Eu, Leitora

Por Glaucia Santos, em depoimento para Paola Churchill — São Paulo (SP)

Meu nome é Glaucia Santos, tenho 35 anos e sou mãe de duas. A Emily, de 10 anos, e a Cotinha, de 70 anos. Essa história começa em 2010, quando eu trabalhava como camareira no hospital Beneficência Portuguesa em Araraquara, interior de São Paulo.

Nos primeiros dias, eu conheci Cotinha. Ela foi parar no hospital quando tinha 10 anos, após ser atropelada por um caminhão. Ninguém sabia da história dela, e ninguém veio atrás. No acidente, ela perdeu a fala, então ninguém sabia o que fazer.

Cota é apelido de Maria, como ela foi nomeada pelas freiras que trabalhavam no hospital. No primeiro dia de trabalho, vi uma senhorinha limpando a mesa e achei que era algumas das funcionárias. Me explicaram que não, que o hospital era a casa dela. Ela nunca saiu de lá.

Eu e ela começamos a nos aproximar. Independente do turno que eu fazia, Cota sempre me ajudava, e eu preparava o jantar, ou deixava o café prontinho para quando ela acordasse.

Naquela época, apesar de ter um carinho especial, não éramos próximas. Foi em 2018 que tudo mudou. O hospital declarou falência e eu perdi o emprego. A Emily [minha filha] tinha um ano e quatro meses nessa época. Então imagina, eu era mãe solo, sem emprego e a única coisa que eu conseguia pensar era o que iriam fazer com a Cotinha. Fui falando com as outras meninas para saber onde ela estava.

Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal
Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal

Me disseram que ela foi colocada em uma casa de repouso, pois ninguém sabia o que fazer com a Cota. Eu pedi o endereço e fui visitá-la, o que ninguém tinha feito. Como tínhamos esperanças que o hospital fosse ser reaberto, esperava de verdade que fosse ser algo temporário. Mas, chegando lá, vi o quão sozinhos ficavam os idosos. Muitos eram abandonados pelas famílias, e eu não queria que ela passasse por isso.

Quando a Cota me viu, ela me abraçou e chorou dizendo do jeito dela que queria a bonequinha dela. Eu sabia que eu tinha que tirar ela de lá. Pedi para deixarem eu levar ela para casa, falei que eu já tinha uma filha e que eu podia cuidar dela até o hospital voltar. Quando fui buscar a Cota e levei ela para casa, algo mudou. Era a primeira vez que ela tinha um lar de verdade, que ela tinha uma família, sabe? Naquele dia, me tornei mãe de novo.

Ser mãe da Emily me ajudou na hora de adotar a Cota também, pois ela me ensinou a ser mãe. Cresci sem uma figura materna, então, ela me ensinou tudo. A Cota é muito inteligente, o problema é que não fizeram as fisioterapias corretas nela, então ela tem a fala limitada. Mas, quando ela chegou lá, ela passava a mão no meu rosto e falava “tadinha”. Era a forma dela dizer “eu te amo”.

Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal
Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal

Como ela era muito criança quando sofreu o acidente, muitas pessoas no hospital iam visitá-la e passavam a mão no seu rosto e falavam “tadinha”. Ela entendia que era uma forma de carinho. Poucas semanas depois, ela começou a me chamar de “mamãe” também.

Mas, no começo, foi muito difícil. Afinal, eu estava desempregada e com duas filhas para cuidar sozinha. Nesses momentos de perrengue, eu entendi como a Cota era especial.

Ela e Emily se deram bem logo de cara. Inclusive brigam igual irmãs e se amam da mesma forma, não se desgrudam nunca. Depois de um tempo, eu consegui um emprego em uma casa de repouso e conseguia levar a Cota comigo, e a Emily ficava com a minha irmã ou com uma amiga.

Eu chorava de cansaço, eu pedia para Deus me dar força para conseguir ajudar minha família e me manter forte por nós três. Prometi que nunca deixaria elas passarem necessidades ou não se sentissem amadas.

Hoje em dia, trabalho como copeira em outro hospital e as coisas estão mais tranquilas. Mas, durante a pandemia, por exemplo, a Cota quebrou o braço, e quando levamos ela para o hospital, descobrimos que ela tinha um problema no coração. Aquilo mexeu muito comigo, porque percebi como ela era frágil.

Tudo que faço e tudo que conquisto é 100% delas. Eu nunca faço nada sem colocar minhas filhas na frente. Eu faço tudo para a Emily ter a melhor educação e a Cota ter uma vida feliz. Ela nunca saiu do hospital durante 50 anos, nunca saiu ao ar livre, sabe?

Ela não tinha nem documentos, era como se ela não existisse. Mas, consegui não só dar uma certidão para ela, como meu sobrenome. E estamos no processo para eu adotar ela no papel. Se isso acontecer, será o primeiro caso no mundo que uma pessoa adota um idoso como filho.

A história da minha família ficou muito conhecida e, graças a Deus, com os vídeos que fazemos, conseguimos uma nova renda. Ainda trabalho, mas tenho o sonho de conseguir viver disso e passar mais tempo cuidando delas.

Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal
Glaucia Santos e suas filhas — Foto: Arquivo pessoal

A nossa história inclusive vai virar filme. Está no começo das gravações, eles queriam fazer um curta, mas não tiveram 100% da verba aprovada. Participei do roteiro e tudo mais. Acho que vai ser muito lindo nossa vida ser retratada na tela.

Ser mãe mudou minha vida para melhor, sem sombra de dúvidas. Inclusive, no último ano, eu sofri um acidente, um carro passou no sinal vermelho e bateu com tudo na minha moto. Quebrei a perna, tive que fazer cirurgia e quem me ajudou cuidando de mim foi a Cota e a Emily.

Ser mãe das duas é a melhor coisa que me aconteceu. É meu propósito e eu aprendi o que é o verdadeiro amor com elas. Nunca mais me senti sozinha.

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