Eu, Leitora
Por , em colaboração para Marie Claire — São Paulo (SP)


Neste mês das mães, Mariana Arasaki compartilha sua vivência como mãe de 12 crianças. — Foto: Divulgação
Neste mês das mães, Mariana Arasaki compartilha sua vivência como mãe de 12 crianças. — Foto: Divulgação

"Meu maior sonho sempre foi ser mãe. Conheci meu marido, Carlos, na Igreja Nossa Senhorado Brasil, em São Paulo, e, desde o dia 1, já falamos sobre o desejo de ter filhos. Quando ainda estávamos na fase de nos conhecermos, ele me perguntou quantos filhos eu queria ter, e eu respondi: ‘Quatro, para começar a brincadeira’. Ele riu e embarcou na ideia. Nós nos conhecemos com 25 anos, e nossa primeira filha, Maria Philomena, chegou quando eu tinha 26. Depois, vieram mais 11, totalizando dez gestações: Martin, 11 anos; Maria Clara, 9; Maria Sophia, 8; Bernardo, 7; Margarida Maria, 5; Maria Madalena, 4; Stella Maria, 3; os gêmeos João Pio e Josemaria, 2 anos; e as gêmeas Maria Gabriella e Maria Cristina, de 7 meses.

As pessoas quase não acreditam, mas nunca fiz tratamento para engravidar e todos os partos foram normais. Escolhi não usar métodos contraceptivos, e estamos abertos à vontade de Deus sobre ter mais filhos ou não. Minhas duas últimas gestações foram de gêmeos, dois meninos bivitelinos (não idênticos) e depois duas meninas univitelinas (idênticas). Foram dez gestações muito únicas. Não consigo dizer que fica mais fácil, porque são processos muito diferentes. A maior diferença que sinto da primeira até a última filha é que já sei lidar com algumas inseguranças: sei quando algo é normal ou não. Na primeira vez, tudo é muito assustador; hoje, eu só mando mensagem para a pediatra se for algo muito fora do padrão. A experiência também ajuda a saber qual é a hora de realmente ir ao hospital, sem precisar ficar muitas horas a mais. Minha última gravidez foi a que teve mais risco, porque gêmeas univitelinas dividem a mesma placenta, e é preciso fazer um acompanhamento semanal para ver se o desenvolvimento das duas está equilibrado. Por causa disso, foi uma gestação mais apreensiva.

Sempre me perguntam se eu não me assustei quando descobri que estava esperando gêmeos, mas a verdade é que foi uma grande alegria. No dia em que descobri, tive um sangramento muito forte e estava superaflita. Comecei a rezar e pedir forças para suportar aquela dor, caso tivesse perdido. Quando cheguei na médica, estava tão tensa que não sabia nem descrever o que estava sentindo. Ela fez o ultrassom com a tela virada só para ela e logo começou a rir. Na hora, eu cheguei a pensar que o teste de gravidez tinha sido um falso positivo e que o sangramento era só a menstruação descendo normalmente. Ela me disse: ‘Você não faz ideia do que está acontecendo, né?’, e me deu a notícia de que eram gêmeos. Fui da aflição para a felicidade máxima em questão de segundos.

Foi nessa época, quando tinha oito filhos e estava grávida dos gêmeos, que criei o perfil @coracaodemami no Instagram. Minha irmã e o pediatra das crianças foram os maiores incentivadores para que eu começasse a criar conteúdo. Eu achava que minha vida não tinha nada demais, era apenas mais uma mãe tentando dar meu melhor para os meus filhos, mas eles diziam que compartilhar minha experiência poderia ajudar outras mães. E, de fato, foi um sucesso. É um trabalho que enche o meu coração, porque troco tantas mensagens com outras mães sobre suas histórias, dificuldades no puerpério, e recebo agradecimentos de quem se sentiu menos sozinha pelos meus depoimentos.

Eu tenho um puerpério muito difícil, sofro muito de baby blues em todas as gestações. Na primeira vez, eu me senti péssima, porque estava com a minha filha no quarto do hospital e comecei a chorar sem saber o porquê. Eu nem sabia o que era, nunca tinha lido sobre o assunto. Com o passar dos anos, tive alguns puerpérios piores e outros mais tranquilos, mas sempre é um momento muito doloroso, em que a mulher precisa de muito acolhimento, amor, de ser lembrada de que vai passar. Quando você está dentro dele, parece um looping eterno. Parece que a mulher não se reconhece mais e entra em uma espécie de buraco negro, achando que não vai passar. Eu me sinto aérea, querendo as pessoas do meu lado, mas também querendo ficar sozinha, fico mais sensível, tenho muita insônia. Os piores dias costumam ser no hospital. Na hora, me sinto culpada por não conseguir amamentar, mesmo já sabendo disso antes. Sinto aquela dor por achar que não sou suficiente. Mas não quero chegar em casa e fazer com que meus filhos associem a chegada de um irmão a um sentimento negativo. Eles sempre fazem uma festa quando eu chego da maternidade, até esquecem que eu existo, só querem saber do novo bebê.

O maior desafio é educar e formar pessoas que possam fazer a diferença no mundo”
— Mariana Arasaki

É um momento muito especial, e eu tento focar nisso. Se tem algo que eu aprendi é que é muito importante não focar no baby blues e manter a mente ocupada. Você sempre pode chamar uma amiga para te ajudar em algo, mesmo que seja só conversar e desabafar sobre o momento. É muito importante ter uma rede de apoio para se sentir menos sozinha, e, de certa forma, o Instagram ajuda bastante nisso. Ter esse espaço para falar com pessoas que já passaram pelo mesmo processo é algo que acalma o coração e ajuda a lembrar que é uma fase que passa. Você não está sozinha.

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Meu marido é muito participativo, dividimos todas as funções desde o primeiro momento. Até o meu quinto filho, eu ainda trabalhava na parte administrativa de uma empresa de engenharia civil e nós não tínhamos babá. Éramos só nós dois para dar conta de tudo. Ele vai às reuniões na escola, lê para as crianças antes de dormir, é muito presente. Hoje, duas babás me ajudam durante o dia e uma me ajuda na parte da noite. Também tenho muito apoio da minha mãe e dos meus irmãos. Ainda existe uma cobrança para que a mulher moderna seja autossuficiente, tanto que, quando ela vai descansar, se sente culpada. Eu também já me senti muito culpada, mas hoje entendo que preciso do meu momento. A rede de apoio é fundamental para que a mãe consiga ter seu próprio tempo e voltar a se enxergar como mulher. A maternidade não é se anular. Uma mãe feliz, que se sente bonita, com a autoestima boa, descansada, vai educar de um jeito ainda melhor.

Na rede social, também compartilho nosso dia a dia. Tento fazer com que cada criança tenha a sua própria rotina. Cada um acorda em um horário, porque entram na escola em momentos diferentes, e os mais velhos podem dormir um pouco mais tarde, por exemplo. Meu marido leva os mais velhos para o colégio, eu fico na mesa do café da manhã com as mais novas, ficamos conversando e depois as levo. Faz toda a diferença ter um momento individual com cada filho. Com 12, a dinâmica é mais apertada – até porque meu dia só tem 24 horas e eles ficam na escola até às 15 horas –, mas eu aproveito todos os minutos, desde arrumar a cama até lavar uma louça. Sempre chamo algum deles para vir me ajudar e aproveito para conversar. Eu vou criando oportunidades de ter esse momento único com cada um. São 12 crianças diferentes, com gostos e opiniões diferentes. É importante saber do que eles gostam, do que eles não gostam.

O maior desafio é educar e formar pessoas que possam fazer a diferença no mundo. Sempre digo que nós criamos os filhos para o mundo e precisamos manter a consciência de enxergar o próximo, manter um senso de generosidade. Não quero que sejam crianças e adultos que passem por cima de tudo e todos para alcançar uma ambição. Quero muito que meus filhos tenham esse propósito da verdade, da fé, para estender a mão ao outro e fazer o bem sem olhar a quem.

Tento exercitar isso na prática lidando com o julgamento das pessoas sobre minha vida. E nem estou falando da rede social, onde criei uma comunidade muito bacana. De forma geral, as pessoas costumam ser bem indiscretas, fazendo comentários maldosos, pejorativos, inclusive na frente dos meus filhos, dizendo coisas como: ‘Para que tanto filho? Não tem televisão em casa?’ Sempre digo que nossos filhos são a razão da nossa vida, eu me transformei em uma pessoa muito melhor. E é isso o que eu respondo – sempre com carinho, sem grosseria. Gosto de responder que ‘não, não assisto, tenho coisa melhor para fazer’. Geralmente, a pessoa fica tão sem graça que a conversa acaba ali. Não quero alimentar um lugar de vítima, de injustiçada, porque não é esse o ponto. Mas não tenho nenhum motivo para sentir vergonha da minha família. Ela não é um problema para mim e não atrapalha a vida de ninguém.”

Tenho um puerpério muito difícil, sofro muito de baby blues em todas as gestações”
— M. A.
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