Retratos

Por Camila Cetrone


Kall Medrado — Foto: @diego_nnunes/Divulgação
Kall Medrado — Foto: @diego_nnunes/Divulgação

"Trate seus problemas com amor / Experimente afastar a dor / Mude Você." A letra cantada por Kall Medrado em 'Mude Você', lançada no início do ano, diz muito sobre as descobertas da cantora soteropolitana nos últimos tempos. Especialmente, de 2018 para cá. No fim daquele ano, quatro após integrar o time de Claudia Leitte no ‘The Voice Brasil’, se viu entre a vida e a morte após sofrer um infarto.

O pedido de socorro do coração aos 33 anos, lembra ela a Marie Claire, foi fruto de um estresse profundo, que desencadeou problemas de saúde. A exaustão, afirma, foi resultado de anos se sentindo invisível na indústria musical. “Para me livrar dessa tristeza passei a viver uma vida sem limites. Comecei a sair de segunda a segunda, dia e noite. Queria me sentir viva, parte da sociedade. Fui virando uma bomba relógio, comecei a dormir mal, comer mal… Foi em um desses dias que a máquina parou."

Gordofobia

Kall teve uma participação frutífera na terceira edição do ‘The Voice Brasil’, em 2014. Depois do reality, lançou o EP ‘Sonhos Gratuitos’. Mas a carreira não deslanchava. “Queria que as pessoas parassem de me elogiar para me respeitar e tomar coragem para trabalhar comigo”, lembra.

"Parece que se coloca uma validade para a mulher. E quando é uma mulher nordestina, gorda e com traços indígenas, fica mais complicado. O mercado, que é cheio de preconceitos e completamente machista e patriarcal, se fecha”, conta.

A rotina desenfreada pra compensar a frustração na carreira teve consequências: ela desenvolveu diabetes, colesterol alto e hipertensão. “Estava desperdiçando a minha vida e nada acontecia".

‘Ser uma pessoa gorda precisa ser normalizado’

Após infartar, Kall se viu em uma encruzilhada. Por orientação médica, precisou fazer uma cirurgia bariátrica, um procedimento altamente invasivo, que a assustava. Quando começou a perder peso, ela lembra que passou a praticar a mesma gordofobia da qual foi vítima a vida inteira.

“Logo que comecei a emagrecer, pensei que perder peso era meu sonho, que era tudo o que eu queria. Enchia o feed do Instagram de fotos de antes e depois. Fui percebendo o quanto eu estava sendo gordofóbica e irresponsável”, diz.

Kall foi vítima da armadilha estrutural que abre mais portas aos corpos magros do que aos gordos e viu que a abordagem que estava usando podia colocar as pessoas em risco, além de continuar estigmatizando os corpos gordos. “A bariátrica não é uma cirurgia que salva vidas. Só precisei fazê-la por conta da saúde. Ela te coloca em uma situação que pode ser muito perigosa.”

Por motivos de saúde, Kall Medrado precisou fazer uma bariátrica e, como influenciadora, luta pela normalização dos corpos gordos — Foto: @diego_nnunes/Divulgação
Por motivos de saúde, Kall Medrado precisou fazer uma bariátrica e, como influenciadora, luta pela normalização dos corpos gordos — Foto: @diego_nnunes/Divulgação

Em vez de focar nos “benefícios” do emagrecimento, ela aderiu a um discurso body positive, mais ligado à saúde e à diversidade de corpos, incentivando que as pessoas sejam felizes como são. Isso a levou ao mercado de influência digital, onde fala sobre bem-estar e mostra sua realidade.

Passou a se desenvolver enquanto influenciadora e hoje mostra sua rotina para mais de 800 mil seguidores. “Ser uma pessoa gorda precisa ser normalizado. É um trabalho que tem que ser feito na sementinha, onde se aprende que ser gordo é estar fora desse padrão ridículo que as pessoas vêm implantando durante todos esses anos. Eu adoeci por causa dessa pressão, por causa do preconceito enraizado na estrutura. Sou uma influenciadora que não pode deixar de falar sobre isso”, pondera.

Um futuro cheio de música

Kall Medrado pretende levar repertório de seu projeto mais recente, o álbum 'Musi-Kall', aos palcos brasileiros e planeja lançamentos para 2023 — Foto: @diego_nnunes/Divulgação
Kall Medrado pretende levar repertório de seu projeto mais recente, o álbum 'Musi-Kall', aos palcos brasileiros e planeja lançamentos para 2023 — Foto: @diego_nnunes/Divulgação

O infarto, no fim de 2018, mudou a maneira como Kall se relaciona com ela mesma e sua carreira. Ela precisou passar um tempo longe dos estúdios e palcos para se restabelecer. “Houve uma pausa, que foi o que me deixou mais triste. Não foi por minha culpa, mas por questões sociais, mercadológicas e também de saúde que me levaram a ficar doente".

Agora, aos 37 anos, tem retomado de pouco em pouco a carreira musical. Além de lançar faixas inéditas no EP ‘ASE - Agora Sou Eu’, ela relançou ‘Musi-Kall’, um trabalho em que expande suas raízes no soul e black music. Entre faixas autorais e releituras de referências como Fat Family e Ara Ketu, ela busca escancarar e consolidar sua identidade. Isso após anos sendo obrigada a falar de seus descontentamentos de forma codificada nas primeiras composições.

“Quero me mostrar sem rótulos. Um gênero é muito pequeno pra um cantor. Gosto de cantar como as cantoras de black music e soul, mas acrescento minha identidade em qualquer estilo que canto. Agora, quero fazer o que eu quiser”, afirma.

Kall não cresceu em um lar com músicos, tampouco fez aulas de música ou canto crescendo em Salvador. Mesmo assim, sempre teve um repertório sobre estrutura musical. “É algo que não tem explicação. Sabe aqueles vídeos de crianças que com três anos de idade tocam Beethoven no piano? Sou eu com o canto”, compara.

Sem muitas opções para estudar música em Salvador, a não ser ritmos e estilos musicais mais locais, a mãe e a tia de Kall decidiram a matricular no curso de Artes Cênicas após perceberem seu dom. “Foi o melhor que elas podiam me oferecer naquele momento.”

Os karaokês se tornaram sua maior escola. Foi neles que ela aprendeu o repertório musical que poderia seguir e praticou suas habilidades. “Fui descobrindo cantores que achava incríveis e que conseguia brincar vocalmente falando, tipo Zizi Possi, Sandra de Sá, Cazuza, Djavan… foi nessa salada de frutas que fui me desenvolvendo, mesmo sem entender a potência deles."

Do karaokê, passou a cantar na casa de amigos, que começaram a convidá-la para participações em seus shows. “Eu virei a garota da canja”, diz, aos risos, em referência às pontas improvisadas no palco. Em uma dessas ocasiões, no Festival de Jazz do Guarujá, no litoral norte de São Paulo, um olheiro do ‘The Voice’ a convidou para participar do programa.

Olhando em retrospecto para esse momento, ela conta que todas essas ocasiões confirmam seu destino e sua vocação. “É o que fui predestinada a fazer na vida. Não seria feliz fazendo outra coisa. Chamo isso de maldição no melhor sentido que essa palavra possa ter.”

Animada, mais madura e segura, Kall não esconde a felicidade e a animação com o que o futuro reserva para ela e sua carreira como artista. Além de levar o projeto ‘Musi-Kall’ aos palcos do Brasil, ela está preparando novas músicas e deve lançar uma delas, ‘Favelada Nordestina’, no próximo ano. A ideia é que seus novos trabalhos passem por temas que a atravessam, como o machismo, as referências à umbanda, sua religi��o, e o orgulho nordestino, por exemplo. Tudo isso de forma leve e divertida.

“Em tantos lugares do Brasil, as pessoas se acostumaram a nos tratar de forma diferente. É normalizado. Sinto que modifiquei a cabeça de muitas pessoas sem precisar me impor de forma rigorosa. Quero passar uma mensagem sobre o que é xenofobia, racismo, preconceito e como a mulher não deve ser tratada.”

Kall também revela seu maior desejo: poder trabalhar e estar no palco. “O resto é realmente consequência. Meu maior desejo é poder realizar aquilo que amo, que é cantar por aí. Não poderia estar numa melhor fase”, finaliza a cantora.

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