Saúde
Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo

A psicóloga e neurocientista belo-horizontina Ailla Pacheco, 34, tinha 30 anos quando foi diagnosticada com hepatite fulminante e, posteriormente, descobriu que o quadro derivou de uma hepatite autoimune. Por causa da doença, Pacheco passou por um transplante de fígado que representou um divisor de águas na sua vida. Hoje, ela luta para garantir mais saúde mental a pessoas transplantadas como ela.

Pacheco relata que os sintomas da hepatite fulminante começaram ainda na pandemia da Covid-19, o que fez com que ela demorasse para procurar o pronto-socorro. A orientação dos médicos e cientistas era evitar a emergência diante de casos que não fossem graves. Só que o dela era.

“Fiquei 15 dias com sonolência, inchaço abdominal, enjoo, falta de apetite e pele amarelada. Cheguei a um estado em que se eu encostasse em algum lugar, eu dormiria. Quando fui para o hospital, estava no meu limite”, lembra.

Ao dar entrada no pronto-socorro em agosto de 2020, a psicóloga fez exames de sangue. Quando os resultados saíram, foi encaminhada diretamente para a internação. A bilirrubina, um dos indicadores da saúde do fígado, estava muito alterada. Constatou-se também que ela estava com sepse, uma infecção generalizada.

No primeiro hospital, onde permaneceu por dez dias internada, suspeitaram que seu quadro era de pedra na vesícula e até chegaram a preparar Pacheco para a cirurgia. Mas conforme o tempo foi passando, os médicos foram entendendo que não era exatamente esse o seu caso.

Ainda sem um diagnóstico fechado, mas com a função hepática cada vez pior, a psicóloga foi transferida para outro hospital porque havia chances dela precisar de um transplante de fígado e no que ela estava, o procedimento não era realizado.

No segundo hospital, ainda em Belo Horizonte, Pacheco descobriu que estava com hepatite fulminante. “Trata-se de uma inflamação do fígado, que leva rapidamente à insuficiência funcional do órgão. É uma situação sempre muito grave, pois o fígado é um dos órgãos fundamentais para a manutenção da nossa vida”, explica o hepatologista Luis Edmundo Pinto da Fonseca, do centro especializado em aparelho digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

“Fiquei internada por quatro meses e foi um período muito difícil. A hepatite fulminante me fez parar de andar, de comer, de falar�� Fui gradualmente morrendo aos poucos. Até que eu cheguei em um quadro de encefalopatia hepática, que é como se eu entrasse naturalmente no estado de coma”, relata. A psicóloga foi encaminhada para o Centro de Terapia Intensiva (CTI), onde permaneceu 50 dias, sendo 40 desacordada, e precisou passar pelo transplante de fígado, em outubro de 2020.

Pacheco durante a internação — Foto: Arquivo pessoal
Pacheco durante a internação — Foto: Arquivo pessoal

Sintomas da hepatite fulminante

A hepatologista Carolina Pimentel, médica do serviço de transplante hepático do Hospital Israelita Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), explica que um dos desafios do diagnóstico da hepatite fulminante é o fato de que, no começo, ela pode ser assintomática. Isso faz com que a pessoa procure ajuda médica só quando o quadro já está mais desenvolvido.

Quando os sinais da doença começam a aparecer, Pimentel cita que o alerta mais importante é a icterícia ocular, isto é, quando a esclera dos olhos (a parte branca) fica amarelada. Essa alteração na coloração ocorre devido ao excesso de bilirrubina no sangue e, consequentemente, inflamação aguda do fígado.

A hepatite fulminante também pode estar associada a sintomas inespecíficos, como mal-estar geral, moleza, náusea, dor abdominal, e febre.

“Isso acontecer porque a hepatite fulminante pode surgir devido a quadros relacionados a hepatites virais, ou seja, vírus principalmente que têm uma predileção para agredir o fígado, como hepatite A e B. São situações virais que podem se manifestar, às vezes, com sintomas muito inespecíficos no início da sua infecção”, esclarece Pimentel. Vale lembrar que julho amarelo é o mês da conscientização das hepatites virais.

Segundo Fonseca, a hepatite fulminante também pode ser desencadeada por medicamentos e substâncias químicas, doenças metabólicas (como a Doença de Wilson) e hepatite autoimune. O caso de Pacheco é o último.

“A hepatite autoimune é uma doença do fígado na qual a agressão ao órgão é causada pelo próprio sistema imune do paciente, como se ele passasse a considerar o seu fígado como um tecido estranho. Exceto quando há um quadro súbito e intenso, ela é assintomática durante anos. Os sintomas aparecem apenas quando o quadro já está avançado”, esclarece o hepatologista.

Tratamentos para hepatite fulminante

Pimentel explica que o tratamento da hepatite fulminante vai depender da causa da doença. Como no caso de Pacheco, em que há ligação com a hepatite autoimune, a primeira intervenção se dá com corticóide e medidas de suporte para que o paciente tenha condições de tentar se recuperar sozinho.

Só que há casos em que o transplante de fígado se faz necessário, como foi o caso da psicóloga. “A fila de transplante no Brasil e no mundo é feita através de gravidade, isto é, transplanta primeiro quem tem mais risco de morrer em curto espaço de tempo. Dado que a hepatite fulminante é um caso de extrema mortalidade, em que os pacientes podem vir a óbito em 24, 48, 72 horas, é dado a eles um critério de priorização”, esclarece Pimentel.

Isso faz com que quem tem hepatite fulminante passe à frente da maioria dos pacientes, ficando lado a lado apenas de quem divide o mesmo diagnóstico. A priorização desses indivíduos é nacional e não só regional. Em outras palavras, eles podem receber o órgão de qualquer parte do Brasil.

O transplante de fígado de Pacheco foi realizado 24 horas depois da entrada na fila de espera. No caso da psicóloga, ela precisou da doação do órgão completo e não apenas uma parte, como pode acontecer. Dessa forma, o doador precisou ser falecido.

“Passei meu aniversário em coma, desacordada. Quando acordei, no CTI, tinha um balão com a minha nova idade e a minha irmã me entregando meu novo livro, emocionada, dizendo que eu consegui e que eu voltei para vê-lo nascer. Aquele momento significou Deus me entregando uma nova vida, um livro em branco repleto de novas oportunidades para viver”, lembra a psicóloga com a voz embargada.

Pacheco na capela do hospital — Foto: Arquivo pessoal
Pacheco na capela do hospital — Foto: Arquivo pessoal

O processo de recuperação após o transplante de fígado não foi fácil. Embora realizada por ter voltado à vida, a bela-horizontina passou por um longo período de reabilitação para reaprender a fazer o básico como comer, falar e andar. O processo começou no hospital e continuou em casa.

“Quando olho para trás, vejo que o transplante foi um divisor de águas na minha vida. Se ele não tivesse me acontecido, talvez eu estivesse em um relacionamento em que eu não era amada de verdade, não teria conseguido estabelecer o foco do que eu realmente queria trabalhar, e cuidar mais de mim”, reflete.

Atualmente, ela se dedica a pesquisas na área de transplante e doação de órgãos a partir da perspectiva da saúde mental dos pacientes transplantados. Seu trabalho é voltado à neuromeditação destinada a esse público, a fim de trazer mais resiliência durante a jornada de tratamento.

“Descobri que sou mais uma humana do que todos pensam e que cicatriz não se forma em alguém que morreu. Ela significa que eu sobrevivi e que eu precisava começar de novo. Daqui para frente, a ideia é criar políticas públicas em saúde mental para pacientes transplantados”, defende Pacheco.

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