, responsável por transportar oxigênio dos pulmões a todos os órgãos do corpo.

O obstetra e ginecologista Cristiano Salazar, membro da Comissão Nacional Especializada em Tromboembolismo e Hemorragias na Mulher da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que a condição causa diferentes impactos na pessoa, a depender da faixa etária e do cenário.

Em crianças, por exemplo, pode resultar em prejuízos no desenvolvimento neurocognitivo, bem como aumento na morbidade e mortalidade infantil. A incidência de anemia nos pequenos brasileiros chega a 33%.

“Nas gestantes, a anemia se associa com redução do crescimento do feto, prematuridade, hemorragia pós-parto, depressão pós-parto e aumento da mortalidade materna”, diz o médico, que atua no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e no Hospital Moinhos de Vento. Ele acrescenta que 50% das grávidas têm o quadro.

Nas adultas em geral, é comum a fadiga, falta de resistência no exercício, baixa produtividade no trabalho e uma diminuição na qualidade de vida. São sintomas que se confundem com queixas associadas à correria crônica da vida contemporânea.

Quais são as causas da anemia?

Existem tipos de anemia. A mais comum é ligada à deficiência de ferro. Segundo um estudo publicado no periódico The Lancet Haematology, a principal causa de anemia em 2021 foi a falta desse nutriente na dieta, constituindo 66,2% do total de casos.

Por isso, uma das principais medidas para prevenir a condição é seguir uma alimentação rica em proteína animal, sobretudo carnes vermelhas, vegetais verdes escuros, frutas com vitamina C, feijão, cereais, beterraba e alimentos derivados do milho.

Salazar ressalta, porém, que o dado se refere sobretudo às crianças e aos homens.

Nas mulheres adultas, a principal causa é o sangramento uterino anormal, como menstruações abundantes e ciclos irregulares e longos, com mais de sete dias
— Cristiano Salazar, obstetra e ginecologista

O sangramento aumentado geralmente se deve a distúrbios hormonais ou alterações uterinas, como miomas ou pólipos.

Já as gestantes têm mais anemia por causa das transformações normais da gravidez, pois existe aumento do volume de líquido circulante e também do consumo das reservas de ferro.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da anemia é feito a partir da anamnese da paciente e confirmado por um exame de sangue. Quando a hemoglobina está abaixo de 12, a mulher adulta está anêmica. Para gestantes, o nível deve estar abaixo de 11.

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A alimentação provavelmente não é suficiente no tratamento de uma anemia já estabelecida, porque a pessoa precisa de uma dose três vezes acima daquela obtida pela comida, segundo Salazar.

“É preciso acrescentar uma reposição oral de ferro em maior dose, além de outras vitaminas. Em algumas situações específicas, deve-se recorrer ao ferro injetável. É o caso de pessoas com dificuldade de utilizar ferro oral ou de absorver nutrientes, gestantes no final da gravidez ou indivíduos que necessitam de uma recuperação rápida das reservas de ferro e de hemoglobina”, aponta o médico.

Em casos mais extremos, até a transfusão sanguínea pode ser indicada.

Caso o quadro esteja associado ao sangramento uterino anormal, é necessário tratar a causa do problema, comum em miomas e pólipos, por exemplo.

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