Eu, Leitora
Por e , em Redação Marie Claire — de São Paulo (SP)

Meu nome é Mary Porto e quando eu tinha 18 anos, eu vivia a época de ouro do Rio de Janeiro. A cidade era linda, eu era jovem e tinha a vida perfeita. Fazia jornalismo na PUC [Pontifícia Universidade Católica] do Rio. Até que em 1958, meu pai foi transferido para a Bélgica. Eu era uma adolescente rebelde, odiava tudo e falei que só aceitava ir se eu pudesse estudar artes, que era minha verdadeira paixão. Meus pais me mandaram para uma escola em Lausanne, na Suíça. Era minha primeira vez sozinha no mundo, me deu aquele frio na barriga, mas fui mesmo assim.

Quando cheguei no Instituto Athenaeum, onde eu estudaria, fui até a secretaria e percebi que tinha um menino que não parava de me olhar. A gente sente essas coisas. Quando me virei, vi que era lindo, loiro, olhos claros, e estava sorrindo para mim. Ficamos amigos e um dia o chamei para tomar um café.

Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Marco Pinto
Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Marco Pinto

O nome dele é Raymond, cursava arquitetura e tinha 19 anos. A gente conversava sobre tudo: arte, música, minha viagem. Ele conta que entrou na secretaria porque sentiu meu perfume. Eu usava o Mitsouko, um perfume famoso da Guerlain, inspirado em uma história de amor de duas pessoas que passaram a vida inteira tentando se reencontrar, igual a gente.

O tempo que passamos em Lausanne foi o melhor da minha vida. Ficamos seis meses juntos. Mas era um namoro adolescente. Mãos dadas e beijos só. Era tudo perfeito, ele era romântico, um verdadeiro cavalheiro.

Mas, o tempo tinha outros planos para nós. Minha família estava voltando para o Brasil e Raymond iria para o serviço militar. Nossa despedida foi como um filme, o via ficando cada vez menor na estação, e junto eu ia deixando para trás meu coração.

A gente prometeu trocar cartas, então toda semana eu enviava desenhos, fotos, mensagens que raramente chegavam e, se chegavam, ainda demoravam meses. Com o tempo, as cartas pararam. Se é difícil manter um relacionamento à distância agora, imagina naquela época?

Os anos se passaram, eu me casei pela primeira vez, nunca mais tive notícias do Raymond, mas também nunca o esqueci. Me mudei para São Paulo e tive três filhos: Carlos, Luis e Isabela. Depois de 16 anos, me separei, nossas diferenças eram muito grandes.

Logo depois me casei pela segunda vez, ele era cunhado de uma amiga e também era recém-separado e com três filhos. Ficamos 10 anos juntos, até ele fugir com a secretária e nunca mais aparecer. Eu tinha 49 anos na época e estava decidida a nunca mais me casar, queria focar na minha carreira, nas minhas coisas. Foi então que reencontrei meu psicanalista que me auxiliou no primeiro divórcio, nos apaixonamos e ficamos juntos por 12 anos, até ele falecer.

Então, eu cheguei aos 74 anos, plena comigo mesma, feliz com a minha família, netos e, dessa vez, eu realmente estava bem sozinha. Se alguém falasse que eu iria me casar, eu certamente falaria que a pessoa estava doida.

Até que há 10 anos, tudo mudou: eu recebi um envelope amarelo gigante na porta do meu ateliê. Eu achei que fosse engano e demorei para abrir. Mas, quando o fiz, fiquei completamente em choque: era uma carta do Raymond, me procurando 55 anos depois.

Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Marco Pinto
Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Marco Pinto

Na carta estava escrito:

‘Colombier, 11 de maio de 2014. Em 1958, em Lausanne, tive a oportunidade de conhecer uma charmosa brasileira. Ela morava no número 2 da Av. Ruchonnet. Eu tinha o prazer de chamá-la pelo nome do delicioso perfume da Guerlain, que lhe caía tão bem: Mitsouko... Durante alguns meses ela frequentou a mesma escola que eu, o Instituto Athenaeum. Seu pai teve a honra de representar o Brasil na Exposição Universal de Bruxelas. Portanto, se meu nome e estas palavras têm algum significado para você, tenha a gentileza de me confirmar. Parece-me que esta poderia ser uma ocasião maravilhosa de simplesmente trocarmos algumas palavras, algumas memórias. P.S.: Lhe envio esta carta como quem lança uma garrafa ao mar!’.

Eu não conseguia parar de tremer! Como você reage quando um amor do passado volta assim? Ignora? Responde? Várias coisas me passaram pela cabeça e minha filha Isabela, romântica como eu, insistiu que o respondesse. Fiquei com muito medo, mas ele também era o único homem que mexia comigo ainda.

Dois dias depois, eu mandei um e-mail para o endereço que ele tinha colocado no final da carta. Não sabia o que dizer, mas comecei escrevendo que a carta na garrafa chegou na praia certa e perguntei o motivo dele ter me procurado depois de tanto tempo. A resposta veio no outro dia: ‘Porque eu nunca te esqueci’.

Começamos a conversar todos os dias pelo Skype. Ele me contou que se casou uma única vez e ficou viúvo quando sua mulher morreu em decorrência do câncer. Raymond contou que estava arrumando as gavetas e encontrou um isqueiro antigo que com uma foto minha, presente que eu lhe dei na época.

Ele foi até o Consulado de Genebra, na Suíça, que o aconselhou a checar as listas telefônicas. Primeiro, ele tentou o Rio de Janeiro. Em seguida, São Paulo, onde eu estava morando. A sorte é que eu estava usando meu nome de solteira: Mary Porto. Ele então encontrou dois endereços e mandou a mesma carta amarela para ambos.

Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Augusto Pinto
Em 1958, aos 18 anos, Mary Porto mudou-se para Lausanne, na Suíça, para estudar artes plásticas. No primeiro dia conheceu um jovem arquiteto com quem viveu um romance por seis meses, até voltar ao Rio. Cinquenta e cinco anos depois, ela recebeu uma carta dele e decidiu reviver esse amor — Foto: Augusto Pinto

Ficamos conversando por semanas, até que ele disse que viria para o Brasil ver minha exposição. Outro choque: o que eu iria dizer para pessoas? Mas, quando ele foi comprar as passagens, viu que o passaporte estava vencido e que demoraria para conseguir renovar. Foi então que tomei coragem e disse que então iria visitá-lo nas férias. Ele amou a ideia e disse que eu poderia ficar na casa dele e, se preferisse, ficaríamos em quartos separados.

No avião, passei a viagem toda pensando se era uma boa ideia. Todos, a não ser Isabela, achavam que eu estava ficando maluca. Mas, quando cheguei no aeroporto de Zurique e o vi, parecia que a gente tinha ficado só uns quinze dias longe. Ele era a mesma pessoa, bonitão, só um pouquinho mais velho.

O tempo parecia não ter passado, nos abraçamos e tínhamos 55 anos para colocar em dia. Uma semana depois, estávamos deitados na cama, ele sacou um anel de ouro e perguntou se eu queria casar com ele. Eu nem pensei e aceitei. A gente não tinha tempo a perder.

Estamos juntos há oito anos, nos revezando entre o Brasil e a Suíça. Não fazemos planos para o futuro. Nosso combinado é viver o hoje, felizes e juntos. A essa altura da vida, entendi que o amor não envelhece. Ao contrário, é a fonte da eterna juventude. A gente se completa e percebemos que nossa história poderia inspirar outras pessoas, então escrevemos o livro “A Carta Amarela”, que conta nossa história e prova que nunca é tarde para amar e encontrar o amor (de novo).

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