Nísia Trindade: 1ª mulher à frente da Saúde reconhece racismo estrutural no SUS e promete acesso ao aborto legal

Ministra ocupa posto após passar a pandemia dedicada a produzir dados de contaminação e facilitar acordo para chegada das vacinas ao Brasil; agora, defende política de cuidado e saúde integral às mulheres

Por Por Mariana Gonzalez, em Colaboração Para Marie Claire


Nísia Trindade: 1ª mulher à frente da Saúde Pamela Moreno

A nova ministra da Saúde e primeira mulher chefe da pasta, Nísia Trindade, assumiu o posto há cerca de dois meses, mas não começou agora a se dedicar à saúde pública dos brasileiros: sua atuação nessa área tem pelo menos duas décadas, mas se intensificou nos últimos anos, quando à frente da Fiocruz liderou ações de enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil.

Entre 2020 e 2022, a socióloga coordenou o acordo entre Ministério da Saúde, Universidade de Oxford e farmacêutica AstraZeneca pela compra de vacinas e criou o Observatório Covid-19, rede que pesquisa e analisa dados epidemiológicos, monitora e divulga informações para subsidiar políticas públicas sobre a circulação do novo coronavírus e os impactos sociais da doença em diferentes regiões no Brasil.

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No primeiro discurso ao assumir o Ministério responsável pelo SUS (Sistema Único de Saúde), Nísia Trindade citou Guimarães Rosa – "o que a vida pede da gente é coragem”– e prometeu fortalecer os programas de imunização, preparar o país para novas emergências de doenças crônicas e infecciosas, e disponibilizar medicamentos, equipamentos e insumos para toda população.

Ao jornal O Globo, disse que tem trabalhado mais de 12 horas diárias. Em menos de dois meses como ministra, Nísia foi a Roraima atender de perto as necessidades de saúde do povo yanomami em meio a uma grave crise de saúde e anunciou a revitalização do Programa Nacional de Imunizações, com a retomada de altas coberturas vacinais, inclusive contra a covid-19.

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Declaradamente feminista e ativa no movimento de mulheres, Nísia Trindade faz importantes recortes de gênero e raça ao olhar para a saúde pública: em entrevista à revista Radis, da Fiocruz, reconheceu que mulheres negras são as que mais sofrem com violência ostética e mortalidade materna, defendeu a importância de enfrentar o racismo estrutural no SUS e prometeu que o Ministério da Saúde traalhará pela saúde integral das mulheres garantindo inclusive o acesso ao aborto em casos permitidos por lei.

“Há muita incompreensão [sobre o tema]. Acho que temos que ter um papel pedagógico, porque a maioria da sociedade não sabe exatamente do que se trata. Não adianta apenas ficar indignada e dizer: ‘Mas como não entendem?’. O que estamos fazendo não só está dentro da lei como é uma medida de proteção”, declarou. “Nossa política tem que ser a do cuidado.”

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