Vacinação

Por Talita Fernandes


A retomada da alta cobertura vacinal no Brasil está entre as prioridades do novo governo. Para esse plano dar certo, as mulheres são vistas como peça-chave, já que são o principal alvo de campanhas de notícias falsas sobre imunizantes. Além disso, ainda reside nelas o peso do cuidado familiar, sendo as principais responsáveis por cuidar da vacinação de crianças e idosos da família. Em entrevista coletiva para apresentar as metas dos 100 primeiros dias da gestão, a ministra Nísia Trindade decidiu deixar isso bastante claro. Ela falou aos jornalistas — em conversa transmitida ao vivo pela TV Brasil — usando um broche do ilustre Zé Gotinha pregado no peito.

Nísia Trindade, ministra da Saúde, afirmou que a saúde das mulheres terá foco especial durante sua gestão, o que inclui prioridade no plano de vacinação — Foto: Ute Grabowsky/Photothek/Getty Images
Nísia Trindade, ministra da Saúde, afirmou que a saúde das mulheres terá foco especial durante sua gestão, o que inclui prioridade no plano de vacinação — Foto: Ute Grabowsky/Photothek/Getty Images

"A [vacina contra a] covid vai estar no calendário regular de imunizações, mas temos a tarefa de recuperar as grandes coberturas vacinais no Brasil. O foco da vacina na infância é muito importante também", disse a ministra em resposta a uma pergunta sobre quais são os desafios iniciais da Saúde.

Nísia é a primeira mulher a ocupar o Ministério da Saúde e, em sua fala, deixou claro também que a saúde da mulher terá um foco especial na sua gestão. Prometeu ainda uma atenção especial à saúde das mulheres negras e indígenas, historicamente negligenciadas. Embora a ministra não tenha deixado claro quais serão as mudanças feitas ao calendário vacinal, disse que um plano será apresentado em breve, após aprovação do comitê técnico científico da pasta.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, a priorização da saúde da mulher com a intenção de elevar as taxas de vacinação no país andam de forma conjunta. "A mulher tem características peculiares, é uma maior cuidadora da própria saúde e cuidadora da saúde da família. Em geral, uma mulher bem orientada, o que o ginecologista fala ela faz. Não só faz como carrega o marido, os filhos, os sogros. É claro que existem famílias diferentes, contextos familiares diferentes, mas de uma maneira geral as mulheres são maiores cuidadoras da família", acrescenta Mônica.

Questionada se há diferenças sobre a vacinação da mulher, Mônica explica que, no geral, as cadernetas vacinais para homens e mulheres se assemelham. Ela destaca, contudo, que para as gestantes há um cuidado especial. Por isso, a presidente da SBIm diz que é importante que os médicos reforcem durante os atendimentos a necessidade de mulheres em idade fértil estarem imunizadas com todas as vacinas, sobretudo aquelas que não podem ser aplicadas durante a gravidez, como rubéola, febre amarela, e outras de vírus ativado. "Tudo precisa ser atualizado o mais precocemente possível porque muitas gravidezes não são planejadas", acrescenta.

Ao comentar ajustes que podem ser feitos, a médica diz que o SUS hoje não tem nenhuma diretriz clara para as mulheres trans ou mesmo para os homens trans. E pondera que neste governo isso deveria avançar, já que há uma predisposição maior ao debate envolvendo questões de gênero do que na administração anterior.

Mas ela diz que é preciso que os profissionais de saúde também tenham esse cuidado. Como exemplo, cita o fato de que, até o ano passado, havia uma diferenciação para a vacina do HPV para homens e mulheres imunossuprimidos. Enquanto mulheres nessas condições poderiam se vacinar até os 45 anos, aos homens, o imunizante era limitado aos 26. Não havia um entendimento claro de como seria o procedimento em relação a pessoas trans.

A médica afirma que, para além da importância do papel do governo na criação de uma política pública clara sobre vacinação, os profissionais de saúde precisam estar orientados para cobrar e lembrar os pacientes sobre a manutenção das vacinas atualizadas. "Uma das principais causas de morte é infecção, e muitas que são preveníveis por vacina, os médicos precisam lembrar sempre."

A fala de Mônica encontra eco no que Cintia Lucci, diretora de Projetos Estratégicos do Butantan, disse em entrevista a Marie Claire. O Butantan é responsável pela manufatura de 60% das vacinas adquiridas pelo Programa Nacional de Vacinação (PNI), do governo federal. E, segundo a diretora, além de atuar na produção das vacinas, a instituição vem buscando uma forma de conversar com vários representantes da sociedade em torno do debate da produção e das políticas de vacina no país.

"O Butantan faz a parte de manufatura [além de pesquisa], mas a gente tem mudado essa visão porque entende que pode contribuir não só com questões de saúde pública, mas como um player que discute e que se envolve mais com os agentes da saúde para direcionar os nossos investimentos", acrescenta.

Segundo Cintia, essa é uma tentativa de reduzir os custos de informação, centralizando dados para direcioná-los de forma consolidada na elaboração das políticas públicas. Recentemente, o Butantan elaborou seminários e enviou sugestões ao gabinete do governo de transição. "Existem informações, mas são relativamente dissipadas. A gente está juntando quem fala sobre o assunto e estamos fazendo esse esforço", acrescenta, dizendo que o material elaborado é resultado de conversas com diversos agentes e com organismos multilaterais, como a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) e com base em dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Neste aspecto, Cintia acrescenta que uma das sinalizações recebidas pelo Butantan do Ministério da Saúde é a priorização da vacina contra o HPV. O imunizante está entre os produzidos pela instituição e é disponibilizado no Brasil na rede pública gratuitamente para meninos e meninas entre 9 e 14 anos. Mulheres e homens imunossuprimidos podem ser vacinados até 45 anos. Para os demais casos, há apenas a vacina na rede privada.

A diretora destaca a importância da vacinação contra o HPV porque está nela uma das principais formas de eliminar uma doença letal: o câncer de colo de útero.

"A cada dois minutos morre uma mulher no mundo, e a cada duas horas morre uma mulher no Brasil [de câncer de colo de útero]. Existe uma vacina para uma das maiores causas de morte de mulheres no Brasil e no mundo, tem solução. Chega, vamos vacinar. Não é um produto caro, não é uma terapia invasiva. É uma vacina que já existe", acrescentou.

Cintia reforça que o período da pandemia teve grande disseminação de notícias falsas envolvendo vacinas, o que é também observado por Mônica, lembrando que esse tipo de desinformação vem ainda de antes. Ela diz que a melhora da cobertura vacinal não depende apenas do acesso à vacina, mas sobretudo, da comunicação. Um desafio enfrentado pelo governo será reestruturar e atualizar a forma de se comunicar com a população, na visão da médica.

"O principal é a comunicação, com combate às fake news. Os brasileiros precisam voltar a acreditar nas vacinas e no PNI. Com a Covid e com a pandemia, surgiram muitas fake news, e isso respingou para outras vacinas. Além disso, comunicação não é mais uso de televisão e rádio, vai ter que descontruir fake news distribuídas em grupos de WhatsApp de mães, por exemplo."

A vacina contra HPV, bastante importante para as mulheres, é alvo desse tipo de desinformação desde antes da pandemia. Um caso no Acre, em que se espalhou falsamente que o imunizante estaria provocando desmaios de jovens, gerou uma série de desinformação e alarmismo, o que depois se demonstrou infundado. As entrevistadas lembram que é justamente no Norte, em que há maior número de mortes por câncer de colo de útero, um tipo de tumor que pode ser 100% evitado por meio de vacina e do rastreamento por meio de papanicolau.

De acordo com Cintia, os dados levantados pelo Butantan mostram que houve grande queda na distribuição do imunizante. "Nossa cobertura está em 58%. Em 2014, quando começou a vacinação no Brasil, foram 11 milhões de doses distribuídas. Em 2022, apenas 4,2 milhões de doses. Está, de fato, caindo."

Consultado sobre o calendário vacinal e as mudanças que podem ser feitas no PNI, o Ministério da Saúde não respondeu a reportagem.

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