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Empreendedoras e autônomas contam como sobreviveram à pandemia (Foto: Getty Images)

Imagem ilustrativa (Foto: Getty Images)

“Ao ficar desempregada e vivendo com um ser autoritário, me vi deprimida e sem orientação. Me dediquei ao artesanato mais como fuga. E acabou se transformando num negócio. Mas nunca parei, dava aulas, consertava computadores e fazia diversos bicos”. A fala é de uma mulher entrevistada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME).

Três em cada dez mulheres que empreendem no Brasil já foram vítimas de violência doméstica, mostra pesquisa do Instituto. O levantamento anual “Mulheres Empreendedoras” traz um perfil sobre o empreendedorismo feminino no país, abordando desde as dificuldades pontuais que encontram quando começam a empreender até os impactos que a geração de renda tem no fim de ciclos de violência. Foram escutadas 2.736 mulheres e 313 homens entre maio e junho deste ano.

De um universo de 2.423 mulheres entrevistadas que afirmaram ter sofrido agressões nas relações conjugais, 48% (783) disseram que conseguiram se libertar dessa situação no momento em que passaram a empreender.

Do total, oito em cada dez acreditam que ter o próprio negócio favorece também a independência delas em seus relacionamentos afetivos, como a determinação de sair do relacionamento. A busca por independência foi o principal motivo alegado pelas dirigentes para iniciar o próprio negócio. A grande maioria conduz varejos nas áreas de alimentação e vestuário, e o uso de aplicativos de mensagens e redes sociais estão entre os principais meios utilizados para o comércio. Além de promover autonomia financeira, Ana Fontes, fundadora do Instituto, afirma que muitas se sentem também mais seguras e confiantes.

"De forma geral, as mulheres se sentem mais independentes, confiantes e seguras quando têm uma geração de renda própria, permitindo que ela mude sua condição dentro de relacionamentos abusivos."

Ana Fontes, fundadora do Instituto Rede Mulher Empreendedora

Embora o diagnóstico da pesquisa demonstre o potencial transformador na realidade de mulheres em contextos de violência, ele traz também os empecilhos mais comuns para as empreendedoras, como acesso ao crédito.

“Mesmo com autonomia e independência financeira, as mulheres ainda têm dificuldade em conseguir acesso a crédito. 47% das empreendedoras que participaram da pesquisa e que solicitaram crédito, tiveram seus pedidos negados. Essa conta não fecha, não é mesmo?”

Outra queixa frequente é a dificuldade de conciliar os cuidados com a casa e a família e o trabalho, o que sinaliza a persistente desigualdade de gênero. E por isso, se sentem mais sobrecarregadas.

Quanto menor os filhos, maiores os obstáculos: 50% das entrevistadas informaram que o fechamento das escolas teve consequências em sua rotina de trabalho, especialmente para aquelas com filhos entre 3 e 11 anos.

Já 79% reconhecem que os efeitos são maiores e mais prejudiciais aos seus empreendimentos do que de seus parceiros, enquanto 32% disseram que o parceiro já sentiu ciúmes delas em razão da dedicação ao negócio. E 60% manifestaram o desejo de que seus companheiros ajudassem mais nas tarefas domésticas.

O Instituto indica também que é mais frequente empresas com mulheres na liderança terem equipes majoritariamente femininas. Enquanto apenas 21% dos empreendimentos liderados por homens tinham um quadro maior de mulheres, no cenário oposto, com mulheres na direção, o índice chegava a 73%. Um comportamento semelhante foi observado na escolha de membros societários: 44% das mulheres têm outras gestoras sócias no empreendimento. O retorno para a comunidade, também costuma ser maior, alega Ana.

“A mulher quando melhora suas condições, principalmente financeira, investe mais na educação dos filhos, apoia sua comunidade, assiste seus familiares. Além disso, a mulher contrata outras mulheres que vão reagir a essa melhora da mesma forma, potencializando mais pessoas.”