Cultura

Por Giulianna Campos


Lilia Cabral em sua casa na Gávea, no Rio de Janeiro (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire
Lilia Cabral em sua casa na Gávea, no Rio de Janeiro (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire

Era 9h57 da manhã de sábado quando Lilia Cabral surgiu de moletom cinza e cabelos soltos na tela do Zoom – três minutos antes do combinado. Na noite anterior, a atriz tinha ido dormir depois da meia noite por conta da apresentação da peça A Lista, em São Paulo. “Só deu tempo de tomar banho, café e colocar essa roupa”, justifica ela – como se precisasse.

Marie Claire estava lá, na cadeira dois, fileira C, vendo de pertinho a emoção de Lilia em dividir a cena pela primeira vez com a filha, Giulia Bertolli, 25, no palco do Teatro Vivo. A cumplicidade entre as duas faz o público se emocionar. Quando a personagem de Lilia, Laurita – uma aposentada ranzinza, que se vê obrigada a conviver com a vizinha, a jovem Amanda (Giulia) – diz que não gosta de Freud – “Porque Freud fala mal de mãe” – a plateia se mata de rir. “Tive até que dar um tempinho para eles”, diz a artista. Já quando elas se abraçam no final, olhando a lua cheia na orla de Copacabana, os olhos do público ficam cheios d’água. “É bonito mesmo, a gente sabe”, concorda Lilia. No agradecimento, os olhos marejados são das atrizes: “É nessa hora em que sentimos a beleza do que acabamos de fazer”, diz Lilia.

Contracenar juntas estava nos planos de mãe e filha – mas não por agora. “Nunca propus dividir cena logo no início da carreira, queria dar o tempo dela”, explica a veterana. Mas a pandemia fez com que as duas dividissem a mesma casa. “A Giulia estava pensando em sair, mas voltou atrás”, conta. E na sequência, o mesmo palco. “O Gustavo Pinheiro [autor da peça] pensou na gente, e veio com a ideia para a Giulia. Ela perguntou: ‘Você topa?’. Eu disse: ‘Topo, vamos ver qual vai ser’”.

No auge do contágio do novo coronavírus, o processo aconteceu online, “com câmeras, sem plateia, sem vacina”. Só no fim de 2021, as duas estrearam no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, para um público de mil pessoas. Este ano, chegou a vez de São Paulo. Fazia uma década que ela não se apresentava na cidade em que nasceu.

Criada na Vila Romana, bairro da Zona Oeste paulistana, Lilia descobriu aos 15 que queria ser atriz enquanto estudava na Escola Experimental da Lapa. Filha única do italiano Gino Bertolli e da portuguesa Almedina Sofia Cabral, penou para convencer os pais de sua vocação. “Meu pai não aceitava”, lembra. Ela deu seu jeito: cursou a Escola de Artes Dramáticas da USP (Universidade de São Paulo) escondida da família. Aos 27, quando se mudou para o Rio, rompeu com Gino. “Estava com uma mão na frente e outra atrás, mas tinha coragem de viver.”


Dois anos depois, já tinha feito o espetáculo Feliz Ano Velho com Paulo Betti e as novelas Corpo a Corpo, Hipertensão e Mandala, todas na TV Globo, descobriu que a mãe estava com câncer no pâncreas. Voltou para casa, mas era tarde demais. Almedina morreu em setembro de 1987 e Lilia caiu em uma depressão profunda, que emendou em uma síndrome do pânico. Para além da perda, ela tinha outro motivo para tal: “Meu pai me culpou pela doença dela”.

Em 1994, foi a vez de ele partir devido a complicações de uma diabetes. “Quando olho meu arco dramático, vejo muitas perdas, mas depois a vida falou: ‘É agora!’. E veio a beleza da família e da profissão.”

Foi aos 40, depois de dois abortos espontâneos, que Lilia deu à luz Giulia – menina que chegou para reforçar ainda mais os laços com o segundo e atual marido, o economista Iwan Figueiredo. Dali por diante, sua carreira deslanchou. Além de acumular prêmios importantes – Grande Otelo, Troféu Imprensa, APCA, Shell e Qualidade Brasil – ganhou papéis de destaque em novelas de grande audiência, como Anjo Mau, Laços de Família, A Favorita, Páginas da Vida e Viver a Vida. Por essas últimas duas, de 2006 e 2009, foi indicada ao Emmy Internacional de melhor atriz. Mas só aos 54, ganhou sua primeira protagonista, a famosa Pereirão (Griselda) de Fina Estampa. “Duvidei até o último momento”, confessa.

Canceriana, ela acaba de completar 65 anos e carrega no currículo 30 novelas, 13 peças, dez filmes – “e nenhum botox na cara”. No momento, se prepara para estrear mais dois projetos no cinema: Tire Cinco Cartas, de Diego Freitas, no qual vive uma cantora fracassada que vira taróloga, e outro ainda em segredo. “Posso reclamar da vida? Não posso”, diz. “Minha cabeça está ótima e estou feliz.”

Na entrevista a seguir, Lilia faz uma bonita linha do tempo entre a juventude difícil e o momento atual. Fala de plástica, autoestima, casamento, violência. E dos bastas que precisou dar na vida. Sobre a profissão, é enfática ao defender sua classe, e se entristece com o desrespeito do atual governo com seus ataques à Lei Rouanet. “‘A mamata acabou!’ Essa frase maltrata, diminui, castiga o nosso lado artístico.”

Lilia Cabral - 1. Íris (Deborah Secco) e Ingrid (Lilia) em Laços de Família (2000) 2. Como Angelina de Os Imigrantes (1981) 3. Nanda (Fernanda Vasconcellos) e Tereza (Lilia) em Viver a Vida (2009) 4. Lilia e a filha Giulia em A Lista (2022) 5. Com o marido, Iwan Figueiredo, em 2021, na virada do ano (Foto: Divulgação) — Foto: Marie Claire
Lilia Cabral - 1. Íris (Deborah Secco) e Ingrid (Lilia) em Laços de Família (2000) 2. Como Angelina de Os Imigrantes (1981) 3. Nanda (Fernanda Vasconcellos) e Tereza (Lilia) em Viver a Vida (2009) 4. Lilia e a filha Giulia em A Lista (2022) 5. Com o marido, Iwan Figueiredo, em 2021, na virada do ano (Foto: Divulgação) — Foto: Marie Claire

MARIE CLAIRE Você estava há dez anos longe dos palcos de São Paulo, sua cidade. Como é dividi-lo hoje com Giulia?
LILIA CABRAL Independente de serem dez anos, aqui é diferente porque estou na minha cidade, um lugar que conheço. E conheço também essa solenidade que é o teatro paulista. O público de São Paulo é muito generoso. Ele participa, ri, demonstra o quanto está gostando, sabe? Quando ele não gosta é um silêncio sepulcral no teatro. E como foi bom pra Giulia estar nesse momento no palco, ao meu lado, aproveitando uma coisa que é uma delícia: uma peça de sucesso, com plateia lotada e gente admirando o trabalho dela. Para mim, então... Não poderia ser melhor. Somos muito profissionais em cena, mas quando cai o pano, a gente se abraça e se dá a liberdade de entender que somos mãe e filha também. Sentimos a beleza daquilo, de sermos duas atrizes defendendo uma coisa em que acreditamos.

MC Como começou o interesse da Giulia pela arte? Você sempre a apoiou?
LC Muito por minha influência. Ela me via saindo de casa para trabalhar. Mostrava que o fato de não estar presente, muitas vezes, era porque estava fazendo algo de que gostava muito, que me fazia feliz. E aí foi natural. Aos 12, 13 anos ela fez O Tablado [escola de improvisação teatral]. Aos 15, Ballet Dalal Achcar. Mas demorou para dizer que queria ser atriz. Muita gente cobrava isso dela, como se fosse algo menor, fácil. E ela ficava receosa em tomar a decisão. Queria mostrar que a escolha dela era porque se identificava com aquilo e não porque a mãe era atriz. Quando decidiu, seguiu o próprio caminho. Se inscreveu na Casa das Artes de Laranjeiras, fez testes, foi ganhando personagens... Nessas conquistas, fui percebendo que ela ainda tinha muito que crescer, mas estava indo no caminho certo e tinha vocação.

MC Temia que a comparassem a você?
LC Nunca temi. Giulia tem muita personalidade. Quando entra em cena você não a vê tremelicando. Essa menina não é insegura com nada.

MC E você, é insegura com alguma coisa?
LC Minha autoestima sempre foi bem abalada, mas nunca deixei de ter força para lutar pelas coisas que queria. Meus pais tentavam me deixar mal mas, inconscientemente, eu lutava para não absorver esse comportamento deles. Acho que, se eu fosse uma pessoa insegura, não teria feito tantas coisas na minha vida porque a insegurança é o primeiro passo para você desistir. E eu nunca desisti de nada.


MC Antes de a Giulia nascer você passou por dois abortos espontâneos. Como encarou esses momentos?
LC Foi um sofrimento natural de mãe, de mulher, de perda. No segundo, fiz uma série de exames e um alergista nos disse que tínhamos que tomar umas vacinas para o meu sangue e o do Iwan serem compatíveis, antes de tentar de novo. Escutei aquilo, mas acabei tirando da cabeça. Aí, logo que acabou a quarentena, comecei a enjoar, não tinha vontade de sair da cama... Achei que era depressão, do luto pelo aborto. Um dia, senti muitas dores e fui até o hospital. Fiz uma ultrassonografia e descobri que estava grávida de sete semanas da Giulia.

MC Chegou a pensar que não engravidaria mais?
LC Se eu disser que isso nunca me passou pela cabeça, você acredita? Minha mãe perdeu três filhos. Quando nasci, ela também tinha 40 anos. Então, acho que já estava meio claro que a materninade aconteceria dessa maneira comigo. E, assim como ela, eu sabia que ia ter uma única filha.

MC Foi difícil conciliar a maternidade com o trabalho?
LC No começo foi porque ela ainda era bebê e eu já estava trabalhando muito. Tinha babá, folguista, tudo. Mas, desde pequenininha, a Giulia ficava me esperando. A primeira vez em que ela ficou de pé, cheguei em casa às 22h de uma gravação, e ela estava lá, em pé no berço para eu ver. Eu sofria demais de saudade, chegava a doer. Mas não sentia culpa. Porque meu tempo com ela sempre foi de qualidade, sempre divertido, gostoso.

Lilia Cabral - 1 e 2. com a filha, Giulia 3. Maria Marta (Lilia) e comendador (Alexandre Nero) em Ompério (2014) 4. Como Griselda de Fina Estampa (2011) 5.Catarina (Lilia) e Mariana (Clarice Falcão) em A Favorita (2008) 6. Almedina, mãe de Lilia, aos 69 anos (Foto: Divulgação) — Foto: Marie Claire
Lilia Cabral - 1 e 2. com a filha, Giulia 3. Maria Marta (Lilia) e comendador (Alexandre Nero) em Ompério (2014) 4. Como Griselda de Fina Estampa (2011) 5.Catarina (Lilia) e Mariana (Clarice Falcão) em A Favorita (2008) 6. Almedina, mãe de Lilia, aos 69 anos (Foto: Divulgação) — Foto: Marie Claire

MC Do que lembra da sua infância na Vila Romana?
LC Eu tinha os amiguinhos da rua, mas meus pais eram bravos, só me deixavam brincar meia hora. Aí, quando eu tinha 10, 11 anos, fui estudar na Escola Experimental da Lapa e minha cabeça mudou. Ainda cometia muitos erros porque, na minha casa, não tinham me ensinado como era ser gente. Mas comecei a me sentir um ser humano pensante.

MC Que tipo de erros?
LC Eu era agressiva. Aí comecei a mostrar na escola coisas que não podia mostrar em casa, e os professores perceberam que eu era uma pessoa criativa. Que gostava de esportes, de artes... E foram me dando tarefas para aliviar minha forma de ser. Cuidava do jornalzinho, fazia teatro... Fui me descobrindo. Com 15 anos, já sabia que queria ser atriz.

MC Como seus pais reagiram?
LC Meu pai não aceitava. Dizia que era uma profissão que desqualificava a mulher, que eu seria “mulher da vida”. Então, com 18 anos, entrei em jornalismo na [Faculdade] Cásper Líbero. Mas, como era à noite, ele não me deixou fazer. Daí fui para a Belas Artes. Era uma licenciatura curta, e pensei que, se minha vida desse errado, poderia dar aula de educação artística. Mas eu não queria ser professora, queria ser atriz. Meus amigos então me convenceram a procurar a Escola de Artes Dramáticas da USP. E, escondida dos meus pais, tranquei o outro curso e comecei a estudar teatro.

MC Como eles descobriram?
LC Descobriram quando contei. Eu já estava começando a fazer peças, sendo chamada para comerciais... Estava me expondo, não tinha mais como enganá-los. Aí fui convidada para fazer a novela Os Imigrantes, na Bandeirantes. Aproveitei a deixa para dizer que ia contar a história deles na TV, que eles veriam que tudo que pensavam da profissão não era verdade. E aí eles começaram a entender. Meu pai até foi me ver em Feliz Ano Velho. Depois, levamos o espetáculo para o Rio e não voltei mais para São Paulo. Já estava namorando, fazendo a minha vida, sabe?

MC E seu pai aceitou numa boa?
LC Não. Ele dizia que não queria que eu tivesse essa vida distante. No entendimento dele, era como se eu fosse uma “mulher da vida”. Me ameaçou, disse que, se eu não voltasse, nunca mais pisaria em casa. Então, rompi com ele. Estava no Rio de Janeiro, com uma mão na frente e outra atrás, mas tinha coragem de viver.

MC E não se falaram nunca mais?
LC Só depois que minha mãe morreu. Com ela eu falava sempre. Até me visitar escondida no Rio ela foi. Contava que via na novela, mas desligava a TV quando ele chegava. Era muito triste. Quando eu ia para São Paulo, não podia ir em casa porque ele era violento e eu tinha medo que fizesse alguma coisa, me batesse...

MC Ele batia na sua mãe?
LC Não batia, mas xingava, falava coisas que mulheres não deveriam ouvir.

Lilia Cabral (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire
Lilia Cabral (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire

MC Era abusivo?
LC De alguma maneira, sim. Eu tinha medo porque não sabia qual seria a minha atitude se ele me agredisse. E não queria fazer com que a minha mãe sofresse mais. Quando ela ficou doente, com câncer no pâncreas, falei: “Vou para São Paulo de qualquer jeito. Dane-se se ele não quiser me receber”. Cheguei lá, e meu pai me disse que tudo o que estava acontecendo era culpa minha.

MC A doença da sua mãe?
LC A doença, tudo. Mas não quis me desgastar por algo que não tinha um movimento de melhora. Minha mãe faleceu muito rápido, em seis meses. Para mim, a causa da doença foi a grande tristeza que ela viveu. Ela foi engolindo muita coisa, ao lado daquela pessoa com aquela forma de pensar.

MC Aí que você teve depressão e síndrome do pânico?
LC Sim. Me afastei da minha mãe durante dois anos, foi dolorido. De repente, quando voltei, ela estava doente e eu não pude aproveitá-la. Eu estava começando a fazer papéis melhores na TV e no teatro. Não deu tempo de dar a ela tudo o que pensei que daria um dia. Então, me sentia culpada. Tinha taquicardia, medo de sair de casa, de me expor. Tinha medo de que alguma coisa ruim acontecesse comigo. Aí fui para a terapia, tomei meus remédios e melhorei.

MC É verdade que o pânico voltou na pandemia?
LC Não é que voltei a ter síndrome do pânico, mas o medo que sentia me fez lembrar de alguns momentos do passado. Via gente morrendo e pensava: “Vai acontecer comigo, com alguém que amo”. Mas voltei para a terapia e me segurei. Aí veio o trabalho, a peça com a Giulia...

MC A relação com seu pai mudou com a morte da sua mãe?
LC Voltamos a nos falar, mas ele quis morar num sítio que construiu, no interior de Minas Gerais. Depois de sete anos, morreu de diabetes. Mas não é que ele teve a doença e morreu. Ele perdeu o dedo, depois um pedaço da perna e deu septicemia [infecção no sangue]. Foi perdendo a vida por pedaços. Isso é tão significativo. Se eu tivesse falado para ele todas as verdades que queria, o que ia adiantar? A vida o ensinou de outra forma.

MC Você guarda rancor?
LC Trabalhei bastante para não ter esse tipo de sentimento. Não falo com arrependimento, raiva ou dor pelo que passei. Essa é a história da minha vida. Vivi a morte da minha mãe, depois a do meu pai, e aí veio o meu casamento, minha filha. Foi uma renovação interessante. Quando olho meu arco dramático, tive muitas perdas, mas depois a vida falou: “É agora!”. E aí veio a beleza da família e da profissão.

MC Apesar de ter feito tantos papéis importantes, foi só aos 54 anos que você ganhou sua primeira protagonista, a Griselda de Fina Estampa. Se perguntava o porquê?
LC Pensava que tudo tinha seu tempo, mas me questionava, sim. Às vezes, ficava meio chateada, porque achava que tinha condições e não rolava. Mas os autores nunca deixaram de acreditar em mim, especialmente o Manoel Carlos. Fizemos História de Amor, Laços de Família, Páginas da Vida e Viver a Vida.


MC Qual foi a sensação quando recebeu o convite?
LC Duvidei até o último momento. Pensei: “Será que isso vai acontecer mesmo?”. Quando me vi, já estava vestida com o macacão da personagem, gravando. O reconhecimento veio de imediato, principalmente por conta das mulheres que lutam para dar dignidade e sobrevivência aos filhos. Fui muito feliz em Fina Estampa.

MC Como avalia esse momento em que as emissoras e os artistas estão optando por contratos curtos, por obra? Conseguiria trabalhar desta forma?
LC Ainda tenho mais dois anos de contrato com a TV Globo, não penso nisso. Não vou sofrer por antecipação porque é burrice. Acho que o que está acontecendo com a televisão e com os atores, de forma geral, é um movimento positivo. O mundo mudou e a gente tem que acompanhá-lo. Para os jovens não será um problema, porque esse tipo de contratação é também uma opção deles. Talvez seja um pouco mais sofrido para quem fez muita história na televisão. Mas essas pessoas precisam entender que as histórias delas continuam, porque a televisão não vai deixar de existir.

MC No Instagram, você postou um vídeo em que a Laura Cardoso diz que “hoje em dia há pressa em ser ator para poder comprar carro, ter sofá branco e aparecer no vídeo”. Me fala mais sobre isso?
LC Só acredito em uma profissão quando há estudo e conhecimento. Porque, se você quiser ser só celebridade, depois de um tempo, vai passar. Nossa profissão é muito bonita e tem que ser respeitada. Não é qualquer um que pode ser ator. Quanto a conseguir trabalho com rapidez, sendo influencer ou saindo de um reality… Bom, a gente só sabe se a pessoa vai ter capacidade de atuar com o tempo. A Grazi Massafera quando começou foi estudar. Hoje vejo na Grazi uma atriz. Ela fez um trabalho lindo em Verdades Secretas. Para você ver que têm histórias e histórias. Não cabe a mim julgá-las.

Lilia Cabral (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire
Lilia Cabral (Foto: Marina Zabenzi (Thinkers Mgmt)) — Foto: Marie Claire

MC A Favorita está no ar em Vale a Pena Ver de Novo. Na novela, você interpreta Catarina, uma mulher que sofre violência doméstica. Apesar da trama ser de 2008, esse assunto continua atual. Como tem recebido essas últimas notícias de violência contra a mulher?
LC Com medo, porque a gente não sabe mais em quem confiar. Não dá para confiar no médico, no advogado, no ginecologista. Em 2008, quando gravamos a novela, fiz uma campanha grande [a favor do direito da mulher] e a violência doméstica diminuiu 25%. Lembro que mulheres vinham me contar na rua que os maridos batiam nelas. Tentava ajudar encorajando-as a denunciá-los.

MC Você acabou de completar 65 anos. Como se sente?
LC Com a idade eu lido muito bem, não me incomoda nem um pouco, o problema são as dores. Ai meu Deus, já não posso mais ficar no sereno, como dizia minha mãe [risos]. Minha cabeça está ótima e estou feliz. Minha prioridade é viver bem.

MC Em entrevista recente à Marie Claire, Marieta Severo disse “posso estar toda enrugada, mas quero todos meus neurônios funcionando”. Como lida com as marcas do tempo no rosto?
LC Não lido. Olha só minha cara, estou ótima. Não tenho botox, plástica, nada. Primeiro porque dói. Uma vez fui tentar fazer um laser e voei na médica. Pedi para parar. Segundo, porque minha idade vai acompanhando meus personagens. Ainda posso fazer uma mulher de 50 e poucos anos, vou dar conta. Minha cara não vai parecer velha. Mas não posso fazer uma de 40. Se pudesse dizer o que interromperia na vida de um ator seria a harmonização facial, essa coisa de deixar o queixo quadrado. Tem que tomar cuidado!


MC Conta então da sua relação com o bem-estar?
LC Passo sérum para manchas, lavo bem o rosto, faço limpeza de pele, massagens faciais. Não sei se adianta, mas me dá prazer. Tenho me exercitado menos agora, porque tive um probleminha na coluna que quase me causou uma hérnia, então estou fazendo RPG e fortalecimento. Também gosto muito de andar.

MC Você está casada com o Iwan há 28 anos. Qual o segredo de uma relação duradoura, como a de vocês?
LC Acho que é o respeito. Olhar o outro como um companheiro e ter cumplicidade todos os dias. Mesmo quando as opiniões são diferentes. Em um bom relacionamento nunca existe o vencedor da discussão. Tem o acordo. Porque se você quiser ganhar, não vai dar certo. Já enfrentei tantas coisas na minha vida, já dei tantos bastas que, quando encontrei a possibilidade de me aquietar, de ter uma família e um crescimento pessoal, apostei. E apostei certo.

MC Estamos em ano eleitoral. Enquanto cidadã, o que espera para o país?
LC Não sou a favor do governo que está aí, mas estou otimista, acreditando que o Brasil vai mudar e que esse governo não vai permanecer no poder.

MC A Lista foi feita com dinheiro próprio, sem leis de incentivo. Foi uma escolha sua?
LC Pois é, dinheiro do nosso bolso. Olha o teatro como voltou com força total [pós-pandemia]. Você viu a minha peça, estava lotada. É uma resposta de como o público necessita de cultura. Como seria importante a gente ter um país que pensasse nisso. Quanto à Lei de Incentivo, fico péssima quando dizem “a mamata acabou”. Essa frase maltrata, diminui, castiga o nosso lado artístico. Ninguém se aproveita do dinheiro público, é muito difícil isso acontecer. A gente não usa o dinheiro da Lei Rouanet como quer, a gente tem que provar como está usando esse dinheiro. Ninguém enriqueceu, ninguém ficou milionário com isso. Vamos ver se os deuses do teatro agem. Porque, quando desmerecem a nossa profissão, eles entram em cena. E eles já estão dando pistas de que estão atentos.

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