Eu, Leitora

Por Por Kizzy Bortolo

“Até os 6 anos eu tinha o peso de uma criança saudável. Depois dessa idade, comecei a engordar e, por isso, sofria bullying na escola. Na adolescência, fui ficando cada vez mais gorda e os ataques foram piorando. Doía muito ser rejeitada. Por mais que eu me esforçasse em parecer com as meninas do colégio, as ‘garotas dentro do padrão’, só era tratada como a gorda e engraçada da turma. Passei, então, a usar uma estratégia: zombava de mim mesma para não demonstrar fragilidade na frente de todos.

Quando voltava da escola, corria para o banheiro e chorava, chorava, chorava. Depois que desabafava, ali, sozinha, saía como se nada tivesse acontecido; não queria preocupar meus pais com meus problemas. Eu fingia ser muito bem resolvida com meu corpo, dizia que me aceitava quando isso não era verdade. No fundo, estava enganando a mim mesma, porque só eu sabia o que sentia ao ser chamada de ‘gorda’, ‘baleia’, ‘botijão de gás’. Nunca era escolhida para nada. Isso me abalava demais.

Quando uma situação me deixava triste ou com raiva, descontava na comida. Aos 14 anos, fui em uma nutricionista pela primeira vez, estava pesando 82 quilos. Eu seguia o que ela me passou, mas logo depois que emagrecia, engordava. Na mesma época, entrei na academia e comecei a malhar com acompanhamento de um personal trainer.

Perdi peso, mas, um dia, saindo da esteira, fiquei tonta e torci meu tornozelo. E nunca mais voltei a ser como antes. Toda hora fazia fisioterapia, imobilizava, ficava sem malhar 15 dias e melhorava. Só que entrei num looping: meu tornozelo piorava, meu pé inchava e parava de novo. Passei a ficar muito tempo sem me exercitar e a comida era, de novo, minha fuga.

Aos 17 anos, entrei na faculdade de fisioterapia, no Rio de Janeiro. No início, levava comidinhas nutritivas, mas com a rotina corrida, acabava fazendo um lanche rápido e nada saudável durante as aulas. Nessa mesma época, comecei a tomar remédios receitados pela endocrinologista, como o orlistat, que eliminava gordura pelas fezes, e sibutramina, mas acelerava meu coração e deixava minha boca muito seca. Os medicamentos tiravam um pouco da vontade de comer, mas eu continuava comendo. Vivia num efeito ‘sanfona’ e sempre voltava à estaca zero.

No auge dos meus 120 quilos, perto dos 18 anos, e já com sérios problemas de saúde, minha endocrinologista sugeriu a cirurgia bariátrica [de redução de estômago] o que chamou minha atenção, pois duas pessoas próximas tinham feito e dado certo. Pensei: por que não? Eu já tinha tentado de tudo, feito todas as dietas mirabolantes. Em agosto de 2014, fui conhecer o cirurgião e me encontrei. Era aquilo que precisava, o início de um sonho. Mal sabia que começaria ali o maior pesadelo da minha vida. Na época, meu plano de saúde não cobria esse tipo de cirurgia, e meu pai pegou um empréstimo de R$ 20 mil para pagar a operação.

A cirurgia foi realizada pelo método ‘bypass’ [quando estômago é reduzido com cortes ou grampos] , em 3 de setembro de 2014. Fiquei cinco dias em observação, usando um dreno. Depois da alta, saí do hospital andando normalmente. Apesar do incômodo da cirurgia, estava feliz da vida.

Retornei 15 dias depois para tirar o dreno e os pontos na barriga. Segui com a dieta e a vitamina que me passaram e fui emagrecendo aos poucos. Quando novembro do mesmo ano chegou, meus pais começaram a perceber que eu estava repetindo coisas que havia acabado de dizer. Esse foi o primeiro alerta de que havia algo errado com meu corpo.

Contei ao médico que havia me operado o que estava acontecendo, mas ele disse que aqueles sintomas não tinham relação nenhuma com a cirurgia. Um tempo depois, comecei a sentir fortes cãibras, formigamentos e dormências da cintura pra baixo. Meus pais voltaram a ligar para ele, que seguia dizendo que não fazia sentido. Resolvemos então ir até o hospital. Lá surgiu um novo problema: nenhum médico queria pegar o meu caso. Falavam que quem deveria fazer isso era o meu cirurgião que, incrivelmente, nunca estava no hospital.

Minhas pernas doíam muito a ponto de um dia, em casa, ao tentar me levantar da cama, caí no chão. Não sentia absolutamente nada da cintura para baixo. Voltamos ao hospital e minha mãe entrou na sala do médico no meio de uma consulta e ordenou que ele fosse me ver na emergência. Quando me examinou, disse que eu estava com falta da vitamina Tiamina. Imediatamente, ele me internou. Resultado: passei 15 dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Voltei para casa e continuei não sentindo metade do meu corpo. Comecei a fazer sessões de fisioterapia.

Nada do que eu comia parava no meu estômago. Descobri que o grampo da bariátrica tinha ficado apertado demais no meu estômago, impossibilitando que eu pudesse comer ou tomar qualquer líquido sem colocar tudo para fora. Por isso, tiveram que por sonda nasal para que eu me alimentasse e acesso no pescoço para as vitaminas. Tive anemia, desnutrição severa, perdi cabelo, precisei fazer hemodiálise e continuei no CTI, onde minhas pernas começaram a atrofiar. Isso tudo desencadeou crises de ansiedade que eu nunca tinha tido.

No auge das crises, arrancava os acessos, a sonda, tudo. Não aguentava mais ficar no quarto, não aguentava mais ver médicos, só conseguia dormir com remédio. Com o tempo, meu quadro foi se agravando. Eu estava cada vez mais magra, mais pálida e sem vontade de viver. Cheguei a pesar 39 quilos. Acho que a parte mais difícil era estar deitada na cama precisando de todo mundo para absolutamente tudo. Odiava ter que ficar pedindo ajuda, mas estava completamente debilitada.

Quando voltei para o quarto, minhas pernas já estavam totalmente atrofiadas, pois elas ficaram dobradas durante um mês, mesmo minha mãe pedindo as sessões de fisioterapia. Foi quando conheci um outro médico, o Dr. Eduard. Quando ele viu meu quadro, passou a cuidar de mim. Ele esteve comigo esse tempo inteiro, foi um anjo na minha vida. Quando dizia que não aguentava mais, ele estava ali me dando força e falando que eu iria sair daquela situação.

Entre idas e vindas, passei dois anos internada. Usei fraldas durante muitos anos. Tive muito medo de nunca mais voltar a andar, eu ouvia muita gente dizer isso pra mim. Saí do hospital no meio de 2016. No ano seguinte, operei uma perna e, em 2018, a outra. Como elas estavam dobradas, foi colocado um fixador externo que, aos poucos, eu mesma ‘rodava’ e ia esticando pouco a pouco, até esticar a perna toda. O meu caso era tão grave que minha cirurgia foi transmitida ao vivo para estudantes de medicina, e foi um sucesso total.

Aos poucos, minha sensibilidade foi voltando, assim como a força nas pernas. Com muito esforço e dedicação consegui ficar em pé no andador. O segundo passo era reaprender a andar. Dez meses depois, comecei a dar os primeiros passos com o andador, mesmo com muito medo.

Fui me fortalecendo, com a fisioterapia recuperei o equilíbrio do tronco e passei a sentar sozinha, sem precisar apoiar as costas em travesseiros. Aos 28 anos, ainda estou em processo de reabilitação, reaprendendo a andar, o que é um processo muito lento, caro e cansativo. Mas, com dedicação e esforço, estou tendo avanços. Ainda preciso melhorar o equilíbrio, mas já consigo dar alguns passos, mesmo que devagar. Quando saio, ainda vou acompanhada para caso precise me apoiar em alguém.

Estou fazendo pilates, em breve recomeço a faculdade e me apaixonei ainda mais pela profissão; quero ser uma ótima fisioterapeuta. Acredito que conseguirei entender melhor meus pacientes e ajudá-los com a minha história.

Hoje, quando me olho no espelho, vejo uma pessoa que lutou muito pra sobreviver, uma mulher forte que pode conquistar o que quiser no mundo."

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