Quando o nome de Margareth Menezes foi anunciada para chefiar o Ministério da Cultura do novo governo Lula, houve quem se desapontou, dizendo que esperava um nome “mais técnico” ou com mais experiência de gestão para chefiar uma das pastas mais sucateadas durante o governo bolsonaro; mas houve também quem apontasse racismo nessas críticas, como artistas, jornalistas e a escritora Conceição Evaristo: “Bocas pronunciadoras de apoio às mulheres negras, na hora de escolherem, optam pelo nome de homens brancos. Aos homens brancos é pedido curso de gestor público?”, questionou.
Além da carreira na música que a garantiu quatro indicações ao Grammy e o título de “Aretha Franklin brasileira', dado pelo jornal Los Angeles Times, Margareth tem uma longa trajetória como gestora cultural: há quase 20 anos fundou a Fábrica Cultural, ONG que desenvolve projetos nas áreas de educação, cultura e produção sustentável na Península de Itapagipe, em Salvador.
Neste 8 de Março, Marie Claire perfila as 11 ministras do governo Lula para responder como a atuação delas pode melhorar a vida das mulheres brasileiras.
Mas, ao longo de sua trajetória, tem enfrentado a intolerância religiosa e o racismo estrutural na cultura: durante a pandemia de covid-19, em meio à onda de lives de artistas nas redes sociais, sofreu com a falta de patrocínio enquanto artistas brancos tinham grandes empresas investindo em suas apresentações; e, em 2021, em entrevista a Universa, do UOL, criticou o fato de a indústria do axé music, da qual faz parte, ser comandada por empresários e artistas brancos.
“Até os grandes blocos afros daqui, o Olodum, Ilê Aiyê, têm dificuldade para ter patrocínio. É como se não tivessem valor. Mas a música que faz sucesso, que tem a estética da Bahia, é a trazida pelo povo negro daqui.”
Os primeiros sinais de sua atuação à frente da pasta –recriada em 2023 após quatro anos rebaixada a uma secretaria no Ministério do Turismo– vão justamente no sentido de combater o racismo e defender a diversidade na cultura.
Desde seu discurso de posse, Margareth tem defendido a descentralização dos recursos da Lei Rouanet, garantindo que o financiamento chegue a todas as regiões do Brasil e seja distribuído entre diversas práticas culturais.
“Quem extinguiu o Ministério o fez porque sabe que cultura incomoda, desobedece e floresce. E também é uma forma de democracia. Quanto mais tenta frear a arte, mais ela vai crescer”, afirmou a ministra, em seu discurso de posse.
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Em menos de uma semana no cargo, precisou se dedicar à restauração de parte do acervo do Palácio do Planalto destruída nos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, em brasília: na ocasião, foram atacadas oras como “As Mulatas” de Di Cavalcanti, o vitral “Araguaia” de Marianne Peretti, o quadro "A Bailarina" de Victor Brecheret, além de bustos, esculturas e peças históricas – parte delas não poderão ser recuperadas.