O Brasil celebra o Dia da Visibilidade Trans neste dia 29 de janeiro. A data rememora e enaltece a vida e trajetória de ativismo de pessoas trans, travestis, transmasculinas e transvestigêneres, bem como momentos históricos que ajudaram a pavimentar os caminhos para a construção de conquistas de direitos no país e no mundo.
A seguir, uma lista de 15 mulheres trans e travestis – e seus feitos surpreendentes – em solo nacional e internacional.
Xica Manicongo
Figura histórica brasileira, Xica, que viveu no século 17, foi considerada a primeira travesti não indígena em solo brasileiro. Mulher negra congolesa, foi sequestrada e escravizada. Viveu em Salvador, onde trabalhou como sapateira na Cidade Baixa. Se recusou a usar nomes masculinos impostos a ela e se manteve usando roupas femininas, o que a fez ser perseguida judicialmente e acusada de feitiçaria. Foi forçada a se domar dentro do estilo de vida dos homens e, por fim, condenada a ser queimada viva em praça pública.
Lili Elbe
Lili é reconhecida como a primeira mulher trans no mundo a passar por uma cirurgia de redesignação sexual, em 1930, e a conseguir fazer sua retificação de documentos. Ela passou por todo processo de transição de gênero com o apoio da esposa, a pintora e ilustradora Gerda Wegener. Você talvez conheça a história dela porque é contada no livro A Garota Dinamarquesa, que foi adaptado para o cinema em 2016 -- e causou polêmica ao ter o ator Eddie Redmayne interpretando-a, um dos maiores casos de trans fake no cinema.
Wendy Carlos
A compositora e musicista norte-americana fez história como a primeira mulher trans a vencer um Grammy. Foram três gramofones que venceu com seu álbum Switched-On Bach, de 1968. Mas não só: Carlos foi pioneira por introduzir os sintetizadores à música, mudando para sempre os rumos da indústria fonográfica. Você já deve tê-la escutado no cinema: ela assina as trilhas sonoras de Laranja Mecânica (1971) e O Iluminado (1980), filmes de Stanley Kubrick.
Charlotte von Mahlsdorf
Precursora no ativismo LGBTQIAPN+, nasceu em Berlim, filha de um pai repressor e filiado ao Partido Nazista (que ela matou enquanto ele dormia). Após passar anos em clínicas psiquiátricas e na prisão, foi libertada e passou a colecionar objetos de casas que foram bombardeadas durante a Segunda Guerra. Expôs tudo no Museu Gründerzeit, onde operava, no porão, um bar LGBTQIAPN+ clandestino, que tornou-se um símbolo para a comunidade. Após anos de ataques e perseguições de grupos neonazistas, fechou o museu em 1995 e o inaugurou novamente na Suécia, em 1977.
Marsha P. Johnson
Um dos principais símbolos do ativismo LGBTQIAPN+ no mundo, Marsha foi uma importante ativista que esteve profundamente conectada à luta pelos direitos da comunidade entre as décadas de 1960 e 1990. Além de mulher trans preta, foi uma prostituta, drag queen e modelo, que chegou a trabalhar com Andy Warhol. Também foi uma das figuras mais importantes a participar da Rebelião de Stonewall. Em 1992, seu corpo foi encontrado sem vida no rio Hudson, mas sua morte, até hoje, nunca foi propriamente investigada.
Reneé Richards
Foi a primeira tenista trans a competir nas quadras dos Estados Unidos no torneio U.S. Open. Para tanto, em 1975, realizou uma cirurgia de redesignação sexual e, dois anos depois, enfrentou uma ação na Suprema Corte de Nova York para conseguir o direito de disputar o torneio. Sua atuação no esporte a fez entrar, em 2000, para o Hall da Fama do Tênis. Após a aposentadoria, tornou-se treinadora e ainda atuou como oftalmologista.
Cláudia Celeste
Foi uma cabeleireira, dançarina e atriz carioca. Em 1977, Celeste fez história na televisão brasileira como a primeira mulher trans a atuar em uma telenovela. Foi escalada para Espelho Mágico, do diretor Daniel Filho. No entanto, foi retirada da telenovela após sua identidade de gênero ser divulgada com sensacionalismo pela imprensa. Só voltou às telinhas em 1984 como a trabalhadora sexual Dinorah, em Olho por Olho, da TV Manchete. Fez história novamente como a primeira travesti a ter uma personagem fixa na TV.
Georgina Beyer
Figura proeminente na política da Nova Zelândia, foi a primeira mulher trans em todo mundo a se tornar prefeita (e, até hoje, a única de que se tem notícia). Antes disso, no entanto, trabalhou como atriz, drag queen, apresentadora de rádio e trabalhadora sexual. Em 1995, assumiu a prefeitura da cidade de Carterton, seu primeiro cargo político. Depois disso, ainda permaneceu entre 1999 e 2007 no parlamento neozelandês, pelo Partido Trabalhista da Nova Zelândia. Beyer morreu em março de 2023 aos 65 anos.
Cristina Ortiz Rodriguez
Mais conhecida por seu apelido La Veneno, Rodriguez foi uma cantora, prostituta, atriz e celebridade que marcou a sociedade espanhola nos anos 1990. Seu jeito sem papas na língua transcendeu o cenário europeu e foi considerado transgressor por apontar os dedos na cara da homotransfobia institucionalizada no país. Em 2020, a história da sua vida foi contada na minissérie La Veneno, inspirada no livro ¡Digo! Ni puta ni santa. Las memorias de La Veneno, escrito pela jornalista Valeria Vegas.
Keila Simpson
Uma das mais importantes ativistas travestis do Brasil ainda em atividade, Simpson é presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), importante organização em prol dos direitos de pessoas trans, travestis, transmasculinas e não binárias no país. Também é reconhecida na luta pelo combate ao HIV e por plenas condições de trabalhos de prostitutas, ofício que já exerceu. Em 2022, se tornou a primeira travesti a se tornar doutora honorária do Brasil, além da primeira pessoa trans a receber a honraria em vida.
Jacqueline Charlotte Dufresnoy
Considerada a primeira celebridade trans da França, Dufresnoy era conhecida sob o nome Coccinelle, e foi uma dançarina de cabaré, artista e ativista. Além de ter sido a primeira pessoa trans a fazer a cirurgia de redesignação sexual, foi a primeira a ter o casamento reconhecido pela justiça francesa. Além disso, foi uma das poucas, até os dias de hoje, a conseguir ter o casamento reconhecido pela Igreja Católica Romana. Coccinelle também fundou a ONG Devenir Femme (no português, Tornar-se Mulher), que concedia apoio legal e psicológico a pessoa que optaram por fazer cirurgias de redesignação sexual.
Mais lidas da semana
Majur Harachell Traytowu
Em 2021, em meio a pandemia da covid-19, Traytowu tornou-se a primeira mulher trans a se tornar uma cacica indígena. Ela é líder da aldeia Apido Paru, localizada na Terra Indígena Bororo, em Rondonópolis, no estado do Mato Grosso. Ela iniciou a transição de gênero hormonal depois de assumir o posto após a morte do pai, mas já afirmou em entrevistas que, desde criança, sempre foi aceita pelos indígenas de sua aldeia.
Erika Hilton
A parlamentar é formada em pedagogia e ingressou nos movimentos sociais quando era estudante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Em 2020, foi a primeira travesti eleita a vereadora pela cidade de São Paulo, além da mulher mais bem votada naquele ano. Em 2022, com Duda Salabert, se tornou a primeira travesti eleita como deputada federal da história do país. Na Câmara, também foi a primeira pessoa trans a presidir uma sessão na Câmara dos Deputados. Seu ativismo em prol da comunidade LGBTQIAPN+, das mulheres e pela plena integração e dignidade a populações mais pobres e vulneráveis fez de seu mandato reconhecido mundialmente.
Duda Salabert
De uma longa carreira enquanto professora e política, Salabert também é ambientalista e ativista. Em 2015, anos antes de ser eleita pela primeira vez, fundou a ONG BH Transvest, em que oferecia cursos e troca de saberes para inserir pessoas trans, travestis e transmasculinas na sociedade, além de ter apoiado a comunidade na pandemia da covid-19 com cestas básicas, auxílio financeiro e atendimento psicológico. Em 2020, foi eleita a primeira vereadora trans de Belo Horizonte e, em 2022, ao lado de Erika Hilton, tornou-se a primeira travesti eleita como deputada federal, com mais de 208 mil votos.
Chedino Marti
Ativista nascida em Cape Town, na África do Sul, Marti tornou-se a primeira Miss Trans África da história, em 2022. No ano seguinte, alçou voos maiores ao competir no concurso Miss Trans Global 2023, que leva em conta mais do que atributos físicos, mas as trajetórias pessoais de ativismo e aceitação de mulheres trans e travestis do mundo todo. Ela tinha 40 anos na ocasião.