Retratos

Por Kizzy Bortolo

“Sou da etnia Munduruku. A aldeia onde vivo com a minha família se chama Sawre Muybu e fica localizada na terra indígena Daje kapap Eypi, à margem direita do rio Tapajós, no Pará. A cidade mais próxima é Itaituba, a 150 quilômetros de distância. O acesso é muito restrito: da cidade, é preciso pegar um carro até o porto de Bubure e, depois, navegar por mais de sete horas em um barco até chegar à aldeia, onde há 22 famílias, 19 casas e cerca de 80 indígenas. É muito raro receber turistas na nossa aldeia! Aqui, para subsistir, a gente planta, colhe, caça e faz artesanato.

Desde menina, gosto de jogar futebol, tomar banho no igarapé, caminhar livre pela floresta e andar de voadeira pelo rio Tapajós. Até os meus 11 anos, levei a vida de uma criança indígena, uma criança que não enxergava nada além da floresta ao redor. Então, não conseguia imaginar que os pariwat [não indígenas] estavam de olho na nossa terra. Só vivia dos ensinamentos dos nossos avós e anciões nos dizendo o quanto era importante proteger a floresta e quão sagrado são os rios que nos alimentam.

Aos 12, comecei a perceber que tudo corria perigo, tal qual nossa floresta. O rio, hoje, não serve mais nem para tomar banho. Os peixes, que antes nos alimentavam, estão contaminados pelo mercúrio trazido pelos garimpeiros que tomaram a região. Tudo isso mudou ao longo dos anos e, hoje, por meio do nosso coletivo, consigo mostrar para o Brasil e para o mundo como o garimpo vem destruindo e devastando o nosso solo sagrado, o nosso bem maior que é a floresta.

Venho de uma território que é muito cobiçado pelos garimpeiros e madeireiros. Há muitos anos a nossa terra é explorada. Mas, de 2019 para cá, piorou ainda mais. O avanço do garimpo se intensificou, e o rio Tapajós, que fica no entorno da nossa aldeia, ganhou águas mais leitosas, tendo as cabeceiras dos igarapés devastadas por máquinas pesadas.

Nossos rios, que são extremamente sagrado para nós, começaram a ficar doentes, sobretudo por causa da contaminação do mercúrio. Ficou impossível enxergar os peixes e também inviável de beber sua água e pescar.

Desde 2014, trabalho com audiovisual, tendo como objetivo, principalmente, divulgar a luta do meu povo, denunciar os crimes que vêm acontecendo nas nossas florestas. Junto a outras indígenas, criei um coletivo audiovisual, mas, ultimamente, ficou perigoso mostrar todas as irregularidades, pois não aceitavam que denunciássemos o trabalho ilegal de garimpo próximo à nossa aldeia. As ameaças aumentaram muito, mas, mesmo assim, nós, mulheres, caciques e lideranças indígenas não deixamos de lutar.

Hoje, uso meu trabalho como cineasta para denunciar o desmatamento, invasões, para preservar a nossa cultura. Uso meu celular como instrumento para ajudar nessa proteção, produzindo vídeos e fotos contra o garimpo ilegal, e para contactar as autoridades fiscalizadoras. Também acompanho as lideranças indígenas registrando suas falas, queixas e documentando esse material, que depois é enviado para as autoridades, como o MPF (Ministério Público Federal).

No final do ano passado, conseguimos colocar um novo presidente no poder, um governo que se preocupa com as causas indígenas e com os povos originários. Esperamos que agora todas essas irregularidades parem, porque muitos já morreram nas aldeias, nos rios e estamos cansados de ver os jovens indígenas sendo enganados e manipulados pelos garimpeiros, que trazem bebidas alcoólicas e até drogas. Antigamente, quando não convivíamos com o homem branco e com ‘não indígena’ não tinha nada disso.

Beka saw Munduruku (à frente), da terra indígena Daje kapap Eypi’, localizada no estado do Pará — Foto: Arquivo Pessoal
Beka saw Munduruku (à frente), da terra indígena Daje kapap Eypi’, localizada no estado do Pará — Foto: Arquivo Pessoal

Nossas mulheres, principalmente as grávidas, são as que mais sofrem com tudo isso, principalmente pela contaminação de mercúrio nos rios, que causam a perda de seus bebês. Não há como eliminar o mercúrio do nosso corpo. É só tragédia que nos trazem. Mas, ainda assim, estamos aqui para resistir e seguimos existindo –e resistindo!

O povo Yanomami está sofrendo muito com o impacto do garimpo ilegal no seu território, assim como o meu povo, Munduruku, e o povo Kaiapó. Todos estão em situação precária, passando fome, por causa do governo anterior, que não atendia às demandas indígenas, que não olhava por nós em nenhuma circustância.

Gostaria de fazer um apelo a quem estiver lendo o meu relato para que olhem pelos povos indígenas e, principalmente, para este povo que está tanto precisando de ajuda neste momento. O garimpo trouxe, além de toda miséria, doenças como a malária, a desnutrição e a fome. Peço que todos possam olhar pelas causas indígenas e que percebam que nós somos os verdadeiros protetores das florestas brasileiras.

Sou uma indígena cineasta e que luta para proteger a floresta, assim como para ajudar outras lideranças. Para isso, uso o audiovisual como arma, e uso as minhas redes sociais para denunciar as irregularidades que acontecem no nosso território. Quero que o que filmamos possa ser visto pelo mundo e que sirva de alerta para todos verem o que passamos aqui na floresta amazônica!

Desde muito cedo, meus avós me ensinaram a importância de preservar a floresta, o rio e os animais. Este solo em que pisamos é muito sagrado! A história dos nossos ancestrais conta que o rio foi feito através de dois caroços de tucumã, e assim foi feito o rio Tapajós que nos banha. Já a floresta e as árvores são os nossos ancestrais que ali estão fincados na terra.

Então, com desmatamento, nós indígenas sentimos muito, é como se morresse parte de nós! Já que parte de nós está sendo destruída. Estamos fazendo o possível e o impossível para que não haja mais desmatamento e irregularidades no nosso solo sagrado. Nós protegemos a floresta não só por nós, mas por todo mundo, para toda a humanidade que depende da floresta em pé para viver!

Apesar de tudo que estamos vivendo, ainda tenho muita esperança de que isso pode mudar e que geração futura possa continuar lutando pela floresta. Meu sonho é que, no futuro, nosso território ainda possa continuar verde, com as nossas árvores milenares todas de pé!

Muitos julgam que nós, indígenas, não somos felizes morando nas aldeias e vivendo longe da civilização. Mas, muito pelo contrário, somos realmente felizes da forma livre que vivemos! Alguns homens brancos querem acabar com a nossa liberdade de ir e vir na floresta e na nossa aldeia.

Só espero que a juventude indígena nunca deixe de lutar pelo sagrado que é repassado e dito todos os dias pelos mais velhos. Isso é repassado de gerações em gerações e é muito importante para nós! Acredito que a minha geração está melhor equipada para enfrentar o desmatamento à medida que a tecnologia avança. Hoje, a nossa arma não é mais o arco e a flecha, mas sim o celular, a câmera nas mãos para mostrar o que, de fato, acontece aqui no nosso território indígena!”

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