• Redação Marie Claire
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A autoestima está ligada à relação que estabelecemos com o mundo (Foto: Getty Images)

A autoestima está ligada à relação que estabelecemos com o mundo (Foto: Getty Images)

“Sermos nós mesmas faz com que nos isolemos de muitos outros, mas ceder aos desejos dos outros faz com que nos isolemos de nós mesmas. É uma tensão, e que precisa ser suportada, mas a escolha é clara.”

A provocação é feita por Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que Correm com os Lobos (ed. Rocco, 576 pág.), livro que virou best-seller durante a pandemia. Lançado em 1992, a obra traz um tema sempre atual pela forma como aborda a autoestima.

Do início dos anos 90 para cá, é certo que evoluímos em debates como independência e entendimento sobre os direitos das mulheres, mas ainda estamos sujeitas aos efeitos da estrutura patriarcal que nos faz questionar vontades, decisões, autoimagem, e nubla a forma como olhamos para nós mesmas. 

É preciso, antes de tudo, compreender que “ter autoestima” não é sobre manter uma rotina de skincare, fazer o tutorial da maquiagem da moda ou manejar truques para perder peso, como a ideia foi vendida por muito tempo. 

Desatrelada da subserviência à aparência e  aos padrões de beleza, a autoestima na verdade diz de nosso estar no mundo, de como nos relacionamos com o nosso redor, de como nos vemos capazes de reconhecermos nosso próprio valor dentro dele. E isso reflete diretamente na autoimagem e, logo, nos posicionamentos, relações afetivas, profissionais, familiares, amizades... Ou seja, atravessa todos os aspectos da vida.

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Durante a pandemia de covid-19, muitas se viram obrigadas a olhar para si sob novas perspectivas e refletir sobre prioridades e o que se valoriza na vida. Não à toa, nesse momento a obra de Clarissa ganhou novo fôlego e voltou à lista dos livros mais vendidos.

Nascida nos EUA, a psicóloga junguiana lança mão de fábulas, mitos e arquétipos de origens indígenas e latinas que pesquisou e reescreveu para mostrar como, muitas vezes, as mulheres tomam caminhos na vida sem terem consciência e compreensão do que está acontecendo. 

Falar de autoestima, a essa altura, parece algo batido, desgastado. Não é. É, sim, um tema apropriado e explorado, especialmente em campanhas publicitárias, que surge facilmente em rodas de conversa dos mais variados tipos e que, se bem debatido, permite  elevar e libertar mulheres de todo o mundo.

Até porque colocar-se em primeiro lugar, especialmente para alguém que se identifica com o gênero feminino, ainda é visto como um ato egoísta. E olhar para a própria autoestima pede constância: como organizamos a nossa rotina para que nós mesmas caibamos nela? Nosso bem-estar mental e emocional é prioridade? Estabelecemos limites? Ou ainda estamos presas ao desejo de agradar os outros?

Por ser tão complexo e pedir diversos pontos de vista, o tema da autoestima merece dedicação. É por isso que selecionamos livros que servem como porta de entrada a essa investigação. Aqui, as nossas recomendações:

Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés

A  doutora parte da psicologia analítica junguiana para abordar o conceito de “mulher selvagem”, uma força interna da psique feminina que foi sobrepujada pela sociedade patriarcal. O livro é denso e repleto de contos, com imagens alegóricas e simbolismos, conduzindo para um mergulho dentro de nós mesmas.

A obra ajuda a entender aspectos inconscientes que influenciam na autossabotagem, fazendo com que abandonemos o nosso lado criativo e instintivo, tão fundamentais para reconhecer nosso próprio valor e construir a nossa autoestima.

Falso Espelho, de Jia Tolentino

Já ouviu falar no termo “Fenômeno de Impostora”? Refere-se a um sentimento de não se sentir segura ou não confiar nos próprios talentos, ideias e capacidade, como se a pessoa não fosse digna das próprias conquistas e talentos.

Com uma linguagem fácil, a jornalista norte-americana Jia Tolentino, que tem raízes asiáticas, reúne ensaios nesse livro para transformar a visão que temos de nós mesmas e do mundo, pois a baixa autoestima é um reflexo de uma autoimagem distorcida negativamente.

Mito da Beleza, de Naomi Wolf

É difícil, mas não impossível separar a autora da obra. Ainda que a jornalista norte-americana tenha se mostrado, recentemente, uma antivax de carteirinha, a obra feita na década de 1990 (e já revista para acrescentar outros pontos de vista) é forte por denunciar como as imagens e padrões de beleza foram impostos às mulheres.

E, adiante, como elas nos aprisionam e servem para todo o entorno social medir nosso valor. Quando as mulheres atribuem valor a si mesmas de acordo com os padrões físicos socialmente impostos, são incentivadas a competir de forma não natural e se colocar à mercê de aprovação de terceiros.

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Circe, de Madeline Miller

Uma inspiração literária e mitológica para refletirmos sobre autoestima. Escrito por essa expert em mitologia grega, o livro foi elogiado pelo jornal New York Times por trazer questões atualíssimas.

A personagem principal, Circe, é uma bruxa e feiticeira, mas que demora em dar-se conta de seus poderes porque não acredita em si mesma e não consegue reconhecer o seu potencial. Sempre se comparando com os irmãos e se diminuindo em relação às outras deusas por não ser tão bela, Circe narra sua jornada de como descobriu a própria força.

Jamais Peço Desculpas por me Derramar, de Ryane Leão

Escrita por uma mulher preta e brasileira, que ficou conhecida por sua poesia, primeiro pelo Instagram, e depois pelo livro Tudo Nela Brilha e Queima. Os poemas soam como palavras que rasgam do peito para aceitarmos e reivindicarmos tudo aquilo que já somos e que ainda merecemos ser.

É como um grito de autoestima! Para um spoiler do que você pode encontrar em sua obra, acompanhe o perfil da escritora @ondejazzmeucoracao.